Unicórnio recruta desenvolvedores brasileiros para empresas nos EUA e Canadá
Fundada por dois indianos formados em Stanford, startup mira o mercado latino-americano para captar profissionais de TI em falta na América do Norte
Diante da infindável demanda por profissionais de TI no mercado norte-americano, a Turing, startup que virou Unicórnio em apenas quatro anos, após captar US$ 87 milhões em uma rodada de investimento Série D, liderada pela WestBridge Capital no final de 2021, criou uma espécie de Tinder de candidatos para a área, uma plataforma que usa recursos de Inteligência Artificial e técnicas de machine learning para fazer o match dos candidatos com as vagas.
A novidade é que a Turing passou a priorizar, agora, o mercado latino-americano na captação de desenvolvedores. “Além de ter profissionais qualificados, a região tem uma vantagem competitiva que é a de estar em fuso horário similar ao dos Estados Unidos”, diz Natália Yuki, diretora de estratégias e operações da Turing no Brasil, em entrevista ao [EXP].
Segundo a executiva, a plataforma tem, atualmente, mais de 1 milhão de desenvolvedores cadastrados, dos quais 200 mil são latino-americanos, 40% deles no Brasil (cerca de 80 mil desenvolvedores), atraídos, principalmente, pelos salários mais altos, em dólares. “Os brasileiros também têm liderança na região devido ao maior número de profissionais que sabem inglês em comparação com os outros países da América Latina”, explica Natália, ressaltando que, antes, a empresa buscava profissionais na Europa, na Índia e na África.
“Os brasileiros têm liderança na região devido ao maior número de profissionais que sabem inglês em comparação com os outros países da América Latina”
Natália Yuki, diretora de estratégias e operações da Turing no Brasil
Uma das facilidades do processo é que os profissionais selecionados são contratados diretamente pelas empresas, no modelo autônomo (PJ), sem envolver questões legislativas trabalhistas entre os países. “A cada profissional contratado, a Turing ganha um valor percentual pelo sucesso”, afirma a executiva.
Com mais de 800 colaboradores, 60 deles no Brasil, a Turing, fundada pelos indianos Jonathan Siddharth e Vijay Krishnan, formados em Stanford, atende grandes organizações como Johnson & Johnson, Dell e Disney, entre outras. Em 2021, foi a escolhida na categoria B2B da lista de 50 startups mais promissoras da The Information.
Machine learning, como funciona?
A plataforma da Turing permite que todo o processo de inscrição e testes das habilidades técnicas sejam feitos online. O primeiro teste avalia a senioridade do profissional e o classifica como júnior, pleno ou sênior. A seguir, aparecem as avaliações específicas nas diversas linguagens de programação, que incluem testes práticos. “A plataforma monitora os profissionais cadastrados em mais de 100 habilidades técnicas, podendo encontrar o candidato ideal em um prazo de 3 a 5 dias”, afirma a head de operações.
Já para algumas vagas mais seniores ou especializadas, a empresa atua diretamente com um time de headhunters que busca ativamente o profissional no mercado. O processo costuma levar um pouco mais de tempo, já que são feitas adicionalmente entrevistas presenciais, avaliação de habilidades comportamentais e adequação do perfil à organização.
Fique ligado:
- O trabalho remoto tornou realidade a competição global por talentos na área de TI.
- Com a alta demanda, empresas estrangeiras estão contratando até mesmo profissionais brasileiros que não têm domínio do inglês.
- Cada vez mais, as empresas brasileiras disputarão talentos com empresas que pagam em dólares ou em euros.
Não é exigido do candidato ter um inglês fluente, conforme ressalta Natália, porém ele deve ser o suficiente para estabelecer uma comunicação com o time de trabalho. “Esse é um dos maiores desafios da região e procuramos auxiliar o desenvolvimento do inglês por meio da Comunidade Turing. Nela, os profissionais podem ampliar seu networking, se comunicar em inglês e ter aulas no idioma, além de dicas de como se portar na entrevista de emprego.”
Apagão global
Preocupação recorrente entre fundadores e CEOs de empresas brasileiras, a falta de profissionais de TI é antiga, mas o trabalho remoto potencializou o problema. O pernambucano Fred Arruda, então CEO do Cesar no Brasil, centro de inovação sediado em Recife, já falava, há um ano, sobre a defasagem em relação aos salários pagos por empresas brasileiras e as ofertas das estrangeiras, que já estavam “roubando” mão de obra local.
Só no Brasil, estima-se que o setor vai precisar de cerca de 420 mil profissionais, até 2024, segundo relatório da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom). Apesar de o país capacitar 46 mil pessoas com perfil tecnológico aptas a trabalhar em TI, serão necessários 70 mil profissionais ao ano para que as vagas sejam completamente ocupadas.
Hoje, a Turing atua majoritariamente recrutando profissionais para vagas em corporações norte-americanas e canadenses, mas não há restrições para a entrada de empresas de qualquer país, inclusive brasileiras. Afinal, o problema é global. “Mas a demanda na América do Norte é tão grande que eles já têm um “mundo” para explorar por ali”, explica Natália.
Foto: divulgação e Christina @ wocintechchat.com / Unsplash
Texto: Monica Miglio Pedrosa
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