“Meritocracia existe quando você tem oportunidades iguais”
Engajada em pautas identitárias, Luiza Trajano diz que quer trazer mais profissionais negros para seus negócios
Em setembro de 2020, o Magazine Luiza lançou seu primeiro programa de trainee só para pessoas negras. O objetivo era corrigir as deficiências estruturais, promover a diversidade e dar mais relevância para a Magalu no mercado. A iniciativa, porém, gerou uma onda de comentários negativos e preconceituosos na internet. “Para mudar paradigmas você leva paulada mesmo”, diz Luiza Trajano, bem humorada.
A repercussão fez o CEO da empresa, Frederico Trajano, escrever uma carta aberta, que terminava com o que seria o norte da política de diversidade da empresa para os anos seguintes. “Temos a obrigação de corrigir tudo aquilo que consideramos como nossos problemas. É isso o que estamos fazendo”, afirmou.
O ocorrido acabou fomentando uma discussão sobre o que de fato são inclusão e diversidade reais nas empresas, e também trouxe mais profissionais negros ao quadro da Magalu: ao todo o programa de trainee recebeu 22 mil inscrições. “A gente tinha que fazer o programa muito bem feito. Tanto eles (os trainees) tinham que dar certo quanto nós, porque romper (paradigmas) é uma coisa muito séria”, diz Luiza.
Na avaliação da executiva, para mudar o mundo corporativo é preciso também mudar a sociedade. E, para isso, diz, reconhecer os problemas e desafios é fundamental. Luiza lembra que o racismo estrutural é um problema sério e que é necessário um trabalho em todas as áreas da empresa para quebrar o viés inconsciente. “Eu já vivi e já me confrontei com o meu racismo estrutural. Nós temos que fazer um processo educativo”, afirma.
Luiza gosta de reforçar que a sua preocupação com a diversidade racial vem de muito antes dos indicativos de ESG existirem. Quando ainda era CEO do Magazine Luiza, a executiva enfrentou uma certa resistência ao exigir que mais profissionais negros fossem contratados. Também teve que ouvir de seus pares de outras empresas que a inclusão era uma questão de meritocracia, logo os melhores profissionais sempre teriam oportunidades. Mas, para Luiza, essa lógica é falha. “Meritocraria existe quando você tem oportunidade igual. Quando você não tem oportunidade, não tem meritocraria”, diz.
Luiza ainda reforça que trazer mais profissionais negros para o Magalu é o primeiro passo de uma mudança que deve levar em conta a construção da carreira desses colaboradores. “A gente tem que lutar para que os negros tenham cargos maiores”, afirma.
Para os próximos anos, acredita que o assunto diversidade será cada vez mais relevante e que a pandemia ajudou a deixar os consumidores mais exigentes com a postura das empresas, em especial diante das pautas identitárias. Além disso, o ESG passou a exigir que esse programas de diversidade e inclusão fossem efetivos, afetando diretamente o valor das empresas no mercado. “As empresas estão buscando se adequar mesmo, porque agora passou a valer dinheiro”, conclui Luiza Trajano.
Texto: Juliana Destro
Fotos: divulgação
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