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Subway e Starbucks marcam início de expansão da Zamp, liderada por Paulo Camargo

Paulo Camargo, CEO da Zamp

Monica Miglio Pedrosa

Sob nova direção há cerca de dois meses, a Zamp, gestora do Burger King e da rede Popeyes, prepara a aquisição de novas marcas que tenham o “potencial de ter milhares de lojas no Brasil”. A estratégia, contada pelo CEO Paulo Camargo em entrevista à [EXP] durante o Fórum CEO Brasil, realizado no início de setembro na Bahia, é virar uma “house of brands” e explorar as sinergias entre as empresas do portfólio sem deixar de lado a identidade e a cultura de cada marca.

A primeira aquisição, anunciada em junho, foi a da rede de cafeterias Starbucks, por R$ 120 milhões, cuja conclusão depende da aprovação do Cade. A segunda é a Subway, anunciada em fato relevante pela empresa nesta segunda. “Não queremos muitas marcas, buscamos poucas que tenham um potencial de geração de valor grande”, contou. Atualmente com 16 mil colaboradores, a Zamp reportou receita líquida de R$ 1,1 bilhão no 2º trimestre de 2024, um crescimento de 19% em relação ao ano anterior.

Antes de assumir a liderança da Zamp, o executivo foi CEO da Espaço Laser (2022-2024) e, entre 2015 e 2022, foi CEO do McDonald´s. Paulo foi ainda presidente do IFB (Instituto Foodservice Brasil) entre 2021/2022 e teve passagem pela PepsiCo no início da carreira. Toda essa experiência no varejo e no setor de fast food levou o executivo a uma visão customer centric para direcionar os negócios que toca. “O cliente quer controlar sua experiência. Já passou o tempo de definir a oferta 1, 2 ou 3 para ele. O consumidor quer decidir como vai comprar, onde vai consumir e como vai pagar”, disse ele.

Veja também a entrevista com Paulo Camargo na nossa plataforma de vídeos:

Paulo Camargo, CEO da Zamp

[EXP] – Paulo, você assumiu recentemente como CEO na Zamp, qual sua visão para o negócio?

Paulo Camargo – A empresa vai se tornar uma “house of brands”. Hoje temos duas marcas maravilhosas, Burger King e Popeyes, e em breve outras farão parte do portfólio. Eu também assumo a posição em um momento de maturidade para mim, um momento especial. É uma oportunidade incrível de liderar esse processo de transformação. Respeitando o DNA de cada marca, vamos tirar o máximo proveito de cada uma, aquilo que ela tem de melhor, criando sinergias entre elas.

Que características a Zamp está buscando para seu portfólio?

A estratégia é muito clara, nosso foco é em grandes marcas que têm o potencial de ter milhares de lojas no Brasil. Não queremos muitas marcas, buscamos poucas que tenham um potencial de geração de valor grande. Estamos falando de quatro marcas eventualmente para este ano e marcas complementares entre si, para diferentes ocasiões de consumo do cliente.

O Starbucks é uma das marcas que já foi anunciada. Existe alguma previsão de quando ela volta à gestão Zamp? Que outras marcas estão em vista?

Estamos super ansiosos, mas até preferimos falar pouco sobre isso porque há os ritos legais que têm de ser respeitados, obviamente. Mas a gente percebe que não há percalços, isso vai acontecer. É só uma questão de timing. Além disso, estamos em uma negociação com a cadeia de sanduíches Subway [a aquisição foi concluída em 16 de setembro, poucos dias depois da realização desta entrevista].

Como a Zamp está usando a tecnologia para acelerar a eficiência dos negócios?

No final do dia, nós somos um negócio de comida, de diferentes tipos de comida ou bebidas, quando a gente concretizar o assunto Starbucks. A tecnologia faz parte desse processo. Hoje, definitivamente, existem muitas formas de conhecer melhor o seu cliente, de atendê-lo melhor. Existem tendências que são inevitáveis e fazem parte desse processo. O nosso papel é nos adaptarmos a isso. Não vemos a tecnologia como um fim, mas como uma forma de melhorar o serviço, aquele que eu gosto de chamar de ‘senhor cliente’, que é realmente o nosso verdadeiro chefe.

A aplicação da tecnologia tem como um dos focos a personalização das ofertas?

Essa é a essência do nosso negócio. A gente tem o Clube BK, que tem milhões de usuários, e quando enviamos uma oferta personalizada, ela tem um resultado muito maior. Esses clientes são mais frequentes, são mais habituais ao nosso negócio, são mais fiéis. Então, sem dúvida nenhuma, a tecnologia ajuda a atender melhor esse cliente.

Vocês já utilizam tecnologias emergentes, como inteligência artificial, machine learning no negócio?

Temos dois temas importantes em relação à inteligência artificial. O primeiro é como melhorar o serviço ao cliente, como melhorar o treinamento do nosso colaborador, que rapidamente aprende mais coisas com a tecnologia. Uma outra área, que já está bastante avançada, é o uso de IA para fazer os nossos prognósticos, as nossas projeções de vendas, de compras, com mais assertividade. E o mais legal é que a IA aprende mais rápido que a gente. Não tenho nenhuma dúvida que a IA vai ser a maior transformação que nós já vivemos na história.

Na sua opinião, quais são as principais tendências para o setor de fast food? E como a Zamp está se preparando para isso?

O que se vê, de forma geral, é um cliente que quer controlar a sua experiência. Já passou o tempo de você definir a oferta 1, 2 ou 3 para ele. O consumidor quer decidir como vai comprar, onde vai consumir – se no carro, em sua casa ou no escritório – e como vai pagar. A tecnologia é um meio que nos ajuda nisso. Não tenho nenhuma dúvida de que as marcas que vão se dar melhor são aquelas que conseguem compreender as necessidades de cada um dos CPFs brasileiros. E isso direciona nossos investimentos nesse setor. Já vemos, no último quarter, o nosso indicador de vendas das mesmas lojas, o famoso same store sales, crescer 16%. O setor de drive-thru cresceu 30%. São setores em que o senhor cliente decide como fazer e nós só estamos lá para ajudar.

Existe uma tendência de consumo de alimentação saudável. Vocês estão buscando novas marcas com esse olhar?

O cliente é que vai definir. Seja no Burger King, no Popeyes e em outras marcas que virão, sendo bastante sincero, estamos sempre pesquisando e perguntando para o cliente para decidir o que vamos vender. Não creio que um dia o Burger King vá vender sushi, por exemplo, mas dentro do que a marca vende hoje, o cliente pedindo para que isso aconteça, vamos vender o que ele quiser. Se vai para o vegetariano, se vai pra uma carne mais suína, ou carne de frango, de peixe, carne bovina, temos condições de fazer todas elas. O importante é ouvir o mercado, ouvir o cliente e responder a ele.

Quais foram suas primeiras atitudes à frente da Zamp? Como é o seu estilo de liderança?

Eu costumo dizer que o negócio de varejo, no nosso caso um varejo de serviços, de alimentação, há muita gente dentro do balcão e muita gente fora dele. O nosso papel é fazer com que essa interação seja o mais fluida possível, com menos ruídos. Tem uma coisa que eu gosto de falar que é a importância da autoliderança. Antes de liderar alguém, lidere a si mesmo. Outra coisa que temos falado muito é que servir é um ato de amor. Não é muito comum ouvir isso dos CEOs, mas é verdade. Você tem a possibilidade de prestar os seus serviços a alguém. Olha o quão nobre é isso.

O quê é o resultado, que vem por meio da gestão. O como fazer é muito importante, fazer as coisas certas, do jeito certo, sem atalhos. Isso é um dos valores da Zamp, tenho muito orgulho de dizer isso. Por fim, o porquê. Por que as pessoas vão fazer aquilo que você está pedindo? Por que as pessoas vão acreditar no seu sonho? Existem técnicas para fazer isso e a principal delas é a autenticidade do líder. Tento respeitar isso todos os dias, de vez em quando me equivoco, peço feedback para as pessoas, isso tem a ver com meu pai, que me ensinou isso.

O setor de varejo é um setor com muito turn over. O que é importante fazer para reter os talentos?

Nosso negócio é o do primeiro emprego, da primeira oportunidade. Então, mais do que contratar, o treinamento é importante. Vamos fazer um investimento muito massivo em treinamento, reestruturando a área de treinamento. Por ser o primeiro emprego, precisamos ajudar as pessoas a compreender como devem se portar, como fazer os procedimentos. E a verdade é a seguinte, é um setor de alto turn over. Algumas pessoas começam no setor, gostam muito e seguem carreira, outras passam apenas um período.

Eu tenho como visão, como sonho, que mesmo que as pessoas saiam da Zamp em algum momento, porque foram para um outro lugar, que elas digam ‘valeu a pena’, eu aprendi muito, foi muito gostoso trabalhar lá. As empresas que prestam esse serviço de primeiro emprego têm essa função, de causar uma boa experiência.

De quanto vai ser esse investimento em treinamento?
Estamos estudando ainda, vendo qual é o tamanho desse negócio e aguardando a entrada de outras marcas. Não temos pressa, queremos fazer as coisas bem-feitas.

Aqui no Experience Club falamos muito de lifelong learning. Como você, Paulo, se atualiza, se mantém informado sobre as tendências?

Eu acredito que desenvolvimento é uma tarefa pessoal. As empresas, obviamente, investem nisso, mas é muito importante que cada pessoa, cada indivíduo, invista o seu tempo, os seus recursos para isso acontecer. Eu tenho como política pessoal, a cada dois, três anos, fazer um curso e me atualizar, especialmente fora do país. Não porque aqui não tenha coisas boas, mas para você fazer network e acabar conhecendo outras pessoas. A curiosidade é o principal elemento, hoje está tudo disponível, quem tiver curiosidade vai achar muita coisa e se desenvolver muito.

Uma das coisas que eu costumo fazer nesse aspecto de curiosidade, pra entender as novas gerações, é acompanhar os meus filhos. Tenho dois filhos, um de 19 e outro de 15, sempre que eu posso estou com eles, com os amigos deles. Os filhos nos ensinam muito.

Tem algum livro que você esteja lendo recentemente e que gostaria de recomendar?

Tem muita coisa boa saindo, mas muita coisa boa que já saiu. De vez em quando eu vou lá na estante e pego alguma coisa que eu já li e atualmente eu estou relendo o livro Execução, de Ram Charan (Leia o resumo do livro na [EXP]), que foi meu professor e tivemos muitas discussões sobre os executantes. É muito mais importante uma execução primorosa do que uma estratégia primorosa. Eu estou relendo esse livro e acho que essa é uma leitura obrigatória para quem não leu ainda.

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