“Precisamos de um novo equilíbrio entre o físico e o digital”
Quais são os aspectos pessoais – e até mesmo espirituais – que vão se sobressair na cultura do trabalho após a passagem do coronavírus? Em tom bastante emocional, o segundo debate da série LIVE 300 CEOs abordou os problemas práticos enfrentados na quarentena e os efeitos de longo prazo nas organizações, na economia e na sociedade.
A live realizada nesta quinta-feira, 2 de abril (na imagem, do alto da esq. para a dir.), foi moderado pelo CEO do Experience Club, Ricardo Natale e teve a participação do empreendedor e palestrante Murilo Gun (Hard Work Papai), ao lado dos líderes empresariais Alain Ryckeboer (Leroy Merlin), Alê Lafer (Vitacon/Housi) e Daniel Castanho (Ânima Educação). O debate contou com patrocínio da Alper e Athié Wohnrath.
No território do gerenciamento da crise, o CEO da Leroy Merlin Brasil destacou que a empresa, após sucessivos fechamentos de parte das 42 lojas em 12 estados, a companhia decidiu encerrar todas as portas, até que o governo liberou a reabertura do comércio de material e construção esta semana, por reconsiderar como atividade essencial. “Nós tivemos 95% de queda no faturamento, mas as vendas nos canais online, que representavam 5%, praticamente quadruplicaram”, destacou Ryckeboer.
Na Vitacon, Alê Lafer explicou que o trabalho nos canteiros de obras continua, com respeito às determinações governamentais e critérios de segurança sanitária redobrados. Dessa forma, trabalhadores que recebem por jornada continuam com fonte de renda assegurada. Já na plataforma digital Housi, o empresário conta que o modelo de locação e consulta de imóveis de maneira remota disparou. “É a comprovação da eficiência do modelo digital, mesmo em um mercado como habitação”.
Na mesma linha, Castanho destaca que as universidades da Ânima firmaram parceria com a Vivo para oferecer acesso às plataformas digitais e manter a grade letiva sem interrupção.
NOVAS PRIORIDADES
O presidente do conselho da Ânima foi enfático no papel dos líderes diante de uma crise que vai muito além do impacto econômico. “Nós estamos numa gaiola de ouro. Quando eu paro para pensar nas pessoas perdendo seus empregos, nas comunidades, aí bate a angústia”, desabafou.
Uma das iniciativas é criar um movimento para assegura renda da maioria da população. Nesse sentido, ele destacou o lançamento da iniciativa #nãodemita, com a união de 160 grandes empresas para assegurar a manutenção de empregos por pelo menos dois meses.
“Estou numa reflexão sobre prioridades. A grande mudança é que ninguém mais vai estar feliz simplesmente com os resultados da empresa. O que é o melhor negócio?” – Daniel Castanho
LIDERANÇA E EQUILÍBRIO
Em momentos críticos como agora, um dos maiores desafios das empresas é conseguir manter a motivação e o controle emocional para manter a continuidade dos negócios. O CEO da Leroy Merlin, que afirma ter ficado “tenso” em um dia da quarentena, mas que conseguiu conduzir os momentos mais difíceis com tranquilidade, destacou que esse aspecto é muito importante para a operação diária.
“Em situações de muito stress é que os colaborares esperam do líder equilíbrio, boa comunicação e proximidade” – Alain Ryckeboer
Para o CEO da Vitacon e a Housi, o equilíbrio dará o tom da nova concertação da sociedade, das empresas – e até mesmo das cidades – em consequência aos efeitos prolongados do coronavírus. Essa busca terá de ocorrer na política, nas relações pessoais, na combinação do trabalho em home office e presencial, e até mesmo no propósito das organizações. A grande descoberta, segundo ele, está no coeficiente humano embutido na tecnologia.
“Numa sala de reunião, às vezes você nem olha no olho do outro que está na outra ponta da mesa. Online, nós estamos face a face. É uma mudança sem volta” – Alê Lafer
ESPIRITUALIDADE
Dedicado ao estímulo à criatividade, o fundador da Hard Work Papai enfatizou que o coronavírus trouxe um fato importante de reflexão. “A natureza deu a ordem: é hora de distribuirmos recursos”.
A necessidade de atender ao próximo também terá impacto, segundo ele, em como a sociedade elencará suas prioridades daqui para frente. E como isso terá consequências nas empresas e nas qualidades que serão cada vez mais valorizadas nos colaboradores.
“Se até agora havia um movimento nas empresas de trabalhar a inteligência emocional, agora será a vez da espiritualidade. É a inteligência emocional 2.0” – Murilo Gun
Será um retorno ao básico, o que exigirá uma nova forma de aprendizado e de questionamento do que é essencial ao indivíduo.
Texto: Luana Dalmolin e Arnaldo Comin
Imagens: Reprodução
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