ESG

ESG: 2024, o ano em que as empresas precisam se engajar nas ações para salvar o planeta

Por Solange Calvo

A emergência climática – agora evidente nos extremos de temperatura, vento e chuvas intensas registrados tanto no Brasil quanto no Hemisfério Norte – e a gravidade dos problemas sociais trazem para as empresas o desafio de uma agenda que vai além dos seus resultados financeiros. Diante deste cenário, a sigla ESG (Environmental, Social and Governance, ou Meio Ambiente, Social e Governança) ganha ainda mais força e uma cobrança de que essas questões virem de fato práticas das empresas.

Na visão de especialistas, a preparação para a conformidade com a agenda ESG requer uma mudança de mentalidade e revisão profunda das práticas corporativas. No Brasil, um dos maiores desafios é a adequação às políticas ambientais, especialmente considerando a proteção da Amazônia e a gestão sustentável dos recursos naturais.

Embora todas as letras da sigla ESG tenham sua devida importância e unam forças umas às outras, os especialistas afirmam que atualmente o foco nas variações climáticas vem tomando a atenção das empresas.

“Tudo tem a ver como cada cidadão e as empresas cuidam do meio ambiente. É uma questão cultural. No ambiente corporativo, é possível promover a conscientização de como descartar, por exemplo, o lixo eletrônico [resíduos de equipamento eletroeletrônico], e de como reciclar materiais que agridem o meio ambiente. A empresa tem a capacidade de incentivar os colaboradores a se transformarem em multiplicadores dessa cultura”, diz Nelmara Arbex, Sócia-Líder da KPMG. “A natureza está dando o seu grito de alerta.”

Questões sociais também estão no foco, exigindo das empresas comprometimento com diversidade, equidade e inclusão, tão necessárias em um contexto como o brasileiro. Aprimorar práticas de governança para garantir transparência, ética e conformidade regulatória é um desafio complexo, mas crucial.

“Negócios sustentáveis se transformaram em algo obrigatório em vez de ser apenas um diferencial”, destaca Rajesh Kandaswamy, Vice-Presidente e Analista do Gartner Group. Para o instituto de pesquisas, em um mundo cada vez mais orientado ao avanço tecnológico, os negócios sustentáveis deverão ser suportados por tecnologia deste tipo, obrigando fornecedores a quantificarem a sua contribuição para essa sustentabilidade.

“Por uma série de razões, quando a gente fala em gestão de ESG estamos falando sobre como a empresa lida no atual ambiente do negócio, que envolve ética e transparência, como, por exemplo, questões climáticas, hídricas, campanhas contra racismo, que vêm de fora e as empresas precisam se adequar. Como lidar com diversidade, inclusão, salários, gestão da emissão de carbono?”, destaca Nelmara.

"A liderança nas empresas precisa dar o exemplo, ser coerente com a agenda e inspirar toda a corporação. Os líderes precisam se conscientizar de que são embaixadores do ESG." Carla Branco, professora e coordenadora do Ibmec.

Ameaças climáticas

Na sigla ESG, a questão ambiental tende a ser a mais desafiadora para muitas empresas brasileiras. A preservação dos biomas e a gestão de recursos naturais enfrentam pressões e demandas complexas, requerendo investimentos substanciais e mudanças profundas nas cadeias de suprimentos e processos operacionais.

“Hoje, não existe pauta mais preocupante do que o clima, as variações climáticas geradas pela forma abusiva de buscar o lucro, sem pensar no impacto. Mas as pessoas estão começando a se conscientizar”, ressalta Carla Branco, executiva do terceiro setor, professora e Coordenadora de MBA no Ibmec.

O consultor Marcelo Oliveira, Managing Partner na ShareMinds, concorda e questiona: “Como a empresa se prepara em sua cadeia de valor? A emergência climática é o grande chamado. Governo e sociedade precisam se unir para mitigar os riscos das variações climáticas.”

"A regulação é necessária. Práticas de sustentabilidade precisam se tornar hábito, assim como foi com o uso obrigatório do cinto de segurança nos veículos. As multas colocaram os usuários na linha e hoje o cinto é uma prática automática." Marcelo Oliveira, Managing Partner na Share Minds.

Todos precisam se preparar, diz Oliveira. Não somente as empresas grandes, mas também as pequenas e médias que fazem parte da cadeia de negócios das grandes. Nessa trilha, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) desempenha papel crucial no avanço da agenda ESG no país, contribuindo para facilitar o investimento que possibilita estar em compliance com o tema.

Ao disponibilizar financiamentos e linhas de crédito para empresas que buscam investir em práticas sustentáveis, o BNDES incentiva a adoção de medidas alinhadas com os pilares, por meio do BNDES Crédito ASG – Ambiental, Social e Governança, voltado a planos de negócio empresariais com incentivo ao desenvolvimento sustentável. A iniciativa, que teve sua primeira operação em 2022, contribui para o crescimento econômico, alinhando-o aos padrões globais de responsabilidade corporativa.

O BNDES Crédito ASG segue o conceito linked-loan, que oferece condições financeiras mais atrativas, de modo não retroativo, para clientes que comprovem a melhoria de indicadores durante a vigência da operação. O valor mínimo é de R$ 20 milhões e o máximo, por grupo econômico, é de R$ 200 milhões.

Oliveira defende mais regulação para a agenda ESG. “A regulação é necessária. Práticas de sustentabilidade precisam se tornar hábito, assim como foi com o uso obrigatório do cinto de segurança nos veículos. As multas colocaram os usuários na linha e hoje é uma prática automática. Por isso, a regulação e as taxas são importantes”, afirma.

ESG em números

Cadeia de negócios, novo capítulo, nova responsabilidade

Levantamento do Gartner com CEOs mostra que a sustentabilidade ambiental se tornou uma das prioridades para a liderança, e que 70% dos responsáveis pela contratação de serviços de TI exigirão esse alinhamento dos fornecedores. “As novas diretrizes exigem que todos os elementos, incluindo fornecedores, se ajustem de acordo com os compromissos assumidos”, afirma Stephen White, Diretor Analista Sênior do Gartner.

Segundo o executivo, o fornecimento, a contratação e a gestão de fornecedores devem se adaptar com urgência, incorporando o rigor da sustentabilidade em todas operações e objetivos. Até 2026, diz o estudo, 75% das organizações vão priorizar negócios com empresas de TI que tenham metas claras e cronogramas de sustentabilidade bem estruturados, substituindo parceiros que não consigam demonstrar esse compromisso.

Mas como lidar com um fornecedor-chave, que não está comprometido com a agenda ESG? Nelmara aposta no diálogo. “É preciso conversar com o fornecedor que não tem uma gestão responsável e, portanto, está frágil. Informar, explicar a importância dessa união de esforços. Fornecedores diferentes terão problemas e fragilidades diferentes.”

A forma como a liderança lida com o tema, alerta a executiva, interfere na credibilidade e na projeção da organização. “Hoje, as empresas sabem que são corresponsáveis pela sua cadeia. Cada vez mais não basta somente a responsabilidade das suas próprias operações”, diz Nelmara. “No futuro, a sustentabilidade será um driver padrão do processo de tomada de decisão”, afirma White.

"Negócios sustentáveis se transformaram em algo obrigatório em vez de ser apenas um diferencial." - Rajesh Kandaswamy, Vice-Presidente e Analista do Gartner

Ecossistema interdependente

A cadeia de suprimentos, portanto, não é mais vista como uma sequência linear de transações comerciais, mas como um ecossistema interdependente. Empresas líderes estão exigindo não apenas eficiência e qualidade, mas também responsabilidade ambiental e social dos parceiros.

Isso significa que, para garantir um posicionamento sólido no mercado global, as empresas precisam demonstrar comprometimento com práticas sustentáveis em todas as etapas da cadeia de valor, o que também traz oportunidades. “Quem prioriza a sustentabilidade em suas cadeias de suprimentos não apenas se destaca como parceiro confiável, mas também mitiga riscos operacionais e reputacionais”, diz Oliveira.

“Os colaboradores precisam entender o propósito da agenda ESG para promover o engajamento e a disseminação dessa nova cultura. E entenderem que eles são pessoas que impactam o meio ambiente, independentemente da empresa em que trabalham”, afirma.

"É preciso conversar com o fornecedor que não tem uma gestão responsável. Informar, explicar a importância dessa união de esforços. Fornecedores diferentes terão problemas e fragilidades diferentes." Nelmara Arbex, Sócia-Lider da KPMG

Carla reforça a importância da liderança no processo e, para isso, é preciso investimento em educação e consciência de que o futuro precisa ser construído hoje. “O comportamento de quem está no topo é determinante para essa evolução. Precisam se conscientizar de que são embaixadores de ESG. A liderança precisa dar o exemplo, ser coerente com a agenda e inspirar toda a corporação”, acredita.

O interesse pelo tema, antes fechado em nichos de pesquisadores e investidores, vem ganhando escala. O MBA em ESG no Ibmec, onde Carla Branco é professora, tem mais de 2,8 mil alunos matriculados, o que comprova o interesse na capacitação e nas oportunidades de mercado.

Em resumo, para que o Brasil avance efetivamente na agenda ESG, na avaliação dos especialistas, é necessário um esforço conjunto entre governo, iniciativa privada e sociedade. Políticas públicas mais eficazes irão impulsionar a proteção do meio ambiente, promover inclusão social e melhorar as práticas de governança em solo nacional. É o futuro da humanidade em jogo.

ESG em números
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