The Future Normal: How we will live, work and thrive in the next decade
Autores: Rohit Bhargava e Henry Coutinho-Mason
Ideias centrais:
1 – A atividade fundamental da futurologia não é fazer previsões do que virá. O importante é conhecer o que pode vir a ser normal, habitual. Entender as necessidades e os desejos essenciais das pessoas ajuda a descobrir onde estará essa futura normalidade.
2 – Muito do “novo normal” tão falado durante a pandemia de Covid-19 não vingou como tal. Poucos hoje assam pães em casa ou têm medo de abraços e apertos de mãos. Por outro lado, mudanças tecnológicas se impõem. A IA, por exemplo, migrou rapidamente do mundo acadêmico para um recurso hoje encontrado na maioria dos smartphones e PCs.
3 – Certas áreas da futurologia são menos etéreas do que seria de se esperar, e algumas podem ser tão previsíveis quanto o desfecho de filmes e romances, como necessidade de segurança; desejo de ser querido e bem-sucedido; desafios da autodescoberta e do desenvolvimento individual.
4 – Setores da economia e da ciência já atuam para responder às demandas de uma futura normalidade. Empresas certificam imagens, evitando a propagação de fake news; administradores criam obrigações comunitárias em condomínios para atenuar a solidão dos moradores; uma medicina mais holística, com prescrição de rotinas saudáveis, ganha espaço; organizações se juntam em redes, destinam receitas e escolhem fornecedores mirando a preservação do planeta.
5 – Os danos do mal contemporâneo da solidão são comparados, pelo médico Vivek Murthy, àqueles produzidos pelo consumo diário de 15 cigarros. Replicar as regras de um complexo residencial da cidade sueca de Helsingborg, em que os condôminos são obrigados a interagir pelo menos duas horas semanais com seus vizinhos, pode ser uma saída.
6 – Um certo “renascimento psicodélico” embala área da ciência que estuda as propriedades de substâncias tidas como alucinógenas. Combinadas com psicoterapia, drogas como a psilocibina e o MDMA vêm mostrando utilidade no combate à depressão e a transtornos diversos. Especula-se que atrações “psicodélicas” serão incluídas no cardápio de opções do turismo de bem-estar?
Sobre os autores:
Rohit Bhargava é futurólogo, autor, palestrante e consultor. Ele é convidado a falar sobre maneiras não-óbvias de examinar e lidar com projetos de empresas como Intel, NASA, MetLife, Disney, entre outras. É autor de Non Obvious e Likeonomics.
Henry Coutinho-Mason é futurólogo e autor de Trend Driven Innovation, escrito a várias mãos.
Capítulo 1 – Identidade multiversa
Um certo tédio da vida artificialmente glamourosa do Instagram leva pessoas a mostrar uma identidade razoavelmente “real” no mundo online. Uma pesquisa feita pela Adobe com mil jovens da Geração Z informa que 58% deles sentem-se confortáveis em expressar no mundo virtual o que se passa fora dele. Ser essencialmente quem se é, e exibir-se assim nas redes, é uma tendência de normalidade futura.
Capítulo 2 – Entretenimento imersivo
Por anos, a cantora e compositora Taylor Swift espalhou pistas, códigos e mensagens relativamente cifradas em suas composições e também em espaços virtuais. A incrementar essa mitologia própria, ofereceu recompensas e engajamento a seguidores. Eis a nova face do entretenimento segundo os autores: o espectador como participante do espetáculo.
Capítulo 3 – Mídia certificada
O gênio do deepfake saiu da garrafa. Com ferramentas de IA, pessoas inescrupulosas fizeram das atrizes Gal Gadot e Scarlett Johansson estrelas pornô; na Coreia do Sul, um político usou IA para virar “mano”, capaz de convencer o eleitorado jovem de que dominava gírias das novas gerações. O gravíssimo problema de confiança na “realidade” do que se vê começa a ser combatido por startups como a Truepic, que certifica fotos e vídeos. Num acordo com a Qualcomm, que produz chips para empresas como Samsung, Google, Xiaomi e LG, a Truepic habilita a geração de metadados a fim de autenticar a veracidade das imagens produzidas pelos celulares dos usuários.
Capítulo 4 – Aprendizado silencioso
Embora tenha surgido e ganhado fama com seus vídeos de cortes rapidíssimos de desafios coreográficos, o TikTok presta-se também à educação. A hashtag #LearnOnTikTok havia sido lida 400 bilhões de vezes no momento em que os autores escreveram este livro.
Nem sempre o aprendizado requer atenção plena. Luvas high-tech já permitem codificar linguagem braille em algumas horas e tocar músicas no piano. Esse novo aprendizado silencioso, creem os autores, pode ajudar a diminuir a grande desigualdade das sociedades, entregando conteúdo pedagógico – e atraente – de “maneiras inesperadas”. A plataforma Roblox, utilizada por gamers e jogadores eventuais, é citada pela fidelidade de um público de 9 a 12 anos e por estimular a produção de conteúdo educacional: em 2021, a empresa criou um fundo de US$ 10 milhões para esse fim.
Capítulo 5 – Fim da solidão
Os danos do mal contemporâneo da solidão são comparados pelo médico Vivek Murthy, dos Estados Unidos, àqueles produzidos pelo consumo diário de 15 cigarros. Replicar as regras de um complexo residencial da cidade sueca de Helsingborg, em que os condôminos são obrigados a interagir pelo menos duas horas semanais com seus vizinhos, pode ser uma saída. No complexo, a divisão etária dos 51 apartamentos é mandatória, visando o encontro intergeracional. Metade deles é ocupado pela população 70+, ao passo que os demais são alugados para jovens adultos. O condomínio é dotado de áreas comuns para facilitar os encontros. Há uma grande cozinha, salas de ioga e de jogos e TV, entre outras.
Capítulo 6 – Companhia virtual
Ming Xuan, um jovem chinês de 22 anos com distrofia muscular e baixíssima autoestima, esteve perto do suicídio, condição driblada com ajuda do chatbot Xiaoice, espécie de Siri ou Alexa fabricado pela Microsoft. Ele tem 660 milhões de usuários em todo o mundo – 75% deles homens. Mas consolos virtuais não se circunscrevem a questões afetivas. Robôs que atuam como terapeutas cognitivos também ganham espaço. Moxie, um robô conversador, ajuda crianças menores de 10 anos a desenvolver habilidades socioemocionais. A empresa Dementia Australia desenvolveu um avatar que simula discapacidades cognitivas de idosos a fim de habilitar cuidadores.
Capítulo 7 – Bem-estar psicodélico
Um certo “renascimento psicodélico” embala área da ciência que estuda as propriedades de substâncias tidas como alucinógenas. Combinadas com psicoterapia, drogas como a psilocibina e o MDMA vêm mostrando utilidade no combate à depressão e a transtornos diversos.
Os autores apresentam o investidor Christian Angermeyer, que em 2014 experimentou cogumelos alucinógenos, vivência que considerou a mais “significativa” de sua existência até então. Menos de dez anos depois ele já levava duas companhias especializadas nesse tipo de produto, a Compass Pathways e a ATAI Life Sciences, à bolsa de valores dos EUA. Coutinho-Mason e Rohit Bhargava especulam se um dos traços de normalidade do futuro seja a inclusão de atrações “psicodélicas” ao cardápio de opções do turismo de bem-estar, hoje centrado em spas e retiros.
Capítulo 8 – Saúde ambiental
Radicalizadas pela Covid-19, as preocupações com limpeza de ambientes hoje são padrão. Eis uma dica do futuro próximo que nos espera: ambientes domésticos, profissionais e de convivência que não apenas atuam como tal, mas que incrementam a saúde e até mesmo a performance de quem neles se abriga. Todo um aparato de certificação também vem sendo construído, como o WELL Building Standard, que premia e incentiva projetos de construção que contemplam parâmetros de saúde e bem-estar.
Capítulo 9 – Prescrições verdes
Viver próximo de áreas verdes pode não ser a panaceia para todos os males, mas traz benefícios. Pesquisadores da Holanda já demonstraram baixa incidência de 15 doenças, depressão, ansiedade e ataques cardíacos incluídos, em moradores de casas localizadas até 800 metros de áreas verdes. Entidades vêm encorajando médicos a prescreverem visitas a parques e áreas verdes. Imagina-se ainda que líderes corporativos podem usar dessa “prescrição verde” a fim de melhorar a acuidade de raciocínio.
Capítulo 10 – Monitoramento metabólico
Sabemos o que faz bem: sono e alimentação adequados e prática regular de exercícios, mas como tornar isso rotineiro? Consumo de ultraprocessados e dietas gordas em açúcar e sódio são responsáveis por uma em cada cinco mortes pelo mundo. Ter muito presente os próprios maus hábitos é um passo decisivo para enfrentá-los. No dia a dia do futuro, os consumidores terão conhecimento claro do impacto dos alimentos que levam à boca, condição para a construção de um monitoramento metabólico preciso.
Mas mesmo antes disso o controle das taxas de açúcar pelos diabéticos já passa a ser usado por todos, em apps que ajudam a promover a perda de peso e o bem-estar. O CEO Tim Cook já disse que a “grande contribuição para a humanidade” da Apple, empresa que dirige, será sua atuação em prol da saúde.
Capítulo 11 – Criatividade aumentada
O capítulo começa com uma letra de música bastante aceitável composta pelo ChatGPT em três segundos, algo impossível para qualquer inteligência humana, segundo os autores. Se é de conhecimento geral que a IA pode transcender as meras funções repetitivas e abraçar o campo da criatividade, há certa apreensão que programas como DALL-E 2 e Stable Diffusion possam substituir a produção humana. Seja como for, artistas já começam a se servir da tecnologia de IA. O rapper Reeps One desenvolveu com as ferramentas um tom de voz similar ao seu. Um trailer de filme de terror produzido com ajuda do Watson, da IBM, levou cerca de 24 horas para ser concluído – algo que tomaria antes de duas a três semanas.
O autor de ficção científica Arthur Clarke uma vez disse que “qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível de mágica”. Assim como o Google transformou a forma de se fazer pesquisa, a próxima geração de ferramentas de criatividade baseadas em IA podem fazer com que seus primórdios lembrem mesmo rudimentares passes de mágica.
Capítulo 12 – Trabalho remoto para todos
A visão de um tatuador a atuar remotamente, utilizando braços mecânicos posicionados a quilômetros de distância de seu ateliê, já não é cena de ficção. Tampouco isso difere muito do trabalho de chatbots que monitoram pressão arterial e saturação de oxigênio de pacientes em suas casas. A empresa de logística sueca Einride é destacada pelos autores por controlar caminhões a partir de uma central única de comando, preferindo a direção remota ao uso de veículos 100% autônomos. Outras companhias também experimentam o telecomando, até mesmo no interior de sítios de extração de minério.
Capítulo 13 – Trabalho desconstruído
O trabalho remoto já mostrou uma face canhestra. A disponibilidade permanente do colaborador que adere a esse modelo é “premiada” com dificuldades de promoção maiores de quem é visto diariamente na sede da empresa. Mas há novidades: o job sharing (compartilhamento de trabalho), quando dois profissionais dividem missões que seriam de outro modo individuais. Em Cingapura, o job sharing é estimulado por entidades sindicais; no Reino Unido, uma plataforma criada originalmente para recolocar no mercado trabalhadoras que acabaram de ter filhos, opera com força total desde 2015.
Espera-se que empresas que se servem de modelos como o job sharing sejam mais capazes de atrair e reter talentos, tornando-se referências em seus segmentos.
Capítulo 14 – Culturas refletivas
De acordo com a consultoria Deloitte, são mulheres apenas 5,7% dos integrantes dos conselhos de empresas listadas como as 500 maiores segundo a revista Fortune. Trata-se de um descompasso com o zeitgeist destes tempos. No Reino Unido, metade das pessoas entre 18 e 24 anos define-se em hábitos sexuais como não exclusivamente heterossexual. Lentamente, as empresas começam a responder à tendência. Grifes, por exemplo, já produzem roupas para gêneros fluidos.
No futuro que se avizinha, não bastará adotar medidas paliativas, cosméticas, para dar conta de questões de diversidade. Demanda-se uma mudança cultural, além de redesenhos de produtos e serviços oferecidos.
Capítulo 15 – A redenção das grandes marcas
As estratégias de downsizing constantes e de remuneração de acionistas que fizeram a fama de Jack Welch, o tão celebrado ex-CEO da GE, estão fora de moda. Hoje, mesmo tubarões das finanças como Larry Fink, CEO da BlackRock, maior fundo de investimentos do mundo, divergem dos preceitos do capitalismo de shareholder. Considera-se cada vez mais que ele incrementa as desigualdades e acentua a discriminação. Buscam-se hoje certificados de bons propósitos, sejam eles de comércio justo ou de redução de emissões de carbono. A boa notícia é que empresas que atuam dessa maneira podem ser igualmente lucrativas. Organizações listadas no Just 100, que atribui valor pelo impacto social causado, tem retorno 7,2% maior para investidores do que organizações tradicionais.
Capítulo 16 – Hubs de impacto
Mesmo com a devassidão, a egolatria e o messianismo de Adam Neumann, criador do We Work, o negócio que fundou revelou que há pessoas que genuinamente buscam afinidade e propósito em seu ambiente de trabalho. Esses hubs de impacto tendem a se multiplicar no futuro, beneficiando não apenas empresas e trabalhadores, mas também os locais em que estão inseridos. Um exemplo é a International House, em Londres, concebida pela ONG 3Space. A cada metro locado, a 3Space oferece o mesmo espaço para startups selecionadas ou organizações sem fins lucrativos.
Capítulo 17 – Artificialmente melhor
A produção de alimentos em laboratório gerou bastante ceticismo no início, mas o cenário é de mudança. A tendência genética não se circunscreve à comida, mas atinge materiais construtivos, como a madeira, cuja produção artificial visa livrar o planeta de uma grande emissão de C02 ou gases equivalentes. O processo produtivo no laboratório mimetiza, paradoxalmente, aqueles vistos na natureza. O custo ambiental é muito menor e os produtos melhores e mais duráveis.
Capítulo 18 – Consumo calculado
Marcas começam a mostrar a quantidade de emissões de gases do efeito estufa geradas pelos produtos que levam às lojas, oferecendo informação que pode ser-lhes potencialmente danosa, inibidora de compra. Grandes vilãs na emissão de carbono, as companhias aéreas já permitem a passageiros a compra de crédito de carbono de terceiros (esquema offset, quando o agente não se compromete a reduzir diretamente sua emissão). A gigante transnacional Unilever anunciou que irá incluir informação de sua pegada de carbono em 70 mil produtos. Ao cliente, agora cônscio da pegada ambiental do que consome, caberá as melhores escolhas.
Capítulo 19 – Indulgência sem culpa
Turismo de luxo em países pobres; utilização de minerais extraídos em condições degradantes; consumo descartável. Eis práticas que devem se tornar progressivamente condenáveis. Coutinho-Mason e Bhargava apresentam a empresa Skydiamond. Diamantes são eternos, dizem, assim como os efeitos perversos desse setor, dominado por um único conglomerado. Mas o diamante sintético é alternativa para usufruir de tal indulgência sem culpa. A Skydiamond, do empreendedor Dale Vince, considera que comprar seus diamantes sintéticos é um ato de “ostentação sem o ferrão”. Ostentá-lo pode inclusive servir como declaração de princípios de consumo consciente.
Capítulo 20 – Segunda-mão com status
Os mercados de imóveis e automóveis usados são tradicionais, confiáveis e planetários, mas o que dizer dos de tênis e roupas de segunda-mão? Nos Estados Unidos, o valor negociado em 2016 nestes últimos, de US$ 18 bi, tende a crescer para US$ 82 bi em 2026. Não só isso: se, em 2016, 90% dos itens comercializados nesses ambientes passavam pela caridade, as lojas ligadas à benemerência, em 2026 prevê-se que apenas ⅓ disso lá estará. Mesmo as grandes marcas já adotaram canais de venda de usados “com status”, atentas ao fato de que se trata de um consumo com alto valor social.
Capítulo 21 – Novo coletivismo
O desejo de tornar a economia mais justa e inclusiva, livre da espoliação da massa trabalhadora, fundamenta o “novo coletivismo”, como os autores chamam a ideia de transferir poder para a coletividade no ambiente das startups – hoje um ecossistema em geral individualista e hedonista. O modelo cooperativista tradicional já abarca nada menos do que 10% da população formalmente empregada do mundo.
Coutinho-Mason e Bhargava citam um artífice do movimento Occupy Wall Street, Nathan Schneider, que criou em 2020 o conceito do E2C, ou “saída para a comunidade”, em que o valor criado por uma startup, quando não o próprio negócio, ficaria ao final com os stakeholders impactados. Antes disso, contudo, o negócio seguiria os passos tradicionais de maturação de uma startup. Para Schneider, decisões individuais ou tomadas por grupos restritos são imperiosas nas fases iniciais.
Capítulo 22 – Boa governança
O Edelman Barometer, índice criado pela multinacional de relações públicas e reputação Edelman, mostrou, a partir de entrevistas com 36 mil pessoas em 28 países, que governos são creditados como as instituições menos efetivas na solução de problemas sociais. No futuro que se avizinha, os autores creem que políticos mentirosos e legisladores cabotinos continuarão a existir, mas que o debate sobre a governança será travado em foros mais próximos do dia a dia dos cidadãos.
Há iniciativas já em curso, como a realização do World Government Summit, encontro anual de cerca de 20 mil membros de estruturas de governo que visa, segundo o lema do evento, desenhar um “melhor futuro para a humanidade”. Programas implementados por cidades são apresentados e eventualmente replicados. Caso do ônibus com tarifa diferenciada em Surabaya, segunda maior cidade da Indonésia. Os passageiros obtêm gratuidade na tarifa caso coletem e troquem, em locais apropriados, garrafas plásticas.
Capítulo 23 – A cidade “15 minutos”
A ideia de uma cidade em que tudo o que seus habitantes precisam acessar está a 15 minutos de distância foi levada à campanha de reeleição da atual prefeita de Paris e se materializou como microcosmo no elegante distrito de Marais. No coração da capital francesa surgiu um complexo misto com serviços clínicos, espaço expositivo e um café em que parte dos atendentes são pessoas autistas.
O conceito também é desejado em Portland, nos Estados Unidos, com zonas residenciais a no máximo 20 minutos do centro; e em Xangai, na China, cujo plano de urbanismo leva em conta o mesmo princípio. Esse desejo vem ao encontro do incremento dos modais de micromobilidade. A bicicleta elétrica é um transporte que faculta o “localismo” e ajuda no desfrute de uma grande metrópole. Mas tudo isso é uma quimera se não houver incremento do transporte de massa, tornando-o também bem menos poluente.
Capítulo 24 – Delivery autônomo
Em março de 2022, a empresa de delivery por drones Wing, do grupo Alphabet (do Google), anunciou que atingira 200 mil entregas, o dobro do que havia feito seis meses antes. Na África subsaariana, 7 milhões de doses de vacinas também viajaram da mesma forma desde a entrada em cena da empresa Zipline, em 2017. A startup Manna, que surgiu em 2018 com a missão de entregar em até 3 minutos sorvetes da marca Ben & Jerry’s em Dublin, na Irlanda, acabou por ver pivotado o próprio negócio: passou a entregar medicamentos em comunidades rurais.
Na visão de um futuro próximo, a imagem de drones congestionando o céu das metrópoles é quase um clássico. Mas quem sabe, diferentemente, sobrevoem vilarejos e comunidades, levando às suas populações medicamentos e artigos de primeira necessidade.
Capítulo 25 – Florestas urbanas
As cidades estão em luta contra o aquecimento global e a poluição rampante. Uma arma são as pequenas florestas que surgem em seus bairros. É o caso de Cingapura, a cidade-estado que já tem no seu movimentadíssimo aeroporto de Changi um teaser disso. No terminal está a maior cachoeira indoor do mundo. Na Colômbia, Medellin há tempos mostrou ao mundo seus “corredores verdes”, com 8 mil árvores plantadas em 30 grandes alamedas. Os resultados vieram, com o esfriamento médio chegando a 2ºC. Paris também trabalha com um plano de arborização que deve somar 170 mil novas árvores ao atual plantel.
No futuro que se avizinha, busca-se trazer a natureza – ou alguma natureza – às metrópoles, tornando-as, mais do que habitáveis, desejáveis.
Capítulo 26 – Agricultura sem impacto
É imperiosa uma nova revolução agrícola para dar conta não apenas de alimentar as 10 bilhões de pessoas da Terra em 2050, como minorar o impacto da produção desses alimentos. Coutinho-Mason e Bhargava elencam companhias com nova abordagem de cultivo, em que grandes extensões de solo dão lugar a áreas verticais ou estufas com controle minucioso do clima. É o caso da Ynsect, na França, a maior fazenda vertical de insetos do mundo, cujos besouros fornecem proteínas para alimentar peixes e outros animais cultivados globalmente. A Agrourbana, do Chile, promete produzir alimentos por meio da técnica de cultivo vertical, com usos baixos de água e solo. Produtos com equivalência nutritiva a alimentos tradicionais, mas que demandam muito menor uso de água, começam a surgir, como o Solein, composto que pode ser utilizado para o consumidor produzir em casa massas e pão. Mesmo comparada a alimentos plant-based, a pegada de carbono do Solein chega a ser cinco vezes menor. No uso de água, a desproporção é brutal: 100 vezes menos.
Capítulo 27 – Produtos que não viram lixo
O capítulo se inicia com um exemplo brasileiro, o uso de glitter no Carnaval, que gera um custo ambiental ao país ao poluir fontes de água potável. Cyrill Gutsch, fundador da Parley of the Oceans, é cético em relação à reciclagem, incapaz de dar conta do plástico, e, especialmente, das micropartículas do material. Para ele, só a biofabricação é alternativa viável. É uma técnica utilizada pela North Face, que já produz um corta-vento isento de materiais plásticos. A empresa Notpla oferece soluções de empacotamento a partir de fibras de algas, que são abundantes no mar e não exigem intervenção humana na sua produção.
Capítulo 28 – Milhões de microgrids
Donos de caminhões e pick-ups, veículos dispendiosos e grandes emissores de C02, podem mudar a narrativa em desfavor de seus carros, mesmo em época em que a eletrificação veicular se alastra. É que esses caminhões já dublam como pequenas usinas de energia. O capítulo, a propósito, se inicia com um deles servindo de gerador para uma cirurgia em clínica que ficara subitamente às escuras.
Usinas de força centrais, sistemas antigos e vulneráveis de engenharia, agora começam a ser substituídos por grids geradores de energia limpa, menores, atomizados e mais baratos. O próprio custo da energia limpa vem caindo dramaticamente. A solar teve seu custo reduzido em 80% a partir da década de 2010, uma diminuição jamais prognosticada por futurólogos e especialistas. Nos Estados Unidos, ⅔ da geração de capacidade de energia adicionada em 2022 vieram de matrizes limpas (solar, eólica, hidroelétrica). Já é possível também estocar energia produzida domesticamente. Coutinho-Mason e Bhargava apresentam os power-banks domésticos de lítio da montadora Tesla, capazes de armazenar energia gerada em painéis solares.
Capítulo 29 – Criando clima
A erupção do vulcão Pinatubo, nas Filipinas, em 1991, surpreendeu por sua força: cinzas foram expelidas à distância de 45 quilômetros, penetrando na estratosfera. Os cientistas que estudaram o fenômeno perceberam que as partículas expelidas tinham o poder de esfriar a temperatura global por mais de um ano após a erupção.
Mas mimetizar o fenômeno para minorar o apocalipse climático é exagero. Fala-se hoje em soluções como injetar grandes quantidades de ferro nas águas para tornar os oceanos imensos viveiros de algas, aumentando a capacidade de sequestro de carbono do planeta; e em devolver radiação solar para a atmosfera por meio de enormes estruturas refletivas. Tudo isso parece factível, mas operações de geoengenharia são inéditas, desconhecem-se, portanto, os efeitos perniciosos que podem gerar. Num concurso de soluções de bioengenharia em 2019, um arquiteto indonésio sugeriu a produção de blocos de gelo hexagonais que, exatamente por conta dessa forma, poderiam colidir e gerar grandes superfícies de gelo, como icebergs. A “reiceberguização” teria o efeito positivo de ajudar na reflexão da radiação solar.
Capítulo 30 – Além do net zero
Os autores se dedicam a mostrar exemplos de empresas que vêm lutando contra o aquecimento global de formas inusitadas. Caso da Vivo Barefoot, marca de tênis que utiliza espuma desenvolvida pela startup Bloom, feita a partir de algas que, ao serem retiradas de seu habitat, diminuem a poluição dos oceanos.
O fundador da marca esportiva Patagonia, Yves Chouinard, também é citado por ter criado um fundo que obriga que os lucros anuais da marca – na casa dos US$ 100 milhões – sejam permanentemente destinados ao combate de crises ambientais.
Best seller mundial, uma estante de livro modular comercializada pela IKEA ganhou incrementos com vistas a melhorar a circularidade de sua produção, eliminando custos ambientais em suas várias fases. A IKEA, segundo Coutinho-Mason e Bhargava, gera 0,1% de toda a pegada de carbono mundial, um número estratosférico e que exige enorme esforço para ser combatido.
Ficha técnica:
Título original: The Future Normal: How we will live, work and thrive in the next decade [ainda sem edição em português]
Autores: Rohit Bhargava e Henry Coutinho-Mason
Primeira edição: Ideapress Publishing
Resumo: Paulo Vieira
Edição: Monica Miglio Pedrosa
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