O poder do aprendizado incidental para transformar a cultura de aprendizagem nas empresas

Monica Miglio Pedrosa
Depois do lifelong learning e do lifewide learning, vem aí o aprendizado incidental. O conceito, desenvolvido por Conrado Schlochauer, fundador da nōvi e referência em cultura de aprendizagem, é também o título de seu segundo e recém-finalizado livro, com lançamento previsto para junho. Speaker principal do RH Lunch, evento exclusivo do Experience Club, que recebeu 50 líderes e gestores de RH hoje, em São Paulo, ele explicou que o aprendizado incidental abrange todo conhecimento adquirido de forma não planejada, que surge a partir de experiências cotidianas, encontros, interações inesperadas e de exposição ao novo.
A intencionalidade é uma condição vital para que o aprendizado incidental aconteça, é o subproduto da vida que uma pessoa tem. Conrado ressaltou que, na vida adulta, muitas vezes as pessoas entram em rotinas de vida que não abrem espaço para o que ele chama de “exploração aberta”, algo natural na infância, quando a curiosidade é o que move o aprendizado.
O aprendizado incidental, na visão de Conrado, acontece em três etapas: despertar, explorar e transformar. O despertar envolve assumir o protagonismo sobre o próprio desenvolvimento e dar abertura para viver experiências. “A curiosidade é um estágio motivacional, que você escolhe desenvolver. É aquela pessoa que, ao ir a um evento, prefere sentar em uma mesa onde não conhece ninguém, em vez de ficar apenas entre conhecidos”, exemplificou.
A etapa de explorar exige uma boa dose de presentismo, ou seja, de viver o momento presente. “Nossa visão de mundo foi construída no passado. Estamos apaixonados pelo futuro. E o presente está sozinho aqui”, disse, provocando a reflexão da plateia. Explorar é também ampliar os locais que frequenta, seja em uma viagem ou na escolha do lazer do fim de semana. Outra forma de explorar é a arte, que ativa a emoção e conecta as pessoas com suas sensações.
Já o momento de transformar envolve mudar o olhar sobre si mesmo, sobre os outros e sobre o cotidiano. “Existe uma palavra que eu amo, que é infraordinário. É tudo aquilo que não é extraordinário, mas acontece nos detalhes do dia a dia”, explicou, enfatizando ainda a importância de se permitir olhar para o outro sem julgamentos e investir no autoconhecimento.
Uma prática simples, mas poderosa, é manter um Learning Journal, um diário de aprendizagem onde, pelo menos duas vezes por semana, a pessoa registra, preferencialmente à mão, o que aprendeu. Essa escrita ajuda a consolidar os aprendizados e a dar sentido às experiências vividas.
Como os RHs podem estimular o aprendizado incidental nas empresas?
Na visão de Conrado, o modelo atual da aprendizagem corporativa, centrado em treinamentos formais, com conteúdo definido pela empresa, precisa ser reinventado. E o estímulo ao aprendizado incidental pode ser o caminho para essa transformação.
Fazendo um paralelo com as três etapas do aprendizado incidental, ele sugeriu que as empresas comecem pelo despertar, promovendo ações que estimulem o aprendizado no dia a dia. No explorar, é importante ousar e pensar em formatos novos, que fujam do óbvio. Já para transformar, é preciso investir em tempo para rituais de aprendizagem dentro dos times.
Entre os exemplos práticos de como colocar isso em prática estão a criação de diálogos semanais de aprendizagem, para estimular as trocas de conhecimento; e a abertura de espaço, ao fim das reuniões, para que as pessoas compartilhem algo novo que tenham aprendido.
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