“O modelo hierárquico atua no top-down. Já o Lean aposta no bottom-up"
A Covid19 está forçando a aceleração digital dos negócios e a busca por novos modelos organizacionais capazes de entregar mais valor na ponta. Isso parece ser um consenso entre todas empresas de diferentes setores. E nesta jornada, a Cultura Lean pode ser uma grande aliada, como apontam Benjamin Quadros, CEO da BRQ, Andre Nascimento, Partner da McKinsey, e Ricardo Marvão, Cofounder da Beta-i Lisboa. Com moderação de nosso CEO Ricardo Natale, os executivos participaram da LIVE A Empresa Lean, realizada pelo Experience Club nesta terça-feira, 2 de junho.
Imagine que você precisa ferver uma panela de água. Se colocar o fogo em cima, o processo será infinitamente mais lento. “É isso que as organizações hierárquicas fazem, no top-down. O modelo Lean propõe ferver a mesma panela de água de baixo para cima, ganhando em agilidade”, diz Benjamin.
Para ele, o mindset Lean é um aprendizado, pois implica novas competências como aprendizagem rápida, resiliência e culto à inovação. Ele conta que o modelo Harvard, que tem a figura do líder como um herói, vem sendo questionada, enquanto a abordagem do MIT, berço da Cultura Lean, que propõe outra forma de enxergar a liderança, numa estrutura mais horizontal e achatada, vem ganhando espaço.
“ Quando a necessidade aperta, você adota um modelo que traz resultados rápidos e eficientes” – Benjamin Quadros
Em grande parte os processos de transformação falham justamente por conta do mindset da liderança, aponta Andre. “O fato é que muitas organizações foram projetadas para serem estáveis e não dinâmicas. Temos que repensar as estruturas para que se moldem ao cenário atual”. Ele diz que muitas organizações que adotam as práticas Lean continuam tendo a mesma forma de liderar, de colocar o produto na rua e de tratar o cliente.
“No fim do dia precisamos entregar o melhor lead time. Estamos todos pensando em como entregar mais valor na ponta” – Andre Nascimento
Os executivos concordam que há, sem dúvidas, uma jornada de transformação em curso, mas que o caminho ainda é longo. Cofundador da Beta-i Lisboa, uma consultoria de inovação colaborativa que atende mais de 250 empresas em 10 países, Ricardo Marvão diz que “é como uma viagem; algumas organizações fazem de avião, ônibus, carro e outras ainda vão a pé”.
A maior parte das empresas tem a sua rotina feita de processos e metas rígidas. Por isso, é preciso apresentar ferramentas e métodos que de fato tragam resultados. “O diretor está lá pressionando por metas. Se as metodologias não ajudarem a aumentar o revenue, as pessoas não vão aderir”. Especialmente em relação às startups, que antes eram vistas como “animais em um zoológico”, o executivo vê uma evolução.
“Os modelos das startups estão dentro das grandes empresas. Isso porque elas precisam de soluções focadas e de rápida implementação” – Ricardo Marvão
O desafio da capacitação
Vivemos um gap de formação em profissionais na área de tecnologia. Até 2024, a demanda por profissionais de TI será 52% maior do que a oferta de profissionais qualificados, segundo pesquisa da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação, a Brasscom. Hoje, no Brasil temos 1,5 milhão de pessoas que trabalham no setor de Tecnologia e Comunicação, com uma remuneração média 2,6 vezes maior em comparação a outras áreas. O setor de TI corresponde a quase 7% do PIB brasileiro, sendo o sétimo mercado mundial.
Ainda assim, faltam incentivos e uma estratégia nacional de digitalização. Somos 90 milhões de excluídos digitais, como aponta Benjamin, que é presidente do Conselho Administrativo da Brasscom. “O maior desafio é um programa de capacitação e requalificação em massa. Novos negócios vão surgir e não temos mão de obra. Na BRQ, temos 200 vagas no setor de tecnologia e uma massa de desempregados no Brasil”, diz.
Texto: Luana Dalmolin
Imagem: Experience Club
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