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Startups precisam para ontem de maior diversidade

Em artigo exclusivo para a EXP, Patricia Rechtman, cofundadora da Finplace, destaca pesquisa que mostra baixa diversidade em um setor cuja bandeira é a inovação

No final do ano, é comum as empresas se mobilizarem para fazer seus balanços, identificar ganhos, conquistas de metas e organizar as expectativas para o novo ano que se aproxima. Mas será que este balanço inclui uma análise sobre a diversidade nos seus quadros de colaboradores? E o setor de startups, tão associado à inovação, um ecossistema que representa o trabalho do futuro, como tem se posicionado sobre a inclusão de recortes sociais diversos? De acordo com uma pesquisa recente da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), as startups não têm colocado seus discursos de apoio à diversidade em prática.

De acordo com o estudo da ABStartups, que entrevistou 2,5 mil startups entre agosto e setembro deste ano, 96,8% das empresas ouvidas disseram apoiar a diversidade, mas 60,7% afirmaram não possuir processo seletivo voltado para a inclusão de grupos minoritários. Entre as startups ouvidas, 31,2% declararam não ter nenhum funcionário preto ou pardo, 19,1% afirmaram não ter funcionárias mulheres, 62,3% não têm idosos, 90,3% estão sem PCDs e 90% não possuem transsexuais entre seus colaboradores.

Esses números são preocupantes e podem ser ainda piores se fizermos esse recorte nas empresas que operam especificamente no setor financeiro, no qual atuo e represento parte dessas estatísticas. Vejamos mais resultados. O estudo da ABStartups revela que 78,1% dos fundadores das startups declaram-se homens, heterossexuais (92,1%), pardos (51,1%), brancos (33,7%), com entre 31 e 40 anos (45%).

Sou cofundadora de uma fintech de crédito, mulher, homossexual e trabalho num setor basicamente controlado por homens heterossexuais. Com esses dados, o setor de startups precisa não apenas se posicionar a favor da diversidade, mas adotar de fato a inclusão como um dos pilares do negócio e promover ações concretas com resultados que apresentem crescimento representativo na inclusão. Além disso, é indiscutível que uma equipe mais diversa traz para a empresa diferentes olhares e promove melhores resultados para o negócio.

Precisamos, para ontem, ter programas exclusivamente dedicados a contratações de minorias. Precisamos também implementar a cultura da diversidade em seus mais variados aspectos, trabalhando desde a questão comportamental de todos os colaboradores até a transformação dos ambientes para que estejam prontos para receber pessoas diversas.

É urgente ter o nosso olhar voltado para os recortes sociais de forma geral. Seja na busca por mais lideranças femininas, questões raciais, LGBTQIA+, profissionais acima de 50 anos, inclusão de PCDs. Tudo precisa estar em nosso radar para que o setor de startups faça jus ao reconhecimento de ambiente inovador e inclusivo. O resultado de um modelo de gestão pautado em diversidade e inclusão se reflete não apenas em uma empresa mais plural, mas também em números nos negócios da empresa. Todos ganham.

Um bom exemplo de ação, dentro de uma perspectiva urgente como essa, é abrir mão de algumas exigências mais técnicas e focar o olhar em habilidades potenciais e comportamentos, como se faz em contratações com foco em soft skills (habilidades socioemocionais). Trabalhamos dentro desta ótica na fintech em que atuo e, por isso, posso dizer que é possível praticar a inclusão. Também sou responsável pelo Comitê de Empatia na empresa. Por meio dele, realizamos palestras e consultorias com pessoas de vários recortes, a fim de saber como se organizar para receber colaboradores diversos. Realizamos também processos seletivos exclusivos para profissionais diversos, que dão muito resultado. Temos muito o que mudar e implementar para nos tornarmos uma empresa 100% inclusiva e estamos nos esforçando para alcançar a meta.

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