Tecnologia

Tendências de tecnologia para empresas em 2024: o futuro pertence à IA

Por Fábio Barros

Nunca foi tão fácil prever as tendências tecnológicas que devem dominar o mercado corporativo. Ao contrário de outros anos, em que duas ou três tecnologias disputavam a atenção das empresas, 2023 foi dominado pela Inteligência Artificial e deve continuar assim ainda por algum tempo.

O Vice-Presidente de Consultoria e Soluções Estratégicas da IDC, Alejandro Floreán, destaca que, embora tenha desafios pela frente, o mercado corporativo fará um grande investimento em Tecnologia da Informação em 2024, especialmente em Inteligência Artificial (IA) e computação em nuvem. “Estamos em um grande momento para soluções de IA, incluindo IA generativa, com muitas empresas estudando como trabalhar, treinar e adotar estas tecnologias”, afirma.

Citando o estudo FutureScape: Latin America IT Industry, o executivo lembra que 95% dos projetos de transformação digital em planejamento pelas organizações consideram o uso de ao menos uma nuvem pública. “Estes fatores devem fazer com que os investimentos em TI corporativa cresçam 11% em 2024”, diz, em relação à América Latina. No caso do Brasil, a expansão é ainda maior, de 13%.

Segundo Floreán, a maior parte destes investimentos irá para as soluções de IA, seguidas pelos serviços de nuvem pública. “O fato é que o crescimento do uso de IA vai impulsionar os serviços de nuvem, principalmente o uso de plataforma como serviço (PaaS)”, diz. É neste contexto que o executivo aponta algumas tendências para os próximos anos, tais como:

  • Até 2027, as cinco mil maiores empresas da América Latina alocarão mais de 25% dos principais gastos de TI em iniciativas de IA, levando a um aumento de dois dígitos na taxa de produto e inovações de processo;
  • Com os fornecedores de tecnologia destinando 50% dos investimentos em P&D, pessoal e CAPEX para IA/automação até 2026, os CIOs terão dificuldade para alinhar a seleção de fornecedores de TI com as prioridades de operações com novos casos de uso;
  • Até 2028, 35% dos contratos de serviços incluirão entrega habilitada para IA generativa, desencadeando uma mudança nos serviços focados em estratégia, mudança e treinamento prestados por humanos, para preparar as organizações para a IA em todos os lugares;
  • Em 2027, 80% da infraestrutura, segurança, dados e aplicativos dependerão de tecnologias avançadas e plataformas de controle para prestação coordenada de serviços habilitados por IA, mas apenas metade das empresas irão utilizá-los de forma eficaz;
  • Até 2026, todas as novas marcas, produtos e serviços de TI direcionados a segmentos não atendidos serão baseados na forte integração de diversos serviços de IA, que fornecerão novos recursos a custos mais baixos;
  • Até 2027, 40% das cinco mil maiores empresas da América Latina aproveitarão experiências onipresentes, análises de ponta e IA generativa para permitir que seus clientes criem suas próprias jornadas de experiência, melhorando o resultado e o valor desejados pelo cliente.

“Todos estes processos enfrentarão desafios nos próximos anos, principalmente os relativos à cibersegurança e regulações, que precisam acompanhar essa evolução”, afirma. Outros focos de atenção, segundo Floreán, seriam o cuidado com colaboradores e clientes e o foco nas novas regras de compartilhamento de dados e conformidade.

"Estamos em um grande momento para soluções de IA, incluindo IA generativa, com muitas empresas estudando como trabalhar, treinar e adotar estas tecnologias" - Alejandro Floreán, vice-presidente de consultoria e soluções estratégicas da IDC

Quem também aposta no protagonismo da Inteligência Artificial é o Gartner. Entre suas principais previsões estratégicas para 2024, o instituto prevê que a IA generativa traz oportunidades de realizar coisas antes impossíveis e que isso fará com que CIOs e executivos de alto escalão abracem os riscos de utilizá-la. Por isso, a previsão é de que 2024 será o primeiro ano completo no qual a IA generativa estará no centro de todas as decisões estratégicas, liderando todas as demais inovações tecnológicas.

Com isso, também o Gartner tem suas previsões em relação aos próximos anos, entre elas:

  • Até 2027, as ferramentas de IA generativa serão usadas para explicar os sistemas legados e criar substituições adequadas, reduzindo os custos de modernização em 70%;
  • Até 2028, os gastos das empresas no combate à desinformação ultrapassarão US$ 30 bilhões, consumindo cerca de 10% dos orçamentos de marketing e de segurança cibernética para combater uma ameaça multifacetada, que é a geração de informações falsas com uso da IA generativa;
  • Até 2027, 45% dos diretores de segurança da informação (CISOs) ampliarão suas atribuições para além da segurança cibernética devido à crescente pressão regulatória e à expansão das áreas de ataque;
  • Até 2028, haverá mais robôs inteligentes do que trabalhadores na linha de frente nos setores de manufatura, varejo e logística devido à escassez de mão de obra;

Mudanças na agenda de tecnologia da informação

A Diretora-Executiva da CI&T para a América Latina, Renata Feltrin, deixa claro que a IA não se trata mais de um hype. “Estamos falando de algo que muda ou potencializa os desafios de toda a agenda de tecnologia, especialmente os grandes projetos corporativos.”

Justamente por isso, a tecnologia deve permear qualquer tendência tecnológica que se estabeleça daqui para frente. Para ela, mesmo que o foco de um projeto seja ganho de eficiência, preservação do legado ou segurança, a IA estará presente como uma nova forma de atingir esses objetivos. “A IA embarcada vai ajudar nos mais diversos processos de maneira mais eficiente. Isso é o interessante nessa grande mudança que veremos já em 2024”, acredita.

Para Renata, o ano de 2023 foi o da descoberta do que ela chama de “novo martelo” e o mercado entrará agora em um novo momento, o de encontrar os melhores usos para esta nova ferramenta, agora gerando engajamento e transformando mercados e modelos de negócio. Alguns destes usos já estão se tornando evidentes.

"Em 2024 veremos casos de uso com IA nos setores de varejo, educação e saúde, que trabalham com muitos dados e apostam na personalização para transformar seus resultados de negócios." - Renata Fletrin, diretora-executiva da CI&T

Em uma pesquisa realizada com seus 20 maiores clientes no Brasil, a CI&T obteve uma fotografia do que realmente será o foco destas organizações no ano que vem. “Os principais pontos citados por estas empresas foram ganhos de eficiência e automação de recursos existentes, integração e simplificação de sistemas, melhoria na jornada do cliente e segurança e proteção de dados. Tudo parte de uma agenda de preparação para que a onda da IA possa ser surfada mais à frente”, prevê.

Nesse contexto, Renata acredita que o maior impacto da IA, já em 2024, será sentido em projetos de ganho de eficiência. É o caso do setor de TI, em que a IA vem sendo utilizada como agente para acelerar e garantir a produtividade no desenvolvimento de soluções digitais.

Outros setores também devem se destacar já no ano que vem, como varejo, educação e saúde. “São áreas que trabalham com muitos dados e devem apostar na personalização para transformar seus resultados de negócios”, afirma.

Para atuar nessa nova dinâmica de mercado, a CI&T vem desenvolvendo sua própria plataforma de IA – a Flow – para ajudar as empresas a serem mais eficientes. Toda a operação de desenvolvimento de software da companhia já roda nesta plataforma, que tem uma série de clientes atuando como codesenvolvedores. “Temos hoje cerca de 20 clientes rodando na plataforma e a perspectiva é chegarmos ao final de 2024 com pelo menos 100 clientes. Em um ano, desenvolveremos software de uma maneira totalmente diferente”, diz Renata.

Em outra frente, a CI&T vem ajudando seus clientes a construir uma visão de governança e um roadmap estratégico para a implantação de IA em seus negócios. Para isso, desenvolveu em parceria com a Box1824 – empresa do próprio grupo – um modelo que ajuda a estruturar a construção de uma visão de oportunidades, riscos e governança, além da construção do roadmap de implantação.

A IA no centro da infraestrutura

A onipresença da IA no mercado não trata apenas do desenvolvimento de soluções, mas também da construção de uma infraestrutura que possa fazer uso dela em todas as frentes. É o caso da Amazon Web Services, provedor de serviços em nuvem que no final de novembro anunciou uma série de serviços e funcionalidades e deixou claro que a IA generativa agora é parte integrante da nuvem.

Os anúncios mostraram que a IA generativa estará presente em todos os setores e que a AWS segue com o compromisso de democratizar seu uso, apresentando cada vez mais soluções que facilitam a vida dos usuários sob os mais diversos pontos de vista. Um exemplo é a integração nativa entre soluções de dados e de IA, considerada crítica para o sucesso da inovação.

O destaque dos lançamentos ficou por conta do Amazon Q, um agente baseado em IA generativa focado em negócios e que pode ser adaptado às demandas dos usuários, fornecendo respostas rápidas e relevantes para perguntas urgentes, gerando conteúdo e agindo – tudo isso baseado em bancos de dados próprios dos usuários, podendo personalizar interações para cada um com base nas identidades, funções e permissões existentes em uma organização.

"Temos mais de 100 mil clientes utilizando aplicações de IA, como a Allen Institute, ONG que vem trabalhando no mapeamento do cérebro humano. Ela usa a IA para descobrir padrões de aceleração de doenças." - Alexandre Coqueiro - diretor de tecnologia da AWS para AL, Canadá e Caribe

Para o Diretor de Tecnologia da AWS para a América Latina, Canadá e Caribe, Alex Coqueiro, não há como delimitar os impactos que a IA trará ao mercado: ela deve atender todos os segmentos de negócios existentes. “Não se trata mais de novas tecnologias, mas de como combinar os melhores métodos para obter os melhores resultados”, afirma.

Coqueiro ressalta que a IA não é mais uma tendência, mas uma realidade já presente com diversos usos. Ele lembra que a AWS tem hoje mais de 100 mil clientes utilizando aplicações de IA, o que tem produzido uma série de referências. “Um bom exemplo é o da Allen Institute, uma ONG que vem trabalhando no mapeamento do cérebro humano e desenvolvendo uma base de dados open source para estudos do cérebro. Ela utiliza IA para descobrir padrões de aceleração de doenças”, diz.

Outros exemplos incluem o Booking.com, que usa IA para sugerir pacotes de viagens aos seus clientes, e a Delta Airlines, que está utilizando um sistema de modernização dos canais de atendimento aos passageiros, disponibilizando políticas de viagem, passagens, informações etc. “São exemplos bastante claros de utilização de IA já em curso. São usos rotineiros e hoje é possível identificar muitas empresas já trabalhando nisso”, diz.

Isso vale para o mercado brasileiro que, de acordo com Coqueiro, está na vanguarda em termos de uso da tecnologia. Por aqui, ele destaca os exemplos da Embratel, que adota IA para acelerar seus processos de desenvolvimento de software, e o Nubank, que usa a inteligência artificial para fazer aconselhamento financeiro personalizado aos clientes.

Por enquanto, os principais casos de uso são identificados em áreas como aumento de produtividade e transformação de negócios. “Estamos falando de fazer o alinhamento da visão estratégica com a mensuração de resultados”, diz, reforçando a importância da democratização da tecnologia.

Foi com foco na popularização do uso de IA que a AWS anunciou, também em novembro, o PartyRock, uma plataforma gratuita que permite que pessoas sem conhecimento de tecnologia possam utilizar a IA. “Ela encapsula uma série de funcionalidades de IA, que podem ir desde um plano diretor estratégico até um plano de estudo”, explica. A iniciativa é parte dos esforços da companhia em qualificação de mão de obra, com meta de capacitar 29 milhões de pessoas até 2025.

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