Startup

Stark Bank aposta em dados preditivos para apoiar a gestão financeira dos clientes

Rafael Stark e Bruno Braz

Por Monica Miglio Pedrosa

O número 4 marca momentos importantes na vida de Rafael Stark, CEO e fundador do Stark Bank. Foram 4 tentativas até conseguir entrar no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), onde cursou Engenharia. Durante a faculdade, ele sempre pensou em trabalhar em um banco de investimentos após a formatura, mas no 4º ano mudou de ideia e partiu para o empreendedorismo. O primeiro negócio, de desenvolvimento de softwares, levou 4 anos para faturar R$ 2 milhões por ano. Finalmente, à frente do Stark Bank, foram 4 as tentativas de chegar ao fundo de investimentos de Jeff Bezos, fundador da Amazon. Na quarta, o Stark Bank se tornou uma das raras startups da América Latina a receber investimento do fundo Bezos Expedition.

Bezos, que foi um dos oito investidores da rodada Série B feita em abril de 2022, no valor total de US$ 45 milhões (o equivalente hoje a cerca de R$ 226 milhões), deve estar comemorando os resultados da decisão. O Stark Bank teve um lucro de R$ 71,5 milhões em 2023 (crescimento de 2,2 vezes em relação a 2022) e movimentou R$ 155 bilhões em pagamentos. Para Rafael, o compromisso com a empresa é tão grande que ele adotou o Stark oficialmente como sobrenome, tirando o do pai e da mãe. 

O gosto por empreender cresceu nos Estados Unidos: em 2013 Rafael foi para Stanford estudar Technology Entrepreneurship. Ele já havia aprendido a programar no ITA mas, na Califórnia, lançou o aplicativo Squiak, de hangouts entre universitários, que foi destaque na App Store. Isso o incentivou a abrir um negócio de criação e lançamento de produtos digitais para empresas na volta ao Brasil, em 2014. “Crescíamos 300% ao ano. Mas sempre tive vontade de criar meu próprio produto, reviver a experiência que tive na Califórnia, de lançar produto e escalar”, conta.

A oportunidade veio em 2018, quando ele iniciou um projeto para criar um sistema de reembolsos para empresas. “Comecei a buscar como me conectar com os bancos para fazer a transferência e percebi que nenhum fazia isso. Resolvi então desenvolver um sistema próprio e esse foi o primeiro produto do Stark Bank, lançado em janeiro de 2019.

No final desse mesmo ano, Bruno Braz, sócio e atual COO do Stark Bank, se juntou à empresa. Ele havia tido contato com a instituição financeira quando estava avaliando empresas para M&As e se identificou com a proposta. “Sempre tive vontade de empreender, já conhecia o Rafael há algum tempo e o ‘namoro’ deu certo”, conta.

Hoje, o Stark Bank tem 600 clientes ativos, todos mid to large, e atende desde o segmento de startups – em fase inicial até unicórnio – até empresas tradicionais, como Ultragaz, Localiza e Gol. A empresa, sediada em São Paulo, tem mais de 80 profissionais, todos trabalhando de forma 100% presencial. Na sede do escritório, está sendo construída uma área de convivência, com bar e área de reuniões para encontros com os funcionários e clientes.

“Atendemos empresas que acreditam que a tecnologia é uma forma de transformação. Ajudamos essas empresas a crescer, por meio de uma oferta de produtos financeiros e tecnologia, criando um ciclo virtuoso para a sociedade”, resume Stark.

Na sede do Stark Bank, a [EXP] conversou com Rafael Stark e Bruno Braz sobre a proposta de valor da fintech e os planos para o futuro. Confira:

[EXP] – De onde surgiu o nome Stark?

Rafael Stark – Stark em alemão significa forte. Acreditamos que um banco tem que ser forte, sólido. Esse nome foi um dos mais votados em grupos focais para decidir o nome da empresa. Tem gente que relaciona Stark com o [personagem da Marvel] Homem de Ferro, ou com Game of Thrones [nome de uma das famílias protagonistas da série da HBO]. Passa essa ideia de força, de tecnologia. É bold.

Rafael, e por que você mudou seu sobrenome para Stark?

Rafael Stark – Quando fui fazer o pitch da empresa para o primeiro investidor, ele me chamou de Stark. Isso acabou crescendo e hoje é meu sobrenome oficial, porque o Stark Bank é um compromisso de vida.

Quais são os principais produtos do Stark Bank? No que ele se diferencia das demais instituições financeiras?

Rafael Stark – Nosso primeiro produto foi o sistema de transferências. Depois veio a cobrança via boleto, o Internet Banking, Pix, investimento em renda fixa. Começamos então a fazer integrações com o ERP das empresas. Aí veio o cartão corporativo e em breve vamos entrar no mercado de adquirência.

Bruno Braz – Acreditamos que as empresas não enxergam os bancos tradicionais como seus parceiros para crescimento. Queremos oferecer não só produtos financeiros, mas ser também o parceiro que ajuda na gestão do negócio. Geramos inteligência e predição para os CFOs, como dashboards que ajudam as empresas a tomarem decisões no dia a dia com base nas informações financeiras, olhando o fluxo de caixa futuro e acompanhando a performance do negócio.

Além do dashboard, o que mais oferecem para a gestão financeira dos clientes?

Bruno Braz – Todo banco permite transferência, pagamento, recebimento. Mas a nossa visão é entregar tecnologia financeira para as empresas, dados para tomada de decisão, ferramentas de controle de gastos. Por exemplo, a empresa pode criar as regras de gastos corporativos. Ela emite um cartão físico para seu motorista e ele pode gastar, por exemplo, R$ 20 para tomar café da manhã das 7h às 9h e R$ 40 para um almoço das 12h às 14h, somente em estabelecimentos de alimentação. Esse valor já cai dentro de um centro de custo específico. Nessa mesma empresa, um executivo C-level pode gastar US$ 1.000 por dia, sem qualquer regra de horário para uso. Isso dá não só escalabilidade como também facilita a conciliação para o financeiro, permitindo maior compliance para a companhia.

"Nosso benchmark não são os bancos, mas empresas de tecnologia como Google, Slack, Microsoft, Uber. Nos inspiramos neles para criar soluções para o mundo bancário." Rafael Stark - Fundador e CEO do Stark Bank

Quando vocês começam a atuar no mercado de adquirência?

Rafael Stark – Vemos grandes oportunidades em adquirência, todo o mercado tem problema de conciliação. Vamos entregar um produto muito focado para resolver essa dor, simplificar o processo de entendimento das tarifas e do que foi recebido. Dessa forma, o estabelecimento comercial terá mais transparência sobre o que recebeu, considerando as vendas que fez. Vamos lançar esse produto ainda em 2024.

Em que outras oportunidades devem investir?

Bruno Braz – Hoje temos 12% do market share do Pix B2B no Brasil. Acreditamos que há muitas oportunidades de agregar soluções no Pix. Existe uma agenda no Bacen (Banco Central do Brasil) para o LIFT, que fomenta a inovação do Sistema Financeiro. Temos um projeto para pagamentos recorrentes via Pix para PJ que foi aprovado pelo LIFT. Estamos provocando o regulador para acelerar essa agenda para 2024.

Rafael Stark – O nosso desafio no Stark é entender o que vai acontecer nos próximos 5, 10 anos para que eu possa antecipar hoje. Como é que a gente traz inteligência artificial e muda a produtividade e a performance das empresas dentro da área financeira? Esse é o coração de qualquer empresa.

"A gente brinca que entrega os legos e nosso cliente monta a casa como ele quiser." - Bruno Braz

Onde vocês buscam essas tendências para o futuro?

Rafael Stark – Nas maiores empresas de tecnologia do mundo. Extraímos boas experiências do usuário e aplicativos de negócios que não são bancários e trazemos para esse mundo. Olhar o que os bancos estão fazendo lá fora não traz muita novidade. Mas o que o Google, o Slack, a Microsoft, o Uber estão fazendo são excelentes fontes de inspiração. Como estes conceitos estão sendo aplicados para resolver problemas que não têm a ver com o sistema bancário, mas que a gente possa se inspirar e extrair algo para aplicar nos nossos serviços. Toda vez que fazemos isso, criamos algo para a Stark que não existe em outros bancos.

Bruno Braz – Criamos um sistema de pagamentos em larga escala e nosso benchmark para isso foi o Google Drive. Ao entender o business do nosso cliente, escutamos suas dores e a partir daí desenvolvemos um produto que outros bancos não têm.

Rafael, como você conseguiu atrair Bezos para o negócio?

Rafael Stark – Sempre gostei de estar próximo de outros empreendedores. Tivemos muitos investidores anjo, que também são empreendedores. Na Série A, em dezembro de 2021, nossa primeira rodada mais parruda [US$ 13,3 milhões de 10 investidores] tivemos vários empreendedores, alguns bilionários americanos investindo na Stark. Fizemos quatro tentativas para chegar ao Bezos Expedition até que conseguimos, na Série B. Porque o que estamos fazendo é inovador, estamos na terceira onda dos bancos digitais.

O que você considera como terceira onda?

Rafael Stark – A primeira onda dos bancos digitais foi a da oferta para pessoa física. O Nubank é o maior expoente dessa onda. A segunda foi focada em pequenas e médias empresas, temos a Cora no Brasil, ou o Brex, nos EUA. Nós viemos na terceira onda, que atende médias e grandes empresas. É um segmento mais complicado, não há muito benchmark para ele. Nossa tese é mais difícil de ser entendida, porque os investidores normalmente apostam em modelos tropicalizados de teses que deram certo nos EUA, na Europa. Mas quando você cria um negócio novo, em um mercado emergente, eles têm mais dificuldade de entender.

Vocês já fazem planos para IPO? Pretendem abrir capital no Brasil ou na Nasdaq?

Rafael Stark – Queremos fazer o IPO fora, até porque quase todos nossos investidores são estrangeiros, tirando alguns anjos e o Iporanga. Então pra mim não faz muito sentido abrir capital no Brasil. É uma questão estratégica, aproveitando os relacionamentos que temos no exterior, com os principais fundos.

Bruno Braz – Para algumas empresas, o IPO é um objetivo. Para nós, o objetivo é desafiar o status quo. O IPO é o início de uma próxima etapa. Então não tem prazo para fazer o IPO. Temos prazo para fazer história.

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