Miami e Austin, novas “cidades do Silício”, mostram como atraem empresas de TI
Prefeitos Francis Suarez e Steve Adler dividiram um painel no South By Southwest apontando como as cidades lidam com mudanças na cultura e a chegada de uma gama diversificada de pessoas e empresas
Dois anos após o início da pandemia, que marcou uma debandada de empresas e profissionais em função do alto custo de vida no Vale do Silício, duas cidades parecem consolidar sua posição como promissores centros de tecnologia e inovação nos EUA: Austin e Miami. Esta é a visão dos organizadores do South by Southwest, tradicional festival de tecnologia, música e cinema que reúne dezenas de milhares de pessoas do mundo todo ao longo de dez dias, justamente em Austin, cidade que ficou conhecida pelo slogan “Keep Austin Wierd” e que já conta com sede de grandes corporações de TI.
Desde 2020, na era do isolamento social, a ensolarada Miami começou a receber uma grande leva de turistas/migrantes que aproveitavam o clima de praia e calor sem deixar de trabalhar remotamente. Com isso, além de executivos, várias empresas começaram a olhar para o Sul da Flórida como um potencial novo hub para negócios inovadores, com fácil acesso ao mercado latinoamericano e à Europa (em comparação com San Francisco, 3,111 milhas distante da cidade da Costa Leste).
A edição 2022 do SXSW apresentou, durante o primeiro final de semana, um painel com os prefeitos de Miami, Francis Suarez, e de Austin, Steve Adler, para apresentar as oportunidades e desafios destas “novas cidades do Silício”. “As cidades estão inovando e investindo em novas soluções para os problemas geracionais. Devemos ser ágeis e adaptar-nos, em função do poderoso potencial que vem das cidades que colaborem com parceiros dinâmicos do setor privado”, disse Francis Suarez, que também é presidente do Conselho de Prefeitos dos EUA.
Em 2021, as startups do Sul da Flórida receberam mais de US$ 1,3 bilhão em aportes de venture capital, o que fez Miami ser a cidade com maior crescimento de profissionais de tecnologia, um aumento de 15% em comparação com o ano anterior, segundo report do Dealroom. E além dos “unicórnios” já consolidados na cidade (como Kaseya, Pipe, Aleph Holding e Reef), a nova geração de startups traz ideias promissoras.
É o caso da MOGL, uma plataforma que conecta atletas amadores e universitários a marcas e empresas interessadas em parcerias e patrocínios – e que foi uma das vencedoras do 14o. Startup Pitch, tradicional competição no SXSW, no qual empresas em estágio inicial de vários países apresentam seus modelos de negócio a uma banca de avaliação. No início de março, a MOGL fechou uma parceria com a Vintage Brands para ajudar atletas a criarem suas próprias roupas e itens de merchandising.
Por outro lado, os holofotes às cidades trazem também problemas, especialmente o aumento do custo do vida, a falta de residências para atender os novos moradores e a gentrificação – os fatores mais críticos para a perda de interesse de pessoas e corporações por San Francisco e todo o Vale do Silicio. “Vivemos um desafio existencial“, disse o prefeito de Austin, referindo-se à tradição de cidade universitária e artística, mas que precisa gerar infraestrutura para que este perfil cultural não se perca com a nova onda de habitantes. “É quase impossível saber que políticas serão necessárias para os próximos 20 anos, mas podemos entender os valores-chave que estão guiando o desenvolvimento das cidades e nos apegar a eles na hora de criarmos as políticas do momento”, afirma Adler.
Para Suarez, muitas outras cidades americanas estão passando pela “tempestade perfeita” de urbanização e aumento de demanda habitacional, inflação e gentrificação. Segundo ele, em Maimi, estão em construção pelo menos 47 mil unidades residenciais na cidade e outros 6 milhões de metros quadrados de espaço comercial para receber os novos moradores.
Todos os olhos na Web3
No SXSW, temas como NFTs, multiverso e Web3 – tão importantes para os rumos da cena tech de Miami – explodiram como alguns dos mais debatidos e compartilhados mundo afora. O professor Scott Galloway, que publica anualmente um relatório de tendências de tecnologia – acredita que o metaverso vai se consolidar não como no ambiente do filme Matrix, mas como em Ela, de Spike Jonze, em que a voz será a interface dominante.
Os tokens não-fungíveis (NFTs), que Galloway vê como “instrumento de status e capital social, que farão o papel de um carro ou roupa de grife no ambiente digital e que podem monetizar em função da escassez”, não devem ser uma febre duradoura, disse durante painel no SXSW a futurista Amy Webb, responsável pelo estudo anual do Future Today Institute. “Os colecionáveis digitais são valiosos porque, por enquanto, há um mercado para eles. São divertidos, empolgantes e um trampolim para a infraestrutura que está sendo contruída. Mas a analogia com as belas artes não combina”, afirma.
Em Miami, apesar da diversidade dos mercados em que atuam as startups e unicórnios locais, há uma tendência – estimulada também pelo município – de fortalecer o setor de criptomoedas, blockchain e NFT, conectando a nova tecnologia ao forte mercado de artes e design da região. Pioneira na criação de uma moeda digital, a MiamiCoin, a cidade também recebe alguns dos principais eventos do universo crypto nos Estados Unidos.
E há poucos dias, a startup CryptoLeague levantou um total de US$ 2,2 milhões para construir uma plataforma de investimento para as comunidades Web3 – a nova geração da internet. A ideia atraiu investidores locais como o Florida Founders e fundos de Nova York e do Vale do Silício.
Se esta tendência vai prosperar ou não, o fato é que as novas “cidades do Silício” não devem deixar de apostar nestes mercados, que estão em ascensão assim como Miami e Austin.
Foto: Reprodução/Kxan.com
Texto: Fabrício Umpierres
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