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Portal de Compras Públicas negocia R$ 60 bilhões por ano

Govtech já atende 40% dos municípios brasileiros e oferece plataforma a custo zero para fomentar as transações com o poder público, abrindo oportunidades para atuação no segmento 

Fique ligado:

  1. A maioria das empresas não tem informações sobre as licitações e os processos de compras públicas.
  2. Existem regras muito claras e rígidas para ser contratado, por isso é essencial conhecer o rito de contratação e as regras do jogo para aproveitar melhor as oportunidades.
  3. Mudança na legislação tornou obrigatória realização de pregões eletrônicos, o que impulsionou o negócio da startup nos últimos anos.
  4. Os processos licitatórios presenciais, que levavam em torno de 90 dias, são realizados de forma eletrônica em 21 dias, em média.
  5. Além de efetivar os pregões digitais pela plataforma, o Portal facilita o entendimento e o match entre a oferta do comprador – municípios – e a venda do fornecedor.

O decreto 10.024, publicado pelo governo federal em setembro de 2019, que tornou obrigatória a realização de pregões eletrônicos para a compra de bens e serviços por governos estaduais e municipais, foi um dos fatores que impulsionou o crescimento exponencial do Portal de Compras Públicas, a partir daquele ano.

A pandemia, o trabalho remoto e a digitalização do setor foram os demais catalisadores. Nos últimos dois anos, a govtech, que atendia cerca de 300 municípios em 2019, pulou para 2.400, que representam mais de 40% das prefeituras do país. 

Fundada em 2016 pelos irmãos Leonardo e Bruno Ladeira, o Portal de Compras Públicas disponibiliza uma plataforma transacional que permite às prefeituras realizar seus pregões eletrônicos a custo zero. Atualmente o Portal transaciona R$ 60 bilhões em licitações por ano. Seu modelo de negócios é baseado em assinatura para licitações com valores acima de R$ 50 mil.

“Segundo nossas estimativas, temos 27 mil potenciais compradores pois, além dos municípios, os estados, autarquias e ONGs, qualquer ente que receba verba de transferência voluntária da União precisará de uma plataforma eletrônica até 2023”

Leonardo Ladeira, CEO do Portal de Compras Públicas

“Hoje, 20% dos processos do Portal são totalmente gratuitos. Isso foi desenhado com essa orientação, já que em transações até este valor a maior parte dos fornecedores são MEIs e EPPs. Assim, não oneramos quem tem pouca capacidade financeira”, diz Ladeira. 

Os processos licitatórios presenciais, que levavam em torno de 90 dias, são realizados em média em 21 dias de forma eletrônica. A startup, que já havia atingido o break even no início de 2019, antes mesmo desse crescimento exponencial, recebeu um aporte de R$ 2,5 milhões da Cedro Capital no final daquele ano.

A govtech está nadando de braçada em um mercado de “mato alto”, conforme aponta o executivo. “Segundo nossas estimativas, temos 27 mil potenciais compradores pois, além dos municípios, os estados, autarquias e ONGs, qualquer ente que receba verba de transferência voluntária da União precisará de uma plataforma eletrônica até 2023”, conta. 

Origem: Fornecedor de sistemas para municípios 

“Sou analista de sistemas de informação, trabalhei com ERP e com soluções de CMS no início da Internet no Brasil, em 1996. Fui funcionário da Confederação Nacional de Municípios, depois prestei serviço para eles. Então, tinha uma conexão com o movimento municipalista, suas necessidades e a diversidade das prefeituras em cada região do país, nos diversos Brasis. Eu e meu irmão começamos a desenvolver sistemas para os municípios em 1999. Em 2002, nasceu a Lei do Pregão Eletrônico. De 2002 até 2013, seguimos fornecendo soluções tecnológicas para os municípios. Até que, em 2013, mudamos completamente nosso modelo de negócios.” 

Pivotagem para escalabilidade 

“Passamos de desenvolvedores de software para terceiros para prestadores de serviços White Label. Ou seja, passamos a desenvolver para nós mesmos e oferecer a solução para os municípios, ao invés de vender o sistema para cada prefeitura. Além de ser um processo de venda lento e difícil, o modelo não era escalável. Nossa empresa já era economicamente sustentável, então foi uma decisão dura, pois deixamos de cobrar dos municípios e transferimos essa cobrança para o fornecedor, de acordo com o que a lei permite, que é uma taxa de uso do sistema. O processo de migração do modelo durou três anos.” 

Nasce o Portal de Compras Públicas 

“Lançamos oficialmente o Portal em 2016, com 200 municípios compradores, e conseguimos mostrar que é possível prestar serviço para o governo sem onerar o setor público e sem criar uma fatura pesada para ninguém. Hoje, a cobrança mensal mais alta de nossos serviços é de R$ 144. Para compras de até R$ 50 mil, em que há dispensa de licitação pela lei 14.133, o pregão é realizado de forma gratuita. Isso também favorece as micro e pequenas empresas, que são as principais fornecedoras neste patamar de vendas.”      

Match entre a oferta e a demanda 

“Além de efetivar os pregões digitais pela plataforma facilitamos o entendimento e o match entre a oferta do comprador – municípios – e a venda do fornecedor. Os municípios associados à nossa plataforma abrem os editais e nós avisamos os fornecedores aptos das oportunidades. Atendemos hoje quase 2.400 municípios brasileiros, ou seja, mais de 40% de representatividade nacional. Temos atualmente 290 mil fornecedores em nossa plataforma.” 

Machine learning para ativar ofertas 

“Após participar do programa BNDES Garagem, começamos a investir em novas tecnologias, como machine learning, para desenvolver um sistema de recomendação e permitir que a demanda encontre a oferta mais qualificada, tanto em qualidade como em custo. Hoje, nossa oferta é baseada em uma lista de 580 itens com dois níveis de detalhamento. Queremos melhorar a granularidade disso facilitando o detalhamento das ofertas para os fornecedores e recomendando a ele demandas que ele não havia visto que se tratavam de oportunidades para seu negócio.” 

Educação e conteúdo  

“A maioria dos fornecedores não tem informações sobre as licitações e os processos de compras públicas. Temos um papel importante de educar tanto os fornecedores como os compradores. Desenvolvemos uma plataforma de EAD e de geração de conteúdo, com podcasts e lives, para cada um dos dois públicos. Para dar um exemplo concreto: se uma licitação tem 2 mil itens, o fornecedor normalmente não se qualifica a participar pois ele só consegue atender 10 itens da lista. Mas ele pode participar da licitação até de um item somente, só que não sabe disso.” 

Tempestade perfeita 

“O ano de 2019 nos presenteou com uma mudança na legislação que esperamos 18 anos para acontecer: foi assinado o decreto-lei 10.024 que tornou o pregão eletrônico obrigatório. A partir daí, os municípios que ainda estavam de certa forma cômodos em realizar o pregão presencial começaram a se adequar e têm até abril de 2023 para adotar 100% dos processos para o modelo eletrônico. Já havíamos atingido o break even no início de 2019 e, no fim deste ano, recebemos um aporte da Cedro Capital no valor de R$ 2,5 milhões. Nos últimos dois anos, pulamos de 300 para 2.400 municípios compradores no Portal.”  

Mato alto 

“Ainda há um espaço gigantesco para crescer, pois, além dos municípios, temos os estados, as estatais, as autarquias e todo e qualquer ente que receba verba de transferência voluntária da União e que precisa migrar para o pregão eletrônico. Estimamos um potencial de 27 mil possíveis compradores neste mercado.”  

Internacionalização 

“Vimos uma oportunidade para entrar em Portugal com nossa solução, que vai ser a porta de entrada para a União Europeia. Por conta dos tratados da EU, o processo de compra é muito estruturado e com pequenas adequações entre os países. Ao entrar por Portugal, temos o desafio de vencer o regulatório europeu sem nos preocupar com o idioma. É um universo de apenas 10 milhões de habitantes portugueses, enquanto no Brasil atendemos hoje 85 milhões de habitantes que representam as prefeituras que atendemos. Se começássemos pela América Latina, por onde a maioria das startups inicia, seria um aprendizado do zero em cada país.” 

Preparando um BI público 

“Iniciamos um projeto interno de montar um BI (Business Intelligence) público para expor a quantidade enorme de dados e informações que temos acesso no portal. Isso vai ser disponibilizado de forma gratuita, pois a informação é pública, somos somente seu fiel depositário. O BI irá aumentar a visibilidade do gestor e a visão da sociedade do que está acontecendo nas compras públicas.” 

Govtechs: desafios e oportunidades 

“O primeiro grande desafio dos empreendedores é entender como o governo contrata. Existem regras muito claras e rígidas e que valem para todos, inclusive para as govtechs. É essencial conhecer o rito de contratação e as regras do jogo para aproveitar melhor as oportunidades. O segundo ponto é ter claro qual é a dor que você está resolvendo, qual é o seu público-alvo, de que região? O Brasil é um país continental e tem uma logística gigante. Não adianta querer ofertar para todo mundo logo no início. Recomendo escolher uma região para começar e aos poucos ir crescendo. É importante dizer que não dá para imaginar que uma só solução vai atender a toda a diversidade de municípios do Brasil.”

Imagem: Divulgação

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