Gestão

Como atacar a crise na saúde privada

Ricardo Natale 

O nosso sistema de saúde está em crise. Não só o sistema público, que sabemos que é subfinanciado diante das enormes necessidades da nossa população. O sistema privado também passa por uma grande crise. De um lado, operadoras acumulam prejuízos com os custos cada vez mais elevados de um sistema que tem muito desperdício e ineficiência: exames duplicados, pedidos desnecessários, falta de compartilhamento e comunicação entre profissionais. De outro, clientes insatisfeitos, reclamando de preços, recusa e demora nos atendimentos.

Entre as duas pontas, empresas com gastos cada vez maiores e sabendo que esse é um benefício importante para a atração e retenção de talentos. Como reduzir os custos do sistema sem diminuir a qualidade? Como dar eficiência aos gastos que ocupam uma parcela significativa dos custos com pessoal?

Guilherme Azevedo, cofundador da Alice, plano de saúde para empresas, participou no começo de janeiro do JP Morgan Healthcare Conference 2024, o maior evento financeiro da área de saúde do mundo, em São Francisco, e voltou de lá com a impressão de que a explosão de custos que atingiu muitas empresas de serviços de saúde depois da pandemia começou a desacelerar. Nos Estados Unidos, as expectativas do setor para este ano são de rentabilidade depois de dois anos de fortes prejuízos.

Ele compartilhou também as tendências do setor que podem ser aplicadas no Brasil:

A falta de dados de resultados clínicos é um dos grandes desafios do setor de saúde. Mas isso está mudando. Nos Estados Unidos, muitas empresas estão usando tecnologia para dar transparência a esses dados e mostrar, com métricas objetivas, o custo-efetividade de cada tratamento – quais as melhores soluções, onde se obtém os melhores resultados e com menores custos.

A criação de métricas para mostrar a efetividade dos tratamentos permite análises mais objetivas, assim como se faz com métricas financeiras ou de produtividade. Ter métricas de desfecho para cada procedimento.

O sistema de saúde privado brasileiro nasceu e cresceu como um seguro. Precisa evoluir para um sistema que faça gestão e coordenação de saúde, com redução de desperdício a aumento de custo-efetividade. Isso melhora qualidade de saúde e racionaliza os custos.

– Sistemas de rede fechada, onde os médicos trabalham com protocolos e procedimentos  mais padronizados, podem ajudar a desonerar o sistema.

– Produtos com copagamentos, que começam a crescer no Brasil, levam a uma racionalização no uso dos recursos.

Atenção primária, com médico generalista e enfermeiras clínicas, com misto de presencial e digital, pode desonerar o sistema. 80% das demandas podem ser resolvidas nesta fase.

As novas empresas de saúde, que nascem digitais, já pensam na gestão dos dados de forma a obter informações que levem a melhores decisões.

E como as empresas contratantes podem ajudar a melhorar o sistema? Guilherme dá uma recomendação: façam mais perguntas sobre pertinência e custo-efetividade dos serviços que estão contratando. Demandem dados não só sobre o financeiro, diz ele, mas métricas de efetividade, como se faz com qualquer outro serviço contratado. “A saúde ainda está muito pautada por preço e rede e não por resultados e isso precisa mudar.”

São perguntas importantes, que podem começar a mudar o cenário da saúde privada no país.

Carta do CEO
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