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Hospital Albert Einstein investe em educação e inovação com centro de câncer

Sidney Klajner

Por Françoise Terzian

O fortalecimento do pilar de educação do Centro de Ensino e Pesquisa Albert Einstein e o investimento em um novo hospital oncológico na região do Morumbi, em São Paulo, são os destaques da segunda gestão de Sidney Klajner como presidente da Sociedade Israelita Brasileira Albert Einstein, que iniciou em 2023 e vai até 2028. Durante a gestão anterior (2017-2022), Klajner comemorou a formatura da primeira turma da graduação de Medicina e ampliou a oferta de cursos superiores em Administração, Engenharia Biomédica, Fisioterapia e Odontologia. No início de 2024, a graduação em Nutrição se junta à grade.

No início de 2026, um novo hospital oncológico será inaugurado no Parque Global, no Real Parque, zona sul de São Paulo. O novo centro de câncer terá pronto atendimento oncológico, pesquisa, diagnóstico preventivo por meio de exames genéticos, prevenção e tratamento precoce e terapia integrada do paciente. Inicialmente, serão oferecidos 160 leitos. O investimento no hospital, anunciado no fim de 2022, é de R$ 1,2 bilhão, sendo R$ 400 milhões investidos pelo Einstein e R$ 800 milhões pela incorporadora Benx, parceira do hospital no projeto. “Com a longevidade e o envelhecimento da população brasileira, estimativas apontam que aparecerão 19 milhões de casos de câncer por ano”, afirma.

O Einstein, diz Klajner, foi fundado com o propósito de entregar saúde para as pessoas, e isso inclui os investimentos em educação e capacitação profissional. A empresa ganhou inclusive o Prêmio Inovação do jornal Valor Econômico.

Nessa entrevista à [EXP] ele fala também sobre as frentes de inovação do Einstein e os desafios do atual modelo suplementar de saúde no país.

Confira a entrevista em vídeo com Sidney Klajner.

Vídeo da entrevista com Sidney Klajner

Quais são os principais projetos do Einstein em inovação?

Sidney Klajner – Nossa diretoria de inovação se baseia em quatro áreas. A primeira é o Health Design Lab, onde qualquer colaborador do Einstein com alguma ideia para resolver algum gargalo tenha o ambiente para discutir a ideia e uma mentoria para desenvolver, ou seja um ambiente de inovação para lidar com problemas do dia a dia. O Health Innovation Techcenter (HIT) é onde desenvolvemos essas ideias dos colaboradores e também onde atuamos com Open Innovation, em que startups nos procuram para ajudar na Propriedade Intelectual e na atração de investidores. Temos a Eretz.bio, incubadora de startups, que tem 43 incubadas mas por onde já passaram 2.400 startups. E, por último, um fundo, um venture capital do Einstein, onde essas startups chanceladas por nós integram o portfólio desse fundo para atrair investidores.

Pode dar um exemplo do que está sendo desenvolvido no HIT?

Um dos projetos é o centro de Biotech, onde atraímos a indústria farmacêutica para desenvolver novos produtos ou mesmo sem eles, explorando plantas da nossa biodiversidade que podem ser usadas para medicação no Brasil. Mais recentemente, vendo o papel que o ensino tem no Einstein, para explorar novas metodologias e meios de mensuração do aprendizado, criamos um outro projeto inovador com as edtechs, onde as startups relacionadas à educação encontram uma estrutura pronta para mentoria e acompanhamento.

Quantas turmas a graduação em Medicina já formou? Em quais outras graduações pretendem investir?

Já formamos três turmas de Medicina. Isso é motivo de muito orgulho, já que esse era um dos sonhos dos nossos fundadores, a geração de conhecimento. A Faculdade de Enfermagem do Einstein completou 33 anos de existência e 90% dos egressos trabalham conosco. Em Medicina, nós queremos formar médicos que exerçam o papel de liderança e sejam capazes de transformar os sistemas de saúde. Além de Enfermagem e Medicina, temos a graduação em Odontologia, Fisioterapia, Engenharia Biomédica e Administração em Saúde. Em 2024 iniciamos a primeira turma de Nutrição.

Vocês têm uma meta de ser a melhor Faculdade de Medicina do Brasil, posto hoje ocupado pela USP.

Colocamos essa meta para 10 anos após sua criação. Queremos que ela seja uma das melhores do Brasil e isso já está acontecendo pela procura que temos. São 120 vagas por ano e, em média, de 7 a 8 mil estudantes no processo seletivo para essas vagas. Então é uma concorrência muito grande. Temos orgulho de ver que 30% desses alunos são subsidiados por bolsas que vêm através da captação de recursos, ampliando a diversidade da turma. São alunos de 22 estados brasileiros e sabemos que sem diversidade a inovação não acontece.

O modelo pedagógico também é inovador porque ensina medicina através do TBL, que é o Team Based Learning. Nele, o aluno estuda o ponto a ser discutido e o curso é baseado nessa discussão em grupo, onde o papel do professor é estimular o diálogo dos grupos e tirar dúvidas. É comprovado que a retenção do conhecimento é muito maior nesse modelo do que em uma aula expositiva.

O modelo de ensino vem ao encontro do déficit de profissionais de saúde no Brasil?

O que mais temos, na verdade, é uma desproporção regional. Se considerarmos Sul e Sudeste, a proporção de médicos pela população é bem semelhante à encontrada em países desenvolvidos e àquilo que a Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza. Mas quando a gente vai para a região Norte, aí você tem uma carência de especialistas, de know-how e de expertise multiprofissional. Isso ficou muito exacerbado e escancarado na pandemia.

No Brasil, a doença que mais mata é a cardiovascular e existe uma falta de especialistas no Norte e Nordeste. O Einstein, por sua vez, tem conseguido mitigar esse problema por meio da telemedicina. São teleconsultas feitas com especialistas em municípios no norte da Amazônia, no norte do Pará. Para um especialista chegar em alguns municípios de até 30 mil habitantes, ele precisa andar 24 horas de barco. Hoje, o Einstein coloca um ponto de telemedicina com antena e notebook e essa consulta é feita de forma remota, com a participação do médico de família dentro da unidade básica. São quase 200 mil atendimentos feitos desde a metade de 2021 em 307 pontos de atendimento de telemedicina, em uma parceria com o Ministério da Saúde. Agora estamos expandindo essa estrutura para o Mato Grosso. Isso tem tido uma resolutividade das doenças de 95%. Ou seja, apenas 5% dos casos precisam se dirigir a grandes centros para a realização de procedimentos.

Como surgiu a ideia do Hospital Oncológico que vocês estão construindo?

Quando falamos de envelhecimento da população brasileira e do aumento da expectativa de vida, é impossível não olhar para os problemas que a longevidade traz, como as doenças crônicas e especialmente o câncer. Estima-se que, por ano, aparecerão 19 milhões de casos. O Brasil vai dobrar o número de idosos em 30 anos. Então essa é uma pressão do sistema de saúde. Vimos uma oportunidade de trazer toda a expertise voltada ao centro de medicina personalizada, com base em sequenciamento genético, com novos modelos de diagnóstico e de tratamento em um hospital oncológico, um cancer center. Esse projeto está em andamento e será inaugurado no início de 2026. É um projeto de um novo hospital onde haverá toda e qualquer infraestrutura, equipamento, centro cirúrgico e diagnóstico pautado por muito humanismo, além de medicina integrativa.

Os planos de saúde têm atrasado o pagamento aos hospitais credenciados. Como vocês estão lidando com isso?

Há uma crise na saúde suplementar e isso impacta na sobrecarga do setor público. A frequência de uso do sistema de saúde aumentou muito, portanto as operadoras passaram a ter prejuízos recorrentes. Além disso, os reajustes não acompanharam esse aumento de sinistralidade. Como provedores, temos procurado contribuir para esse sistema no sentido da prática assistencial que evita desperdício, ou seja, de entregar o melhor desfecho para o caso. De certa forma, pactuamos com as operadoras de saúde para que a gente faça uma medicina que leve em conta o custo do mercado e reduza o desperdício.

Vemos muitas vezes o uso incorreto do sistema por parte do paciente. O que poderia ser resolvido por meio de telemedicina, acaba sendo levado a um pronto atendimento de altíssima complexidade. Isso encarece o processo. Outro aspecto é a falta de uma medicina preventiva, que busque alterar hábitos para prevenir situações de urgência. Existe uma oportunidade grande para uma prevenção de saúde populacional, aliada a uma boa experiência para o paciente, para coibir o desperdício. Há uma parceria grande com as operadoras, porque o sistema é um só, seja público ou privado.

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