Quanto vale um conflito?
Um dos conflitos empresariais mais marcantes da última década no Brasil foi, sem dúvida, o protagonizado pelos empresários Abilio Diniz, na época do Grupo Pão de Açúcar, e Jean-Charles Naouri, do Casino. É sabido também que as negociações só passaram a fluir após a contratação do antropólogo americano William Ury, coautor do bestseller “Como chegar ao sim”, especialista em mediar conflitos espinhosos, incluindo brigas empresariais e familiares e até mesmo guerras civis.
O fato serve para ilustrar a potência que a figura do mediador pode exercer. Em tempos tão beligerantes e de polaridades, cuidar da gestão de relacionamentos pode valer ouro e garantir até mesmo a sobrevivência da empresa a longo prazo.
Motivo para brigar é o que não falta. Os conflitos podem vir de diferenças societárias envolvendo estratégia e patrimônio, ou discordâncias entre clientes e fornecedores, que têm alto potencial para desgastar o relacionamento no dia a dia e comprometer a eficiência do negócio. No Brasil, a beligerância corporativa pode ser comprovada pela busca por mediação independente. Conforme apurou o Experience Club, as duas maiores câmaras de arbitragem em operação no país acumulam 380 litígios em aberto.
As sócias e “gestoras de conflitos por vocação”, como se definem as advogadas Cinthya Soares Okawa e Carina Abud Alvarenga, donas da consultoria Burithi, aprenderam na prática a lidar com relações tempestuosas em processos de mediação entre sociedades e empresas. Em entrevista durante o encontro “Família Empresária – como se preparar para a 7ª geração”, a dupla apresentou algumas dicas de prevenção e boas práticas na gestão de conflitos. Confira:
Deixe as certezas de lado. Há uma expectativa especialmente no mundo corporativo de que é preciso ter certezas e respostas prontas. Trata-se de uma espécie de cobrança pelo saber. Mas a riqueza está justamente no oposto disso. Dê espaço para dúvidas e questionamentos. Investigue.
É importante estar aberto para múltiplos pontos de vista e exercer uma escuta atenta. Um profissional que não tem voz se torna desengajado. E isso custa caro para a empresa, pois reflete em absenteísmo e turn over. Novas ideias trazem novas possibilidades e isso gera inovação. Há uma ilusão de que duas ideias diferentes não podem coexistir. Elas podem não só coexistir, como se somar.
Crie consenso. Não se trata de negociação. Não é sobre acomodar ideias diferentes. É uma construção de algo novo, partindo das necessidades e interesses das partes envolvidas. Não é sobre eleger opções, mas montar um quadro novo. Não tente fazer um mosaico com os cacos que sobraram das diferenças anteriores.
Construa um ambiente de confiança. É de suma importância entrar em uma discussão desarmado. Eu aceito as minhas vulnerabilidades e a do outro também, sem julgamentos. Saber que você pode errar e voltar atrás, ter a liberdade de tentar coisas novas e experimentar. A confiança é uma cola para construir algo em conjunto.
Texto: Luana Dalmolin
Imagem: Marcos Mesquita
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