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“Não existe empresa sem salvação”

Ricardo K., o mestre da recuperação de empresas, diz que após a quebradeira da Lava Jato, os problemas afetam agora gestão de médios negócios

Se dependesse de um chefe que fosse capaz de pronunciar o seu nome, Ricardo Knoepfelmacher não teria ido muito longo no mundo corporativo brasileiro. Rebatizado como Ricardo K e iniciado na escola da McKinsey, o consultor acumula 96 casos de recuperação de empresas – a maioria bem “cabeludos” – em 15 anos à frente da RK Partners. O índice de sucesso rendeu sua fama de “mestre do Turnaround” e personagem altamente requisitado quando todas as esperanças dos acionistas já se foram.

“Não existe esse negócio de empresa sem salvação. O que você não pode é ter ‘nojinho’ de caso difícil”, garante Ricardo K., arrancando risadas da plateia atenta durante do CFO Week, realizado pelo Experience Club nos dias 17 e 18 de maio no Sofitel Jequitimar Guarujá (SP).

Um dos palestrantes mais aguardados do fórum, o consultor passou em sua apresentação por vários momentos da carreira, desde o batismo de fogo na recuperação da Caloi, o complicadíssimo caso do império derretido de Eike Batista, até sua participação em casos recentes de construtoras envolvidas nas investigações da Lava Jato, como a Galvão Engenharia.

“Chegou um momento em que quase metade dos nossos clientes estavam na Lava Jato, eram empresas de R$ 5 bi até R$ 20 bi que em comum tinham o fato de trabalhar majoritariamente para o governo e ficaram inviáveis de uma hora para outra”.

ALAVANCAGEM

Das imensas crises corporativas em que trabalhou nos últimos anos, Ricardo K. destaca que um dos maiores problemas enfrentados pelas companhias brasileiras é a alavancagem. “Na maioria das vezes vemos empresas com uma expectativa de negócios fora da realidade. O que mata uma empresa não é o patrimônio, mas a falta de liquidez”, enfatiza.

Das mil maiores empresas brasileiras, calcula o consultor, a maioria ainda sofre com alavancagem excessiva, o que exige um trabalho de saneamento financeiro.

“É por isso que eu acho o CFO o cara mais importante da companhia. Ele vê primeiro os problemas aparecendo e é o primeiro a pedir ajuda”, afirma.

Passada a forte turbulência provocada pela Lava Jato, Ricardo K. acredita que os problemas de alta alavancagem vão dar lugar a um outro perfil de empresas em busca da recuperação. Como reflexo da crise, são as empresas médias as mais fragilizadas com problemas de gestão. “Voltaremos ao problema de trabalhar a eficiência dessas empresas, que na maioria das vezes está no excesso de custos”, diz Ricardo K.

BRASIL JURÁSSICO

Depois de passar por episódios até de ameaças pessoais, como na atuação dentro da Brasil Telecom – “uma roubalheira generalizada”, diz – o consultor está otimista com a mudança de filosofia dos empreendedores brasileiros. “Ainda tem empresário que acha mais barato pagar propina e ganhar contratos, mas esse cara faz parte do Brasil Jurássico”, assegura.

As regras de compliance e boa governança vieram para ficar. “Quem insistir no Brasil da corrupção vai ficar para trás”.

Texto: Arnaldo Comin

Foto: Marcos Mesquita

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