Gestão

“Na crise, você coloca sua reputação individual a serviço do acionista”, diz Marcelo Arantes, da Braskem

Marcelo Arantes, VP Global de Pessoas, Marketing, Comunicação Corporativa e PR da Braskem Foto Marcos Mesquita

Monica Miglio Pedrosa

Quando uma empresa passa por uma crise, quem olha para os colaboradores que sofrem os efeitos colaterais do julgamento das pessoas que trabalham para a empresa? Marcelo Arantes, VP Global de Pessoas, Marketing, Comunicação Corporativa e PR da Braskem decidiu que sua missão era cuidar dos 8.700 colaboradores da companhia e ir pra linha de frente durante duas situações de crise na empresa: o envolvimento de diretores e executivos no escândalo da Lava Jato e o afundamento de bairros em Maceió causado pela mineração do solo feito pela Braskem na região. “Todos nós usamos o nome da companhia para reforçar nossa reputação. Mas tem uma hora que é preciso colocar sua reputação individual a serviço do acionista”, declarou.

Marcelo foi o terceiro palestrante do segundo dia do Fórum CEO Brasil 2024, evento que reúne 270 CEOs e acompanhantes no Tivoli Ecoresort Praia do Forte, na Bahia, até domingo. Formado em administração de empesas, casado e pai de três filhos, Marcelo é triatleta de longa distância, esporte que pratica para equilibrar o lado pessoal e emocional. Filho de um militar, aprendeu do pai o respeito aos outros, a disciplina e a determinação. Já a mãe, artista plástica, o ensinou a escolher um trabalho que o fizesse feliz, já que “nem tudo é dinheiro”.

A dificuldade financeira que passou após a separação dos pais na adolescência o levou a agarrar todas as oportunidades de carreira que surgiram na juventude. Após uma trajetória na área de RH de multinacionais, aceitou em 2010 o desafio de trabalhar na Braskem para conduzir a internacionalização da operação nas áreas que estão sob sua vice-presidência. Como VP, é responsável por cuidar dos 8.700 colaboradores de 44 nacionalidades da organização.

Na primeira crise reputacional da companhia, a da Lava Jato, olhou para o lado humano da crise, os colaboradores. “O mais fácil a fazer era sair da companhia. Mas decidi ficar pelos funcionários e suas famílias. Numa crise de reputação, todos olham para o C-Level para ver como reagimos à situação. Minha responsabilidade era cuidar deles”, contou. “Quando seis pessoas fizeram algo de errado e 8.700 são julgados por isso, me coloquei à frente para responder pelos erros da companhia.”

Marcelo contou que, nessa época, muitos amigos se afastaram completamente. Passando pelo sentimento de abandono que viveu no período, ele decidiu estar presente para os executivos presos pelo crime. “Comecei a mandar livros, escrever cartas, meramente para eles não se sentirem sozinhos. Eles erraram, mas isso não significa que você não pode ser humano”, refletiu.

Na segunda crise, em Maceió, Marcelo é o primeiro a admitir todo o impacto social da retirada das famílias como consequência da mineração feita pela empresa na região. Quarenta mil pessoas foram retiradas de suas casas, um investimento de R$ 15,9 bilhões para esta realocação. Outros R$ 4,9 bilhões foram gastos em indenização. “100% dos moradores estão fora das áreas de risco e 97% das pessoas foram indenizadas. Mas não há dinheiro no mundo que pague o impacto social de tirar alguém de sua casa”, reconhece.

Mais uma vez, ele assumiu o papel de porta-voz da companhia durante a crise. “Coloquei minha imagem pessoal em cadeia nacional, a serviço dos 8.700 integrantes da Braskem”. Para Marcelo, isso é humanizar a crise. É a visão e o exemplo que ele quer deixar como legado para os colaboradores e para sua família, para seus filhos.

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