SaaS first: os planos da Nuvini para formar uma constelação de startups
A perspectiva de um salto de US$ 1,8 bilhão para mais de US$ 4 bi no volume de negócios em Software as a Service (SaaS) no Brasil até 2023 é o gatilho para consolidar o plano da Nuvini de formar a primeira constelação de startups neste segmento de mercado no país.
A companhia, que nasceu no final de 2019 com o nome de Keiretsu (uma denominação japonesa para cooperativa de empresas), foi reposicionada com uma definição mais alinhada aos tempos de predominância do cloud do mercado de tecnologia e pretende acelerar aquisições nos próximos meses.
O idealizador e CEO da Nuvini é o empresário Pierre Schurmann, sócio-fundador da Bossa Nova Investimentos, fundo que desde 2015 já liderou investimentos em mais de 500 startups no Brasil. A inspiração para o novo empreendimento de Schurmann é a companhia canadense Constellation Software que, desde 1995, já adquiriu mais de 400 empresas, fatura US$ 3 bi ao ano e atende a 125 mil clientes, em mais de 100 países.
Nesta entrevista ao Experience Club, Schurmann detalha como está trazendo esse modelo ao Brasil. Até aqui, a Nuvini comprou cinco empresas: Effecti, Ipê Digital, Dataminer, Lead Lovers e Onclick. Até o final do ano, quer ter 15 no portfólio.
Ancorada em três grandes verticais de serviços – vendas e marketing, gestão e produtividade, finanças e controle – a Nuvini aposta seu crescimento no movimento do “SaaS first”. Um segmento que, segundo a Associação Brasileira de Software (ABES), deve representar uma fatia de 40% de toda a indústria nos próximos anos. A meta é adquirir de 80 a 90 companhias até 2025.
Assista ao vídeo e mergulhe no assunto:
1 – A origem: do anjo ao exit
A centelha da Keiretsu vem do aprendizado da fundação da Bossa Nova, em 2011, que foi concebida como um fundo e depois escalada em 2015 com a chegada do sócio João Kepler, levando investimento para literalmente centenas de empresas. Esse experiência mostrou como muitos empreendedores iam bem nos seus negócios, mas com dificuldade em tangibilizar o resultado do ponto de vista do investimento pessoal. Enquanto a Bossa Nova estava no pós-anjo, a Nuvini nasceu com essa ideia de atuar no “exit” do empreendedor, levando liquidez para o investimento pessoal dele. A concepção do negócio é inspirada na empresa canadense Constellation Software, que faz isso há 25 anos. Um modelo muito bem-sucedido na geração de valor, que está sendo tropicalizado para o contexto do mercado brasileiro.
2 – Adaptação à realidade do Brasil
A estrutura da companhia teve que passar por uma tropicalização, para enfrentar os diversos desafios inerentes ao Brasil, que envolvem questões tributárias e trabalhistas, por exemplo. Além disso, Schurmann ressalta que a Constellation olha para aquisição de empresas mais maduras, com uma visão mais financeira, enquanto a Nuvini aposta em startups em estágio de aceleração, com crescimento médio de 40% ano. Nesse sentido a visão é ajudar na construção do negócio, que está sendo comprado e dar ao empreendedor desafios de ganhos por resultados que o mantenham ainda mais comprometido com o projeto.
3 – Como lidar com uma constelação de marcas e plataformas próprias
Uma das decisões de negócio mais importantes da Nuvini foi manter as marcas independentes no que se refere ao front-end, para não impactar na experiência do usuário, que até aqui se mostrou positiva em resultados de captação de clientes e ritmo de crescimento dessas startups. O segundo momento da estratégia, que já está acontecendo, é fazer a integração das distintas plataformas no mesmo back-end. Numa comparação, é como o Facebook, que adquiriu o Whatsapp e o Instagram e só depois de muito tempo iniciou um processo de integração, não mais da infraestrutura apenas, mas do cross de produtos e serviços compartilhados. Nesse contexto, o objetivo da Nuvini é dar o suporte no back-end e na governança das empresas.
4 – Os critérios de seleção de SaaS para aquisição de empresas
Um dos drivers da companhia é oferecer a pequenas e médias empresas acesso a tecnologias que ajudem na performance e na gestão dos negócios. A primeira onda do mercado veio de grandes desenvolvedores, como a Totvs e Linx, atendendo grandes empresas. Segundo Schurmann, o SaaS vai crescer o dobro da taxa global no Brasil, em grande parte porque a próxima onde vai impactar negócios pequenos, como padarias, ou óticas, em que muitos gestores ainda trabalham no Excel. E não se trata apenas de serviços financeiros ou ERPs, mas uma série de outros serviços de gestão, que ajudarão a nivelar a competição e abrir mais espaço para os pequenos e médios empreendedores no Brasil.
5 – Como funciona a modelagem da incorporação de startups
A companhia optou pela aquisição de 100% da empresa no momento da assinatura do contrato, levando em consideração as diversas questões tributárias e jurídicas próprias do Brasil. As regras do jogo são definidas no momento da compra, para que os fundadores tenham os incentivos necessários para continuar o crescimento da empresa pelos próximos três a cinco anos.
6 – A opção por verticais de produtos e serviços bem definidas
Para montar a estratégia global do negócio, a Nuvini analisou perto de dez verticais com potencial para expansão nos próximos anos, e acertou o foco em três que pudessem oferecer massa crítica de crescimento robusto. Ou seja, capazes de suportar volumes de negócio de R$ 800 milhões a R$ 900 milhões cada. A primeira delas é a de marketing, que tem como primeira empresa a Lead Lovers e atua em vendas por email. A escolha pelo marketing se dá pelo fato de que ele traz soluções muito amplas para anunciantes, lojistas e mesmo profissionais liberais, como médicos. São negócios que demandam ferramentas para fazer o funil de vendas, atendimento e soluções de CRM para o pós-venda, atuando em todo o ciclo de marketing do cliente. A segunda vertical agrega os serviços de ERP, voltados para finanças e controle, nichos de mercado no qual a Nuvini mantém negociações avançadas de aquisição. São serviços que têm sinergia com o marketing e que, por essa conexão, podem atrair clientes para as duas verticais. A terceira envolve nichos de colaboração e produtividade, como plataformas de gestão de RH e de transações de compra e venda entre empresas, que não envolvem nem marketing nem comércio online, mas ferramentas voltadas à operação. Um segmento que, de acordo com Schurmann, acelerou muito com a pandemia.
7 – O caminho para internacionalização
Parte das empresas que a Nuvini está finalizando a aquisição já possuem presença na América Latina, sendo que uma também opera nos Estados Unidos. O foco até meados de 2022, porém, será a consolidação no Brasil, considerando o grande números de oportunidades que a companhia visualiza no mercado interno. Além disso, a Nuvini trabalha agora no desafio de organizar e estruturar os fluxos de negócios da melhor maneira possível, em um contexto de agremiação de diversas startups ao mesmo tempo. A partir dessa fase inicial, a estratégia é buscar uma expansão com foco na América Latina, sobretudo México e Chile. A ideia, porém, não é levar empresas brasileiras, mas entrar por meio de aquisições, considerando o histórico de diversas empresas no passado. Com exceção do Mercado Livre e outros poucos grupos, a maioria das startups que buscou a expansão internacional sozinha não foi tão bem sucedida. O caminho, portanto, é crescer organicamente com a compra das líderes ou vice-líderes do país.
8 – 90 empresas até 2025
As startups no radar da Nuvini possuem dois perfis distintos. O primeiro envolve negócios maiores, com faturamento de R$ 15 milhões a R$ 50 milhões ao ano. São operações que, por si só, poderão incorporar outros negócios no futuro. O outro perfil são empresas de porte menor. Olhando todo o universo de possibilidades, Schurmann calcula que o grupo deverá consolidar de 80 a 90 empresas até 2025. A título de comparação, a canadense Constellation compra, em média, 75 companhias ao ano. Para a Nuvini atingir o patamar esperado, já foram feitas duas rodadas de investimento, cujos valores não são revelados, com funding de family offices. A próxima rodada a caminho virá de um investidor institucional. De acordo com o desenvolvimento do mercado, o caminho natural é a abertura do capital.
9 – O futuro do Saas
Caso o SaaS replique o que está acontecendo no mercado externo, o crescimento no Brasil será bastante expressivo. A expectativa é a de que o mercado, que tinha uma expectativa ainda não consolidada de US$ 1,9 bilhão em 2020, deve chegar a US$ 4 bilhões em 2023, dobrando em apenas três anos. De acordo com a estimativa da Associação Brasileira de Software (ABS), o SaaS de uma maneira geral, ocupará 40% do mercado total de software no futuro, com impacto maior nas pequenas e médias empresas, porque os empreendedores hoje dispõem de celular, tablet e devices mais ágeis para a gestão de negócios. A soma desses fatores deverá provocar uma aceleração muito grande em todo o mercado de serviços de tecnologia associado à nuvem, nos próximos quatro a cinco anos.
Texto: Arnaldo Comin
Imagens: Reprodução
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