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A “Miami tech” pode superar o Vale do Silício? Alguns investidores acham que sim

Miami

Com crescimento de 15% no número de trabalhadores de tecnologia em 2021, o maior do país, Sul da Flórida é considerado o maior fenômeno da “Grande Dispersão” causada pela pandemia.

“Miami é o próximo Vale do Silício”, cravou no Twitter o investidor Aneel Ranadive, managing partner no fundo de venture capital Soma, com sede em San Francisco, e um dos donos da franquia da NBA Sacramento Kings. Em sua mensagem, no dia 30 de janeiro passado, Aneel afirma que “não via tanta agitação entre tantos brilhantes empreendedores felizes em ir para um local desde que comecei a trabalhar em startups em San Francisco. Em 2005, não havia um em San Francisco, todos estavam em South Bay – Mountain View, Cupertino, Sunnyvale etc”.

Pode parecer apenas uma opinião empolgada de um importante player do setor de tecnologia, mas não é só ele que pensa assim. Anthony Pompliano, investidor especializado em startups em fase inicial de negócios, replicou a mensagem de Ranadive dizendo que “Miami será eventualmente maior do que o cenário tecnológico de São Francisco. O primeiro está crescendo exponencialmente e o segundo está entrando em colapso”.

Foi justamente pelo Twitter, há pouco mais de um ano, que o movimento tech local ganhou escala e notoriedade quando o diretor do Founders Fund, Delian Asparouhov, perguntou na rede: “e se nos mudássemos do Vale do Silício para Miami?”. A resposta do prefeito de Miami Francis Suarez, quase que imediata, foi colocar a atração de empresas de tecnologia e eventos do setor como uma das prioridades da gestão.

Em 2021, a cidade viu algumas startups locais ultrapassarem o valor de mercado de US$ 1 bilhão, entrando no clube seleto dos unicórnios. É o caso da Aleph Holdings – fundada pelo argentino Gastón Taratura e que se consolidou como uma plataforma global de publicidade online. E também da Pipe, que trocou LA por Miami e precisou de pouco mais de um ano para atingir um valuation de US$ 2 bilhões com uma plataforma que financia outras startups com modelo de receita recorrente (SaaS).

Segundo Randy Bullard, partner da empresa de M&A Morrison e Foerster, “a pandemia criou a Grande Dispersão, espalhando o talento tecnológico pelo mundo, e um dos maiores vencedores deste fenômeno é Miami”. Em artigo publicado pela Daily Business Review, ele ressalta que foi a “cidade que recebeu a maior migração anual de trabalhadores tecnológicos de qualquer outra cidade dos EUA, em comparação com o mesmo período do ano anterior”.

Esta “Grande Dispersão” tem sido uma oportunidade para várias outras regiões: Salt Lake City teve o maior aumento (16x) de startups unicórnios do país, em comparação com 2020, enquanto Pittsburgh se tornou referência no desenvolvimento de tecnologias autônomas, aponta relatório 2021 da Dealroom. Segundo este estudo, Miami teve um aumento de 15% no número de trabalhadores do setor tech no ano passado, o maior resultado do país. Para empresas, um dos atrativos é que o custo da mão de obra. Mesmo com um aumento no patamar salarial ao longo de 2021, na média ele é de US$ 92 mil por ano – ainda abaixo da média americana, de US$ 104,5 mil.

O desafio da próxima geração de startups

Na visão de Bullard, o desafio é sustentar esta onda de crescimento. “O interesse da comunidade financeira de Miami dependerá de quantas saídas bem sucedidas as empresas vão produzir a seus investidores. Elas precisam atingir crescimento em escala com modelos de negócio confiáveis e lucrativos – isto é fundamental para atrair investimentos contínuos de empresas de capital de risco e private equity e criar uma base de investidores locais que possa financiar a próxima geração de startups”, afirma. 

Até o momento, a tendência é de alta. Segundo a plataforma Crunchbase, as empresas de tecnologia de todo o estado da Florida receberam US$ 1,3 bilhão em rodadas early stage (estágio inicial) entre  janeiro e outubro de 2021. Isto representa quatro vezes o volume de recursos recebidos em 2020, que foi de US$ 277 milhões. O número de investimentos, que era em média de 40 por ano, superou os 60, em 2021.

Uma das apostas para que o capital continue seguindo em direção ao Sul da Flórida é fortalecer a região como um polo de criptomoedas. Miami foi a primeira cidade a desenvolver seu próprio dinheiro virtual e um fundo em bitcoin para ajudar a financiar as despesas públicas. Desde o ano passado, se tornou a sede de algumas das mais importantes conferências de criptomoedas, NFT e blockchain dos EUA.

E tem criado novos negócios com este foco. Como a Eaglebrook Advisors, empresa de tecnologia sediada em Miami e que oferece uma plataforma focada em criptografia, que recebeu em janeiro um investimento de US$ 20 milhões de diversos fundos, interessados na expansão deste mercado.

Se isso será suficiente para superar San Francisco, como apontam os investidores Aneel Ranadive e Anthony Pompliano, só (algum) tempo dirá. Mas o caminho está aberto.

Foto: Denys Kostyuchenko / Unsplash

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