Gestão

A principal lição que aprendi com Xandó: ownership

Ricardo Natale

Na semana passada recebemos na nossa Confraria de CEOs o CEO da JBS Brasil, Gilberto Xandó. Um dos maiores executivos do Brasil, ele falou sobre o posicionamento, a estratégia e a gestão da JBS, maior empresa de alimento do país e uma das maiores produtoras de proteína do mundo, com produção espalhada em 20 países nos cinco continentes. A empresa também é uma das maiores empregadoras privada do país, com 156 mil colaboradores alocados especialmente em cidades do interior.

No palco, Xandó falou sobre a importância das pessoas para o negócio, como a JBS valoriza o ownership e busca desenvolver esse sentimento na cultura da empresa, em alguns casos já na formação escolar oferecida pelo Instituto J&F, com aulas práticas de gestão.

Conversando com ele depois do jantar, entendi melhor que essa cultura de ownership não vale apenas para os colaboradores. É também a maneira como a família Batista, fundadora da companhia, lida com os altos executivos da empresa, todos muito qualificados e com as melhores credenciais do mercado. Aliás, é conhecida a capacidade da família Batista de atrair grandes profissionais para liderar suas empresas, ao mesmo em que membros da família, desde muito jovens, assumem responsabilidades em operações muito estratégicas do grupo.

E como se dá na prática esse ownership? Ao anunciar um projeto aos controladores, o executivo não vai ouvir nenhuma decisão de respaldo ou discordância. Ouve mais questionamentos, até que o executivo decida, por sua conta, se o que sugeriu realmente se sustenta e deve ser colocado em prática. “Mas o que você acha? Me fala mais. Você acha que vale mesmo? Por que você acha que vale? Você acredita? Então vai.”

É mais ou menos assim que se dá a resposta. A responsabilidade nunca é dividida, ela é do autor do projeto. O que faz com que a pessoa abrace a ideia e lute com todas as forças para que dê certo. Ele está sozinho, tem que entregar, e vai ser esforçar muito para isso.

E aí eu pergunto: você está aplicando isso na sua empresa? Qual é o nível de ownership entre os seus gestores, entre o seu time?

Eu confesso que tenho uma enorme dificuldade para fazer isso. Eu sou do tipo que tenho a ideia, desenvolvo o projeto, me envolvo pessoalmente em tudo, gosto de resolver diretamente.

Mas definitivamente não defendo que essa seja a melhor maneira. Historicamente no Brasil temos um modelo de grande interferência do fundador, do dono da empresa. Mesmo em grandes companhias, com capital aberto e gestão profissionalizada, é comum que os sócios permaneçam influenciando as decisões, dividindo a responsabilidade com o executivo. No caso da JBS parece ser mais no estilo “vai que é tua”.

O enorme sucesso da empresa que começou com um frigorífico no interior de Goiás e se expandiu pelo mundo mostra que estimular a cultura do ownership pode ser uma boa estratégia.

O que você acha?

Carta do CEO

  • Aumentar texto Aumentar
  • Diminuir texto Diminuir
  • Compartilhar Compartilhar