Mercado

É preciso ter um plano de longo prazo – mesmo que às vezes seja necessário replanejar tudo

Ricardo Natale

Imagine uma viagem de oito dias que acaba se transformando numa jornada de oito meses. E tendo que pedir ajuda ao seu concorrente para voltar pra casa em segurança. Na semana passada, a Nasa, a agência espacial americana, anunciou que os astronautas Barry Wilmore e Sunita Williams, que foram à Estação Espacial Internacional numa nave da Boeing Starliner em junho, para uma missão de pouco mais de uma semana, podem ter que voltar à Terra na Crew Dragon, da Space X. E só em fevereiro de 2025.

Os problemas técnicos para o retorno da cápsula da Boeing levaram a uma mudança drástica da missão, com consequências de todo os tipos: do questionamento da segurança das espaçonaves da empresa à necessidade de negociação e cooperação com a Space X, sua maior concorrente neste mercado de tecnologias para viagens espaciais.

Aqui na Terra, no mundo corporativo, muitas vezes nos deparamos com situações deste tipo: circunstâncias externas nos obrigam a rever nosso planejamento para nos adaptarmos a um novo contexto. Um exemplo simples: a explosão do dólar, na semana passada, por causa de uma especulação sobre a economia americana. Fatos novos podem mudar o cenário de curto prazo e levar ao adiamento de investimentos ou, ao contrário, antecipar o lançamento de um produto ou serviço para aproveitar um bom momento ou fazer frente à concorrência.

É preciso ter essa agilidade, analisar as circunstâncias, reavaliar o cenário e refazer a rota quando necessário.

Mas também não podemos cair no erro do imediatismo. Renunciar ao planejamento de longo prazo e ficar olhando apenas para o trimestre.

Conversando com o mercado – já contei aqui que converso com muita gente todos os dias, pelo menos 30 empresas diferentes por semana – vejo empresas que antes tinham seus planos anuais muito bem definidos e agora só estão trabalhando no quarter. E não falo de empresas pequenas, mas de grandes corporações, cujas sedes no exterior ficaram viciadas nos bons resultados do report trimestral e CEOs que não estão conseguindo bancar seus planos nem mesmo de médio prazo.

Na minha visão, esse é o pior caminho. Demonstra insegurança. Insegurança sobre o futuro da economia, insegurança de bancar os investimentos.

Precisamos estar sempre prontos para mudar de direção. Mas não dá pra começar a navegar sem um plano que indique onde você quer chegar.

Carta do CEO

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