Gestão

Remoto, presencial ou híbrido: qual modelo prevalece quatro anos após a explosão do home office?

Monica Miglio Pedrosa

Quatro anos depois da mudança quase obrigatória para o trabalho remoto e um ano após o fim oficial da pandemia, como está a demanda do mercado de trabalho por posições no modelo remoto, presencial e híbrido?

A grande tendência hoje é o modelo híbrido, na visão de Lucas Toledo, Diretor Executivo da Michael Page. “Estatisticamente, o modelo mais adotado é o 3 x 2, três dias trabalhando de casa e dois no escritório, ou o inverso, que é o preferido das empresas”, diz.  As exceções à regra, de acordo com ele, aparecem em empresas mais tradicionais, em setores como energia, construção civil ou engenharia, que têm tentado voltar para o full presencial ou quatro dias no escritório. Empresas do segmento industrial também têm o predomínio do presencial, e muitas mantiveram esse padrão já em 2020.

Na outra ponta estão os profissionais de tecnologia. “Para atrair uma pessoa de TI para trabalhar cinco dias por semana no escritório, a dificuldade, em uma escala de 0 a 10 é 10”, diz. Para Lucas, as empresas de tecnologia estão competindo pelos talentos com empresas globais, que têm ofertas de trabalho remota, o que acaba puxando a balança para uma oferta mais aderente aos interesses dos candidatos.

Há também variações do modelo híbrido de acordo com a cultura e o país de origem das empresas. “Empresas asiáticas, do Oriente Médio e do Leste Europeu têm uma tendência maior ao presencial, empresas europeias têm uma flexibilidade maior ao modelo. Empresas familiares também tendem a pedir que as pessoas estejam mais no escritório”, diz.

Outra variável que influencia na equação de dias presenciais x remotos é o cargo que a pessoa ocupa. Na demanda de vagas da Michael Page a oferta de maneira geral é a seguinte:

– Alta Direção (CEOs, CFOs, Diretores de Operação) – 4 dias por semana

– Diretores de RH, Marketing, Vendas – 3 dias presencial, 2 dias em home office

– Média e Baixa Gestão – 3 dias presencial, 2 dias em home office

Aumento de salário como trade-off para vagas 100% presenciais

Se as empresas tendem a voltar ao presencial, como está o nível de aceitação dessa nova realidade de mercado por parte dos colaboradores? Segundo a 27ª edição da pesquisa Índice de Confiança da Robert Half, que ouviu 1.161 profissionais, o modelo híbrido com dias presenciais definidos pela organização é o mais adotado (43%) pelas empresas. Ainda assim, 35% têm exigido a presença diária dos funcionários no escritório, contrastando com apenas 6% da força de trabalho que quer o regime 100% presencial. A preferência pela modalidade híbrida, com dias escolhidos pelos colaboradores, é a mais desejada (47%) por eles e a obrigação ao retorno 100% presencial levaria 65% dos profissionais a buscarem uma nova colocação no mercado.

“Pedir para alguém ir cinco dias da semana presencialmente ao escritório exige um trade-off, tem um impacto no salário, que precisa ser maior”, afirma Lucas. “Em posições de tecnologia estamos falando de salários 30% a 40% maiores para vagas 100% presenciais ou de 10% a 15% maiores em empresas tradicionais.”

Esse cenário, de acordo com Lucas, acontece especialmente em grandes cidades como Rio e São Paulo, onde o deslocamento até o escritório pode levar até 1h30 devido ao trânsito, além da questão da segurança dos executivos, que ficam mais expostos à violência urbana durante o deslocamento.

Luciana Lima, professora do Insper e especialista em neurociência confirma essa visão: “É muito tranquilo falar de trabalho presencial para o individuo que mora na esquina do trabalho dele, mas essa não é a realidade do nosso país. Algumas pessoas demoram de uma hora e meia a três horas por dia para chegar no trabalho. Você acha que elas vão desempenhar tudo o que precisam?”

De acordo com Luciana, a fricção que existe entre o que as empresas e os colaboradores querem em relação ao modelo de trabalho pode ter um impacto direto na performance do time.  “Se estamos falando que, de fato, a empresa quer tirar o melhor e o máximo de cada um, não vai ser nesse nível de imposição que ela vai conseguir”, argumenta.

Para ela, cada empresa tem sua cultura e necessidades, portanto as decisões deveriam ser tomadas com base em dados, não em preferências pessoais. “Se eu tenho uma evidência que um time não produz bem remotamente, é preciso vir presencialmente. Não porque eu gosto disso. Será que as decisões estão sendo tomadas de forma racional ou com base em crenças?”, pondera.

O que algumas empresas estão praticando no Brasil:

iFood – “Mais de 30% dos profissionais vivem fora de São Paulo, onde fica nosso escritório. Isso nos coloca frente a uma decisão crucial: manter esses talentos, mesmo à distância, ou arriscar perdê-los exigindo a presença física? Eu não posso me conformar em perder esses talentos pela obrigatoriedade do presencial, nem mesmo assistir a produtividade do time cair porque o ambiente de trabalho não atende às necessidades de todos. A responsabilidade é minha de fazer o melhor funcionar: manter talentos e ter ótima produtividade.” – Diego Barreto, CEO do iFood, em post público em sua rede social.

StarkBank – A empresa, sediada em São Paulo, tem mais de 80 profissionais, todos trabalhando de forma 100% presencial. Na sede do escritório está sendo construída uma área de convivência, com bar e área de reuniões para encontros com os funcionários e clientes.

Nubank – A empresa mantém o modelo híbrido e a única regra é de uma semana presencial a cada três meses. A decisão foi tomada a partir de insights do time de People Analytics, que analisou dado de produtividade e de entrega e de outros KPIs.

O que algumas empresas estão praticando globalmente:

Dell – Em 2023, a companhia estabeleceu que os funcionários que moram a menos de uma hora de distância de um escritório da empresa trabalhem presencialmente pelo menos três dias por semana. Neste ano foi além e determinou que quem não seguir as regras não será elegível para promoções.

Amazon – Segundo o Financial Times, funcionários receberam uma advertência por não cumprirem a meta de comparecer ao escritório três vezes por semana.

Tesla –  Em meados de 2022, Elon Musk foi o primeiro a condenar completamente o trabalho híbrido enviando um e-mail a todos os funcionários dizendo que ou eles voltavam 100% ao presencial ou saíam da empresa.

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