Otimismo com o Brasil, riscos com a China
Denize Bacoccina
Taxas de juros em queda, inflação sob controle, perspectivas de valorização de ativos imobiliários, abertura para investimentos estrangeiros na área ambiental são algumas das vantagens do mercado brasileiro neste ano, na avaliação de analistas, executivos e investidores que participaram do primeiro dia do Latin America Investiment Conference, do UBS BB, nesta segunda-feira, 29, em São Paulo.
Se o cenário é positivo para o Brasil – apesar das restrições que muitos fizeram às contas públicas e ao comportamento do governo, com tendência à expansão dos gastos – a preocupação fica por conta da incerteza sobre a solidez da economia chinesa. E do impacto que uma crise no gigante asiático pode provocar no restante do mundo, com variação no preço das commodities exportadas pela América Latina, desvalorização das moedas locais em relação ao dólar, aumento das taxas de juros nos países desenvolvidos como proteção e expansão da moeda em circulação, com consequente efeito na inflação.
Ou seja, tudo está indo bem, até que tudo mude.
O alerta foi dado pelo CEO da SPX Capital, Rogerio Xavier, num painel em que falou sobre o cenário do Brasil e do mundo para este ano. Ele traçou um quadro bem otimista para o país, ressaltando que ficou positivamente surpreendido com o crescimento de 3% do PIB no ano passado e com a diminuição da inflação para dentro da meta, fez um mea culpa por ter errado as previsões e até disse que embora não goste do arcabouço fiscal não se importa porque acha que ele vai cair com o tempo, assim como aconteceu com o teto de gastos. “É inequívoco que estamos na direção de uma melhora”, afirmou sobre a sucessão de reformas que vem sendo feitas por sucessivos governos desde Michel Temer, incluindo a reforma tributária.
Em seguida, falou sobre os riscos. Que, na avaliação dele, vêm da China.
“Estou cada vez mais apreensivo com a China. Consigo imaginar um cenário de acordar amanhã com uma queda de 10% na bolsa chinesa”, afirmou. Para ele, a situação da economia chinesa é como a de grandes bancos, que não quebram de um dia para o outro, mas aos poucos, com pequenos estalos que vão minando a sua estrutura.
“Eu estou mais otimista com o mundo. Mas vou ficar com os olhos o tempo todo na China”, afirmou. É de China que pode vir o risco. Estou colocando todo o time de pesquisa focado na Ásia e indo pra a China pra ver pessoalmente”, disse ele.
O acirramento da crise – ou competição – entre Estados Unidos e China também foi mencionado como uma oportunidade para a América Latina, assim como o crescimento populacional e de renda nos países em desenvolvimento. Já a crise na China também foi reforçada pelo economista Marcos Troyjo, fellow da Oxford & Insead e ex-presidente do Banco dos BRICS. “A China deixou de ser um país de baixo custo e muitas empresas estão saindo de lá para outros países. Muitos estão indo para o México”, afirmou.
A disputa entre China e Estados Unidos também foi o tema do historiador Niall Ferguson, professor de Harvard, Oxford e Stanford e autor de vários livros sobre história e política, que apresentou uma série de dados comparando os dois países, para afirmar que não vê mudança da liderança americana.
Oportunidades para o Brasil
As oportunidades em investimentos no Brasil foram destacadas em outros painéis, como um com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e um debate com gestores de fundos com ativos imobiliários. “O Brasil está recuperando a credibilidade ambiental para voltar a atrair investimentos”, disse a ministra, lembrando que foi muito procurada por estrangeiros durante sua participação no Fórum Econômico Mundial, em Davos, há duas semanas, e que participou de sete painéis e 12 reuniões bilaterais, além de inúmeras conversas de corredor, cafés da manhã, almoços e jantares.
Todos, disse Marina, começavam a conversa agradecendo o retorno do país à agenda ambiental. “E eu pensava: e daí?”, contou a ministra, referindo-se à falta de promessas de investimentos na área. “Nós não condicionamos proteger a nossa floresta a que nos dêem dinheiro, mas queremos apoio e parceria”, afirmou.
Para o setor imobiliário, o cenário é otimista, especialmente com a queda dos juros e a perspectiva de valorização dos ativos tanto para venda quanto para aluguel. “2024 parece ser um ano promissor”, disse André Freitas, CEO e CIO da Hedge Investments, ressalvando que não aprova notícias que vieram do governo, como pacote fiscal e ameaça de intervenção em empresas privadas. “Apesar dessas ameaças, o quadro interno e externo é de tranquilidade. A queda de juros nas principais economias e o corte no Brasil já estão contratados e o horizonte é bastante promissor para fundos imobiliários”, afirmou.
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