Mercado

Luis Stuhlberger: o cenário do criador do Verde Asset para 2024

Denize Bacoccina

O mais celebrado gestor de fundos de investimentos do Brasil, Luis Stuhlberger, criador do Fundo Verde (hoje Verde Asset Management), conhecido por gerar retornos bem acima do mercado aos seus investidores, fez nesta terça-feira, 30, uma avaliação do cenário brasileiro e internacional num painel no Latin America Investment Conference, do UBS BB.

“O Brasil parece um bom lugar para alocar capital. Eu não diria no máximo possível, mas moderadamente. Um otimismo moderado” afirmou.

Stuhlberger, que é CEO do Verde Asset, também descartou um colapso da China, como muitos temem, se disse surpreso com a inflação em baixa persistente no Brasil e elogiou o desempenho do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na avaliação dele uma pessoa boa, consciente. “Enquanto Lula for o chefe de Estado e Haddad na prática for o chefe de governo, mesmo que isso não esteja no job description, estamos bem.”


Veja o cenário traçado por ele para a economia brasileira e mundial para 2024.

Estados Unidos

A economia americana continua muito sólida, apesar de uma alta de juros sem precedente. A surpresa é o emprego alto.

China

Não acho que a China vai ter um “Lehman moment”. Ela tem problemas, como a redução da população e o mercado imobiliário, que se tornou impagável. A China é o único país que nos últimos 30 anos não teve um ciclo de baixa no mercado imobiliário. Toda vez que ia ter o governo impediu. Mas nem por isso vai ter uma crise como a do Lehman Brothers. O cenário central é uma queda lenta e gradual.

O comprometimento da renda com a casa não deixa sobrar muito para o consumo, que vai diminuir. Nada dramático, mas reduz o PIB e isso vai gerar e exportar deflação para o mundo.

Em algum momento, acho que o governo da China vai se convencer que deve desvalorizar a moeda.

Uma coisa que vai maravilhosamente bem na China e não é comentado é a balança comercial. Em 2019 era perto de US$ 300 bilhões. Hoje está em US$ 600 bilhões.

Trump

Minha impressão é que ele vai ganhar. Mas ele já se sentou naquela cadeira por quatro anos e sabe que uma coisa é o que se promete na campanha e outra é o que se faz. Sobre aumentar tarifas e fazer o preço subir para o consumidor americano, não é tão fácil.

Inflação e juros no Brasil

A inflação no Brasil não para de surpreender para baixo. Cada mês que passa as previsões para 2024 estão mais baixas. Hoje está em 3,40% e dependendo do preço da energia pode ser até menor.

O fiscal é preocupante, mas estamos encerrando o ano com o mesmo déficit fiscal de 2019. A foto é razoável, o filme a gente sabe que é ruim.

O orçamento de 2024 está R$ 300 a R$ 350 bilhões acima do extinto teto. No curto prazo acho que dá para se levar com um certo conforto. 2024 terá um déficit fiscal em torno de R$ 80 bilhões. É um número que o mercado já assimilou.

O que ajuda muito é que o governo não tem maioria no Congresso para votar o aumento de gastos. O governo não leva tudo. Temos três poderes que funcionam autonomamente.

Enquanto o Lula for um chefe de estado e o Haddad for, na prática, o chefe de governo, mesmo que isso não esteja no job description, estamos bem. É uma pessoa boa, consciente, pode não pensar igual à gente em tudo, mas é uma pessoa responsável, com boas ideias.

Não vejo um grande risco no curto prazo. E o país está com uma balança comercial espetacular. E não só em preço de agrícolas. Segue aumentando a produção de minério, a área plantada, a produção de petróleo. Daqui a pouco vamos ter uma balança comercial de US$ 150 bi.

Investir no Brasil

Somos um país beneficiado pela geopolítica. Não tanto quanto o México, mas extremamente beneficiado. O Brasil parece ser algum lugar que você pode fazer uma alocação de ativos sem imaginar que vai ter um grande setback motivado pelo Brasil. Claro, se vem motivado pela China ou por uma alta forte de juros lá fora, a gente não é uma ilha, os mercados emergentes sofrem.

O Brasil parece um bom lugar para alocar capital. Eu não diria no máximo possível, mas moderadamente. Um otimismo moderado.

Carteira do Verde neste momento

O Verde sempre teve uma carteira de ações. Já foi de 30% hoje está 14%, 15%. Uma parte alocada em crédito. Desde 2007 tem uma posição estrutural numa NTN-B de 10, 12 anos. Já é um hedge.

Temos também uma posição de moedas – real, peso mexicano e rupia indiana.

Não temos uma grande estrutura de hedge porque a gente vê um cenário global melhor. Posição de otimismo moderado para ter alguns pontos acima do CDI. Um retorno de 5%, 6% ao ano.

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