Mercado

O Brasil perde o X. E agora?

Ricardo Natale

No fim de semana, o dono do X, o antigo Twitter, Elon Musk, anunciou a saída da empresa do Brasil, com a demissão do time de cerca de 40 pessoas que respondia pela gestão local.

No anúncio, feito pela própria plataforma, Musk responsabilizou o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, e publicou uma decisão do ministro (que não foi divulgada pelo próprio) ameaçando a diretora da empresa no país com multa de R$ 20 mil por dia e prisão se não cumprisse a ordem de tirar do ar uma lista de sete perfis. A saída do país deve deixar essas multas pendentes, mesma situação de outras já aplicadas anteriormente.

Vi muitas manifestações contra e a favor da decisão de Moraes e a resposta de Musk desde então, mas todas com a já conhecida clivagem política que toma conta do nosso país. Influenciadores e políticos defensores do ex-presidente Jair Bolsonaro se solidarizam com a empresa e criticam o ministro do Supremo, enquanto representantes do governo Lula defendem Moraes meio que por inércia.

Mas não vi até agora, e sinto falta, de manifestações do mercado sobre o tema. Afinal, trata-se de uma plataforma de mídia, e não importa que a sede seja no exterior, ela atua no mercado brasileiro. Quais são as implicações dessa decisão para o nosso mercado, especialmente o mercado publicitário?

Sabemos que, pelo menos inicialmente, nada muda para os usuários. Mas a ausência de uma representação no Brasil coloca a plataforma numa situação mais precária para os negócios. Como funcionarão as campanhas? Será preciso falar com escritórios em outros países? O X, que já tinha perdido vários anunciantes, deixará de ser uma opção para as empresas?

Independentemente da posição política de cada um, situações como essa não são boas, são muito negativas para a imagem do Brasil no exterior, e trazem questionamentos sobre a liberdade de expressão e a solidez do mercado brasileiro.

Acho que esse é um tema que merece mais debate, mais reflexão, mais manifestações do mercado. Se isso acontecesse com um veículo de comunicação brasileiro, como o Estadão ou a Folha de S. Paulo, será que todo mundo ficaria quieto? Teríamos a mesma inação por parte do mercado?

É muito importante que se discuta mais esse assunto, para além da torcida para cada personagem. Estamos falando de uma plataforma de comunicação, com usos que vão além da política.

Porque, afinal, quem sai perdendo é o mercado brasileiro e a reputação do Brasil no exterior.

Carta do CEO

 

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