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O cérebro no mundo digital – Os desafios da leitura na nossa era

Autor: Maryanne Wolf

Ideias centrais:

1. Não sou contra a revolução digital. Na verdade, é de primordial importância acompanhar os impactos crescentes das diferentes mídias, se tivermos que preparar nossas crianças, onde quer que vivam, para que leiam em profundidade e bem, em qualquer mídia.

2. A qualidade com que lemos qualquer sentença ou texto depende, porém, das escolhas que fazemos quanto aos tempos que alocamos aos processos de leitura profunda, independentemente do meio.

3. Pela descrição de Frank Schirrmacher, o problema é que os ambientes contemporâneos nos bombardeiam constantemente com novos estímulos sensoriais, à medida que dispersamos nossa atenção por múltiplos aparelhos digitais na maior parte do dia e, frequentemente, da noite.

4. Os problemas de atenção tornam-se mais preocupantes quando consideramos as crianças mais velhas, porque o tempo gasto em frente às telas dobra ou triplica chegando a mais de 12 horas por dia para adolescentes, com a variedade de seduções geradoras de dependência oferecidas pelas atrações digitais.

5. Quem ensina as crianças entre 5 e 10 anos de idade deve dar uma atenção ampla e explícita a todos os componentes do circuito de leitura: desde os fonemas e sua conexão com as letras, até os significados e funções das palavras e morfemas presentes nas sentenças.

6. Eu quero que as crianças aprendam a ser capazes de paciência cognitiva. O slogan festina lente (apressa-te devagar), usado por Italo Calvino, pretende libertar-nos das maneiras redutoras como a maioria de nós lê hoje em dia: depressa se der, devagar se precisar. Dispor de paciência cognitiva é recuperar um ritmo de tempo que permite prestar atenção consciente e intencionalmente.


Sobre a autora:

Maryanne Wolf é neurocientista e recebeu diversos prêmios acadêmicos. É incansável defensora do letramento das crianças ao redor do mundo. Trabalha como diretora do Center for Dyslexia, Diverse Learners, and Social Justice na Ucla (Universidade da Califórnia). Produziu mais de 160 publicações científicas.


Resumo:

Carta número 1: A leitura: o canário na mente

Curiosamente, estive envolvida por algum tempo num diálogo desse tipo. Depois que escrevi Proust and the Squid, recebi centenas de cartas de leitores de todos os tipos: figuras literárias famosas preocupadas com seus leitores; neurocirurgiões preocupados com seus estudantes de medicina nos hospitais universitários de Boston; estudantes do ensino médio que haviam sido obrigados a ler um trecho de meu livro no exame de estado de Massachusetts. Me emocionou o fato de que os estudantes tenham ficado surpresos por me ver preocupada com sua geração. Essas cartas me mostraram que aquilo que tinha começado como um livro sobre história e ciência de leitura tinha se transformado num alerta sobre problemas que hoje se tornaram reais. O ato de refletir sobre os principais assuntos com que se debatiam os escritores de minhas cartas me preparou para selecionar os temas de cada carta deste livro e também para a escolha deste gênero.

Não será proposta nenhuma solução binária neste livro. Um dos frutos mais importantes da minha pesquisa envolve a decisão de trabalhar por um letramento global, no qual advogo abertamente o uso de tablets, e faço sugestões, como um meio de corrigir o não letramento, particularmente para crianças sem escolas, ou em escolas inadequadas. Não sou contra a revolução digital. Na verdade, é de primordial importância acompanhar os impactos crescentes das diferentes mídias, se tivermos que preparar nossas crianças, onde quer que vivam, para que leiam em profundidade e bem, em qualquer mídia.

Carta número 2: Debaixo do grande chapéu: uma visão não usual do cérebro leitor

Tudo começa com o princípio da “plasticidade dentro de limites” no projeto do cérebro. O que me deixa maravilhada não são as múltiplas funções sofisticadas do cérebro, mas a sua capacidade de ir além de suas funções originais (que recebemos como parte de nosso equipamento biológico) – como a visão e a linguagem – para desenvolver capacidades totalmente desconhecidas, como as de ter de lidar com números. Para tanto, cria um novo conjunto de caminhos, conectando e às vezes realocando componentes de suas estruturas básicas mais antigas a novas funções. Pense-se no que faz o eletricista quando lhe pedem que coloque uma fiação nova numa casa antiga, acrescentando uma luminária moderna que não tinha sido prevista. Sem desmerecer o eletricista, nosso cérebro executa nossa reinstalação de um modo muito mais engenhoso. Ao ser defrontado com algo novo que tem que ser aprendido, ele não só realoca seus componentes originais (isto é, as estruturas e os neurônios responsáveis por funções essenciais como a visão e a audição), mas consegue reequipar alguns grupos de neurônios dessas mesmas áreas para satisfazer as necessidades específicas da nova função.

Não é por coincidência, porém, que os grupos neuronais que têm suas funções mudadas compartilham funções semelhantes com a função nova. Como notou o neurocientista parisiense Stanislas Dehaene, o cérebro recicla e mesmo realoca redes neuronais que são cognitiva ou perceptualmente relacionadas às novas funções. Isto é maravilhoso exemplo da plasticidade de nosso cérebro dentro de limites.

Carta número 3: A leitura profunda… está em perigo?

A beleza cognitiva dessas trocas interativas consiste em que elas aceleram tudo desde a percepção até a compreensão. Aceleram a percepção, estreitando as possibilidades daquilo que leremos em seguida, chegando a um conjunto de palavras que correspondem àquilo que Gina Kuperberg chama predições “proativas”. É o que qualquer smartphone faz atualmente quando digita suas palavras, mesmo que, eventualmente, o faça com erros malucos (e às vezes embaraçosos). Essas predições, por sua vez, têm origem em várias fontes, incluindo nossa memória de longo prazo de trabalho daquilo que acabamos de ler e nossa memória de longo prazo de conhecimentos de fundo estocados. Juntas, essas interações entre a percepção, a linguagem e os processos de leitura profunda aceleram nossa compreensão, porque nos permitem ler uma sentença de vinte palavras como uma soma de informações proporcionadas por vinte palavras lidas uma depois da outra.

A qualidade com que lemos qualquer sentença ou texto depende, porém, das escolhas que fazemos quanto aos tempos que alocamos aos processos de leitura profunda, independentemente do meio. Tudo aquilo que consideraremos daqui em diante neste livro – desde a cultura digital, os hábitos de leitura de nossos filhos e dos filhos de nossos filhos até o papel da contemplação em nós mesmos e na sociedade – fundamenta-se em compreender a alocação do tempo, de importância crucial, mas nunca assegurada, aos processos que formam o circuito da leitura profunda.

A empatia envolve, portanto, conhecimento e sentimento. envolve abandonar conjeturas do passado e aprofundar nossa compreensão intelectual de outras pessoas, de outra religião, de outra cultura ou época. Neste momento de nossa história coletiva, a capacidade de ter um conhecimento empático dos outros pode ser nosso melhor antídoto para a “cultura da indiferença” descrita por líderes espirituais como o Dalai Lama, o bispo Desmond Tutu e o papa Francisco.

Carta número 4: “O que acontecerá com os leitores que fomos?”

Pela descrição de Frank Schirrmacher, o problema é que os ambientes contemporâneos nos bombardeiam constantemente com novos estímulos sensoriais, à medida que dispersamos nossa atenção por múltiplos aparelhos digitais na maior parte do dia e, frequentemente, da noite, que está sendo encurtada pela concentração nesses dispositivos. Um estudo recente da corporação Time Inc. sobre os hábitos das pessoas na faixa dos 20 anos, no que diz respeito aos meios de comunicação, indicou que elas mudavam de fonte de mídia 27 vezes por hora. Em média, atualmente, elas checam o telefone celular entre 150 e 190 vezes por dia. Enquanto sociedade, somos continuamente distraídos por nosso ambiente, o que nossos circuitos de hominídeos favorece e incentiva. Não vemos ou ouvimos com a mesma qualidade de atenção, porque lemos e ouvimos demais, nos acostumamos e pedimos mais.

É fácil a confusão sobre nossos hábitos de leitura nestes anos de transição de uma cultura baseada no letramento para uma cultura mais influenciada digitalmente. Quer nos baseemos nos relatórios do NEA ou em outros mais recentes, a realidade atual é que ficamos tão inundados por informações que uma pessoa comum nos Estados Unidos de hoje lê por dia o mesmo tanto de palavras que pode ser encontrado em um romance. Infelizmente, é raro que essa leitura seja contínua, constante ou concentrada; pelo contrário os 34 gigabytes consumidos em média pela maioria de nós representam um pique espasmódico de atividade após o outro. Não surpreende que romancistas americanos como Jane Smiley temam que o romance, que requer e premia uma forma especial de leitura contínua, possa vir a ser “marginalizado” pelo dilúvio crescente de palavras que nos sentimos obrigados a consumir diariamente.

Carta número 5: Criar filhos numa época digital

Portanto, os circuitos de leitura ainda não formados no jovem, defrontam-nos com desafios singulares e com um conjunto complexo de questões: em primeiro lugar, os primeiros componentes cognitivos no circuito de leitura que se desenvolverem serão alterados pela mídia digital antes, durante e depois que as crianças aprenderem a ler? Em particular, o que acontecerá com o desenvolvimento de sua atenção, memória e conhecimento de fundo – processos que sabemos serem afetados nos adultos pelas multitarefas, pela rapidez e pela distração? Em segundo lugar, supondo que sejam afetados, as mudanças irão afetar a configuração dos circuitos de leitura experiente resultantes e/ou a motivação para formar e sustentar as capacidades de leitura profunda? E, por fim, o que podemos fazer contra os potenciais efeitos negativos das diferentes mídias sobre a leitura, sem perder suas contribuições imensamente positivas para as crianças e para a sociedade?

Quais são os objetos de nossa atenção e como prestamos atenção neles faz toda a diferença em como pensamos. No desenvolvimento da cognição, por exemplo, as crianças aprendem a focar sua atenção com concentração e duração crescentes desde a infância até a adolescência. Aprender a se concentrar é um desafio essencial, mas cada vez mais difícil, numa cultura em que a distração é onipotente. Os jovens adultos podem aprender a ser menos afetados quando passam de um estímulo para outro porque têm sistemas inibidores mais bem formados, que, em princípio, oferecem a opção de anular a distração contínua. Não é o caso das crianças mais novas, cujos sistemas inibidores e outras funções executivas de planificação em seu córtex frontal precisam de um longo tempo para se desenvolver. A atenção, nos muito jovens, está ao alcance de quem a capturar primeiro.

Esses problemas tornam-se mais preocupantes quando consideramos as crianças mais velhas, porque o tempo gasto em frente às telas dobra ou triplica chegando a mais de 12 horas por dia para adolescentes, com a variedade de seduções geradoras de dependência oferecidas pelas atrações digitais.

Não poderia haver descrição mais dolorosamente realista da capacidade avassaladora dos mundos digitais de criar dependência nos jovens do que o retrato que Allegra Goodman, em seu romance The Chalk Artist, faz de Aidan, um jovem muito inteligente e impressionável, que vive parte em Cambridge, Massachusetts, parte no mundo virtual do jogo chamado EverWhen. Este garoto amável e sensível gasta todas as horas em que está acordado (e a maior parte daquelas em que deveria estar dormindo) num mundo virtual sangrento, ao qual acaba dando prioridade, com consequências trágicas.

Carta número 6: Do colo para os computadores de colo (laptops) nos cinco primeiros anos. Não vá tão depressa

Tanto numa perspectiva cognitiva como uma perspectiva socioemocional, eu gostaria que os dois primeiros anos da vida de leitura fossem o equivalente à infância da maravilhosa exortação de juliana de Norwich: “Tudo estará bem, e tudo estará bem, todo tipo de coisas estará bem”. Veja: tudo vale a pena quando você lê para seu filho. É quase infinito o bem que você faz aos vários componentes do circuito de leitura. Cada peça componente precisa ser desenvolvida individualmente durante os cinco anos que se passam antes que a criança aprenda a ler. Lembre simplesmente que cada livro sobre trens intrépidos e porquinhos assustadiços, para não falar do ratinho que se esconde em um lugar diferente a cada página de Goodnight Moon, ajuda a transmitir um novo fragmento de informação sobre os inúmeros conceitos subjacentes que cercam esses pequenos habitantes da infância. Tudo isso levará o pequenino a aprender como funcionam a vida e as palavras.

Como afirmam tanto Andrew Piper quanto Naomi Baron, a leitura não tem a ver somente com o cérebro das crianças pequenas; envolve o corpo como um todo: elas veem, cheiram, ouvem e sentem os livros. E, se os pais forem compreensivos e indulgentes, também os saboreiam. Isso não acontece com a tela que não tem colo. Colocar na boca um iPad não é exatamente a mesma coisa. Ver, ouvir, morder e tocar os livros ajuda as crianças a fixar o melhor das conexões multissensoriais e linguísticas, naquele período que Piaget chamou apropriadamente de estágio sensório-motor do desenvolvimento cognitivo.

O quarto do bebê não é o “quarto onde tudo acontece” para todas as crianças. Há crianças que não provêm de lares linguisticamente favorecidos e para os quais o acesso aos recursos digitais inexiste. Patrocinadas incialmente pelos esforços de Nicolas Negromonte no Media Lab do MIT, Cyntia Breazeal e eu ajudamos a criar uma iniciativa global voltada para o letramento que evoluiu para o Curious Learning, com os colegas Tinsley Galyean, Stephanie Gottwald e Rubin Morris. Juntos, estamos estudando a eficácia de tablets digitais com aplicativos cuidadosamente supervisionados e projetados, aproveitáveis tanto no aprendizado da língua oral, como para serem usados na preparação para a leitura em lugares onde não há escolas e onde a disponibilidade de professores é limitada, como nas áreas da África do Sul, em que temos atuado, nas quais há entre 60 e 100 crianças em cada sala de aula.

Carta número 7: A ciência e a poesia no aprendizado (e no ensino) da leitura

Além disso, o conhecimento sobre o cérebro leitor pode ajudar professores de qualquer método a perceber quais degraus na escada podem estar faltando no modo como ensinam as crianças. O circuito de leitura ativa tudo aquilo que conhece. Assim deve fazer também nosso ensino durante todo o período dos 5 aos 10 anos. Nessa perspectiva, quem ensina às crianças entre 5 e 10 anos de idade deve dar uma atenção ampla e explícita a todos os componentes do circuito de leitura: desde os fonemas e sua conexão com as letras, até os significados e funções das palavras e morfemas (por exemplo, as menores unidades de significado) presentes nas sentenças; passando pela imersão em histórias que requerem processos de leitura profunda cada vez mais sofisticados; até a prática de mandar as crianças expor pensamentos e imaginação, oralmente e por escrito.

Precisamos investir em dotar os professores do final do ensino infantil até o fim do fundamental 1 de novos conhecimentos – desde os que foram elaborados pela pesquisa sobre as implicações do cérebro leitor para a avaliação precoce, a previsão e métodos multidimensionais mais individualizados de ensinar a leitura, passando por iniciativas sobre leitura e linguagem que alcancem a escola como um todo, até chegar às ferramentas de aprendizado de base digital. Nossas crianças do século XXI precisam desenvolver hábitos mentais que possam ser usados em vários meios e mídias. Portanto, nossos professores também precisam muito mais conhecimento do que têm atualmente sobre como o aprendizado digital pode contribuir para resolver a presente crise de nossos estudantes – sem exacerbar os crescentes problemas de atenção, conhecimento de fundo e memória.

Carta número 8: Construindo um cérebro duplamente letrado

Proponho um plano relativamente simples, possivelmente inusitado, para introduzir diferentes formas de leitura e aprendizado de base impressa e de base digital durante o período dos 5 aos 10 anos. Seu arcabouço mais geral baseia-se naquilo que sabemos sobre a criação de duas línguas, cujos pais falam cada um uma língua diferente, sendo que aquele que passa mais tempo com a criança fala a língua menos falada fora de casa. Nessas condições, as crianças bilíngues pequenas aprendem a falar bem as duas línguas. Gradualmente, superam os inevitáveis erros que surgem quando se passa de uma língua para a outra e, no final, são capazes de explorar seus pensamentos mais profundos em ambas. Um fato muito importante é que, durante este processo, elas aprendem a alternar habilmente um código e outro. Quando chegam à idade adulta, seus cérebros são obras-primas de flexibilidade cognitiva e linguística, o que podemos observar de maneiras fascinantes.

Como mostra o trabalho inovador feito por Claude Goldenberg e Elliot Friedlander na Universidade de Stanford e na Instituição Save the Children, os falantes bilíngues ou multilíngues passaram anos indo de uma língua para outra. Não são só mais ágeis em recuperar palavras e conceitos, mas há pesquisas indicando que são também mais capazes de abrir mão de seus pontos de vista pessoais, e assumir as perspectivas de outras pessoas.

É isso que quero que se tornem nossos leitores iniciantes: comutadores de código experientes e flexíveis – no presente entre os meios impressos e digitais, e mais tarde entre dois ou múltiplos meios de comunicação.

Carta número 9: De volta ao livro

Durante estes últimos momentos juntos, portanto, peço que você experimente aquilo que Italo Calvino descreveu como um “ritmo do tempo que passa com o único objetivo de deixar que os sentimentos e os pensamentos assentem, amadureçam e abandonem toda impaciência ou contingência efêmera”. Ele usou a expressão latina festina lente, que se traduz “apressa-te devagar”, para sublinhar a necessidade do escritor de retardar o tempo. Uso essa expressão aqui para ajudar você, leitor, a vivenciar a terceira vida de maneira mais consciente: conhecendo como acalmar o olho e permitir que seus pensamentos assentem e aquietem, preparados para aquilo que está por vir.

Eu quero que as crianças aprendam a ser capazes dessa paciência cognitiva, e peço que agora você recupere aquilo que possa ter perdido. O festina lente liberta de maneiras redutoras como a maioria de nós lê hoje em dia: depressa se puder, devagar se precisar. Dispor de paciência cognitiva é recuperar um ritmo de tempo que permite prestar atenção consciente e intencionalmente. Você lê depressa (festina) até tornar-se consciente (lente) dos pensamentos que cabe compreender, da beleza que cabe apreciar, das questões que cabe lembrar e, com sorte, dos insights que cabe revelar.

Nessa perspectiva, festina lente oferece duas metáforas para todos os pensamentos deste livro sobre as mudanças na leitura. Num nível macro, nos orienta a percorrer a transição para uma cultura digital: devemos nos apressar ao encontro com o futuro, mas examinar esse futuro lentamente, lançando mão de nossas melhores reflexões. Num nível micro, é uma metáfora para o arco inteiro do circuito de leitura do bom leitor: decodificamos automaticamente até que a percepção se transforme em conceitos, estágio em que o tempo fica conscientemente mais lento, e todo o nosso ser fica tomado pela correnteza em que o pensamento e o sentimento se juntam.

Eu nunca poderia ter imaginado que a pesquisa sobre as mudanças no cérebro leitor, que refletem em grande parte adaptações progressivas à cultura digital, teria implicações para uma sociedade democrática. Mas é essa a minha conclusão. Num diálogo entre Umberto Eco e o cardeal Carlo Maria Martini, o cardeal reiterou uma opinião atemporal do processo democrático que é pertinente para esta conclusão: “O jogo delicado da democracia proporciona uma dialética de opiniões e crenças na esperança de que essa troca expandirá a consciência moral coletiva que é a base de uma convivência ordeira”.


Ficha técnica:

  • Título: O cérebro no mundo digital – Os desafios da leitura na nossa era
  • Título original: Reader, come home: the reading brain in a digital world
  • Autora: Maryanne Wolf
  • Primeira edição: Editora Contexto
  • Resenha: Rogério H. Jönck
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