Domo já tem 5 startups em fundos de R$ 200 milhões
A Domo Invest, uma das principais gestoras de venture capital brasileiras, fechou em dezembro a captação de dois fundos no valor de cerca de R$ 100 milhões cada um. Desde então, já selecionou e fez aportes em cinco startups.
“Desse valor, 100% já está captado. A nossa expectativa é que a gente consiga fazer mais uma captação para elevar os dois fundos para R$150 milhões. Esse dinheiro já está disponível para investimento e já estamos investindo”, diz Marcello Gonçalves, sócio da Domo Invest.
Ele conta que a gestora está de olho nas áreas de seguros, educação e saúde para investir seu fundo destinado a empresas com foco no consumidor (B2C), o Domo Ventures 2, e que em breve deve anunciar seus primeiros investimentos.
Já o Domo Enterprise tem como destino startups que atuam no mercado B2B e está sendo investido nas seguintes empresas:
- FindUp, um “uber de técnicos de informática”;
- Rede Vistorias, que presta serviço de vistoria imobiliária;
- Logstore, um software para otimizar a logística de e-commerce;
- Ramper, um software que ajuda as empresas a melhorarem suas vendas B2B;
- Delfos, que utiliza a inteligência artificial para fazer a predição de falhas em usinas de energia alternativa.
Diante desse cenário, Gonçalves vê com otimismo o mercado de venture capital no Brasil. “A gente acredita que é um mercado que está em franca expansão. E também está num momento muito bom de amadurecimento”, diz. “O nosso investimento gera emprego, gera desenvolvimento. O nosso investimento não é um investimento de especulação financeira.”
A Domo, afirma ele, investe em empreendedores inovadores, apoiando startups de tecnologia ainda em estágio inicial, ajudando-as a crescer mais rapidamente e se estabelecerem em mercados competitivos.
Tem atualmente 47 investimentos nos quatro fundos que administra. Seus gestores estão dentre os primeiros investidores em startups como Loggi, Gympass, Hotmart, Descomplica e Quero Educação, entre outras.
Confira a entrevista de Marcello Gonçalves para o Experience Club:
1 – Dois novos fundos
“Em dezembro, a gente fechou a captação dos dois fundos. O Domo Ventures 2 está muito próximo de R$ 100 milhões e o Domo Enterprise hoje é um fundo de R$ 112 milhões”.
“O Domo Ventures tem um foco no consumidor. Então, tudo o que for B2C ou B2B2C, tudo o que envolver o consumidor em alguma parte do processo. No Domo Ventures 1, nós fomos um dos maiores investidores em fintechs. E a gente está apostando muito no Ventures 2 no mercado de insurtechs. Porque a gente acha que a hora de desenvolvimento na área de tecnologia em seguros é agora. A gente está olhando bastante coisa na área de saúde e educação também”.
“O Domo Entreprise é um fundo que tem como objetivo ajudar grandes empresas a ganhar produtividade através de software. Mas não temos foco em um setor específico. A gente tenta procurar soluções que sejam mais transversais para as grandes empresas”.
“A parte de recursos humanos, a parte de logística, a parte de finanças, a parte de techs. São todas áreas em que a gente entende que têm bastante espaço para a inovação e a gente vem buscando startups nesses segmentos”.
“O varejo e o agro a gente acredita que são mercados em que, pelo tamanho, cabe até uma solução específica. Mas, via de regra, a gente tem olhado mais soluções mais generalistas, que atendam grandes empresas”.
“Na parte de Enterprise, do B2B, é que estamos olhando muita coisa de logística, estamos olhando recursos humanos. A parte de fintech para grande empresa, a parte de back office financeiro também tem bastante espaço para melhorar.
“Os dois fundos foram captados em dezembro, ao mesmo tempo. O Enterprise, a gente tinha feito uma primeira captação em março do ano passado e a gente fez uma nova captação no final do ano. O Ventures 2, a gente fez a captação inteira no final do ano quando a gente já tinha encerrado o ciclo de investimentos do Domo Ventures 1”.
“Nosso primeiro fundo, que foi o Domo Ventures 1, um fundo de R$ 102 milhões, já foi investido. Lançamos o Domo Ventures 2, que tem a mesma estratégia, só que para trazer uma nova safra de startups”.
“O Ventures 2 já está negociando o aporte em algumas startups, mas ainda não anunciou nenhum. A gente está para anunciar nosso primeiro investimento do Ventures 2 no próximo mês”.
2 – Investimentos já realizados
“No Domo Enterprise a gente já tem cinco investimentos feitos. A Find Up que é uma empresa que conecta técnicos de informática para suporte on site a grandes empresas, que têm muitos escritórios, como bancos e varejo. Então, vamos supor, a loja três da Riachuelo precisa de um técnico em Recife, em três horas eles colocam um técnico lá”.
“O segundo investimento é a Rede Vistorias, uma rede que presta serviços de vistoria imobiliária. Seja vistoria de entrada ou vistoria de saída. É uma vistoria que é feita por um técnico que vai apresentar um relatório feito a mão, pequeno. Então a gente conseguiu embutir tecnologia nisso e padronizar as vistorias e, com isso, a gente tem hoje quase 1 mil imobiliárias usando nosso serviço”.
“Nosso terceiro investimento foi a Logstore. A Logstore é um software que ajuda o varejo tradicional a ter e-commerce a otimizar a logística. As empresas usam a Logstore quando um cliente faz um pedido online. Ele identifica qual é a loja mais próxima do CEP daquele cliente, manda o pedido para aquela loja para que seja feito o pik and pack, e ordena que a logística retire daquela loja e entregue para aquele cliente da maneira mais próxima, mas rápida e mais barata. A gente reduz o custo do frete, do transporte, da operação de logística”.
“O nosso quarto investimento se chama Ramper. A Ramper é um software que ajuda as empresas a melhorarem suas vendas B2B. A gente faz desde a parte de geração de leads até a parte de cadência de vendas. A área de vendas consegue receber os seus leads e ser muito mais efetiva ao entrar em contato via e-mail, via telefone, em todo o processo de vendas para empresas B2B. Normalmente são empresas que têm uma venda muito pulverizada e precisam trazer muitos clientes”.
“Por último, nosso último investimento, foi anunciado recentemente, é a Delfos. A Delfos é uma empresa de inteligência artificial, que utiliza a inteligência artificial para fazer a predição de falhas em usinas de energia alternativa. Basicamente hoje usinas eólicas, usinas solares, mas já estamos nos movimentando para entrar na parte de usinas de combustível fóssil também. Então, a Delfos é uma empresa para fazer a manutenção preventiva e a predição de falhas em grandes equipamentos.
3 – Contato com startups
“É um trabalho que não para. A gente fala com startups todos os dias. A gente olha cerca de 4 mil startups por ano para investir em 40 ou 50. A gente sempre tem um pipeline quente, sempre está olhando duas ou três que estão a ponto de serem investidas”.
“Às vezes não dá certo, às vezes não acerta preço, às vezes a gente desiste, ou o empreendedor desiste. Mas aquelas que vão até o fim, a gente acaba efetuando o investimento. Mas a gente está sempre olhando coisas novas. O círculo está sempre no começo e no final. Sempre rodando”.
4 – Unicórnios
“Antes da Domo, eu e o Rodrigo Borges, fomos sócios num fundo chamado Koolen and Partners. Esse fundo a gente investiu em doze startups e, dessas doze, três se transformaram em unicórnios. A Loggi, a Gympass e a Hotmart. Depois que a gente fez o investimento na Koolen, que era só dinheiro nosso, um fundo fechado, de cinco pessoas, e que a gente aprendeu a fazer a parte de gestão de fundos, criamos a Domo. E na Domo a gente está hoje no quarto fundo.
5 – Quatro fundos
“A gente tem o Fipe Anjo, que é um fundo que é ancorado pelo BNDES e tem uma série de outros patrocinadores importantes: o Banrisul, o BRDE, o Bandes, o BNB. É um fundo onde a gente coinveste com o investidor anjo, onde a gente vai investir em bastante startups, valores que variam de R$100 mil a R$ 500 mil”.
“Acima disso, a gente tem as duas teses: o Ventures e o Enterprise, consumidor e corporativo. O Ventures já está na sua segunda versão. Então, são os quatro fundos que a gente tem na casa. Um já está totalmente investido e três estão em fase de investimento”.
6 – Corporate Venture
“Não temos um corporate venture. O que temos são, nos nossos fundos, investidores corporativos. Têm corporate ventures que investem nos nossos fundos para ter acesso a startups. Por exemplo, a gente tem como nosso investidor o Grupo Ultra, através do Ultra Corporate Venture, que investe direto em startups que são estratégicas para o grupo, como investe na gente, no Domo Enterprise, para conhecer e ter acesso a startups que trabalham para grandes empresas. A gente trabalha em conjunto com corporate ventures, de preferência com eles investindo na gente.
7 – Amadurecimento do mercado
“O pessoal costuma dizer que o mercado de venture capital está maduro quando o empreendedor que foi investido por venture capital faz uma saída e se torna um investidor”.
“A gente tem aí o caso da turma da 99. Já são grandes investidores de venture capital depois de terem sido investidos e terem feito a saída. Esse é um sinal. Você tem cada vez mais investidores voltando para o mercado e fazendo investimentos”.
“A outra coisa é que a gente tem um fluxo muito maior de investidores. Antigamente, quando a gente começou a captar na Domo, em 2016, era aquela coisa de ‘startup é legal, é divertido, unicórnios, dez vezes, é sexy, mas é perigoso’. Na hora de assinar o cheque, sempre tinha um momento de hesitação. Hoje não. Está muito claro que você tem mais de dez gestoras excelentes no Brasil, com fundos de bastante sucesso. O investidor tem uma gama de oportunidades e de escolhas para fazer bem legal”.
“A gente tem grandes famílias, grandes investidores, as empresas, investindo direto ou por meio de seus corporate ventures, fundos de pensão, as fundações voltando para esse mercado, entendendo que venture capital é um ativo financeiro que tem que estar dentro da carteira de investimentos dos grandes investidores”.
“Nos últimos dois anos a gente viu um amadurecimento muito, muito grande com relação ao venture capital e a gente acredita que o caminho é só para frente”.
8 – Suporte ao empreendedor
“Com nosso investimento, nós vamos suportar uma ideia, um empreendedor, e transformar uma ideia em uma grande empresa. No Hotmart investimos em 2013. Eram seis pessoas. Hoje, são mais de 1500 funcionários, espalhados em sete países. Uma multinacional brasileira”.
“O nosso investimento é um investimento que gera riqueza. É óbvio que existem os casos de insucesso. Não existe fundo de venture capital que só acertou. Nosso jogo é um jogo de perder. Mas é um jogo de ganhar mais do que a gente perde”.
“A única certeza que a gente tem quando abre um fundo é que algumas startups vão quebrar. O importante é a gente ter mais acertos do que erros”.
8 – Índice de sucesso
“O Distrito e o Crunchbase soltaram uma pesquisa que mostra que somente 25% das startups que são investidas, que recebem dinheiro anjo – que é onde a gente está –, chegam à série A, que é o estágio seguinte. O nosso índice na Domo está em 33%. A gente está muito feliz porque a gente está acima da média de mercado”.
9 – Empreendedorismo no Brasil
“A gente vê o empreendedor brasileiro como um empreendedor extremamente criativo. O Brasil oferece muita oportunidade porque tem muita ineficiência, é um país difícil de fazer negócio. Startups estrangeiras demoram a vir para cá porque é muito mais fácil ir para a Europa ou para os Estados Unidos. É até mais fácil para irem para a Ásia do que virem para a América Latina, dada a complexidade dos sistemas tributários, jurídicos, e financeiros aqui do Brasil”.
“Como o Brasil é um mercado muito grande, ele permite que as startups possam nascer aqui e, nascendo aqui, se tornarem internacionais. Como fizeram Gympass e Hotmart, para falar de algumas do nosso portfólio.
“A gente tem visto startups cada vez melhores, empreendedores cada vez mais preparados. E a gente vê isso acontecer na Bolsa, com a abertura de capital de ex-startups, tanto no Brasil quanto fora do Brasil; fundos estrangeiros vindo para o Brasil para investir em startups. É um caminho sem volta”.
10 – Pote cheio
“A gente conseguiu fazer uma captação recorde no final do ano. Enchemos o pote. Completamos R$ 100 milhões para dois fundos. Mas a melhor parte disso foi ver vários investidores que já conversavam com a gente há muito tempo finalmente tomarem a decisão”.
“Tivemos empresas investindo na Domo e fundos de pensão voltando para a mercado de venture capital. Tivemos três fundos de pensão investindo com a gente. E muitas famílias, os family offices. Os bancos também, tendo isso como um produto que eles precisam oferecer para os seus clientes”.
“A gente está bastante otimista com o futuro da nossa captação e entende que venture capital é um negócio de longo prazo. Os fundos são de dez anos, sem liquidez. Não é uma aposta óbvia. Mais e mais pessoas confiando nisso é muito importante para nós”.
Texto: Cláudia Bredarioli
Imagens: reprodução
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