É tempo de (re)alinhar a cultura e o propósito das empresas
Vivemos tempos de sucessivas crises que nos levam a questionar a ideia de futuro. Estamos lidando com uma crise de saúde com a pandemia de Covid-19, sem precedentes na história recente da humanidade. Ao mesmo tempo, nos deparamos com uma crise cultural e políticas aguda, em que questões como o racismo estrutural emergem com intensidade. Neste cenário, a princípio sombrio, temos também um horizonte de oportunidades, tanto do ponto de vista individual, quanto das organizações, de revermos as nossas escolhas e de promover mudanças de cultura e propósito que sirvam a um bem comum maior.
“Podemos ativar o nosso ‘instinto de progresso’ para lidar com as crises do nosso tempo. Não devemos esperar passivamente o ‘novo normal’, mas sim adotarmos uma postura ativa e nos perguntarmos como criar este ‘novo normal’”, diz Alain Sylvain, um dos consultores de inovação mais impactantes e responsável pela construção dos Labs das maiores empresas dos Estados Unidos.
Alain foi a principal atração da quarta edição do Experience Lab, que teve como tema central “O propósito da disrupção” (assista na íntegra), e aconteceu na tarde desta quinta-feira, 24/09. Contamos também com a presença de Bedy Yang, gestora do fundo 500 Startups, e atualmente a brasileira mais conectada com os investidores do Vale do Silício, e de Mariano Faria, CEO Global da VTEX, uma das mais inovadoras empresas de cloud commerce. O evento contou com patrocínio master de Indeed, Oi Soluções, Simpress, Ticket e com o patrocínio de LogMeIn e Red Hat.
Confira os principais insights de nossos debatedores:
Alain Sylvain
1- “A pandemia de Covid-19 nos trouxe um senso de humildade. É hora de priorizar a justiça e a equidade. De revisitar o nosso passado e nos conciliar com ele para evoluir. Temos a capacidade de mudar as nossas realidades.”
2- “Para inovar, as empresas precisam assumir riscos. E pode ser o dinheiro investido, as iniciativas que ela suporta, como a organização está estruturada e de que formas ela contrata.”
3- “A diversidade é boa para os negócios, é a alavanca para inovação e crescimento. Mas as empresas não vão conseguir atrair pessoas diversas se continuarem a buscar nos mesmos lugares. Os critérios de contratação têm de ir além das escolas e universidades.”
4- “As pessoas buscam por marcas que refletem quem elas são e seus valores. Antes, as marcas tinham uma postura aspiracional e isso mudou. As empresas estão subservientes aos anseios de seus consumidores.”
5- “Pessoas se identificam mais com as empresas e marcas do que com seus governos por algumas razões. Uma delas é a transparência no posicionamento e na atuação das marcas que hoje refletem muito mais as demandas das pessoas.”
6- “Investir em crescimento e inovação em tempos de crise é uma aposta certa. Mas, é preciso haver um equilíbrio entre as ações defensivas e ofensivas. Investir no que é relevante para os tempos atuais.”
7- “O instinto de progresso é um conceito filosófico que encoraja a união e a capacidade de imaginar futuros melhores.”
8- “O senso de pertencimento é a chave para nutrir os laços entre as pessoas e fortalecer a cultura de uma empresa.”
9- “É preciso deixar as portas abertas para a comunicação. Isso significa que ela precisa ser transparente e ter um fluxo constante nas empresas.”
10- “Estamos vivendo uma polarização que está nos apartando. Em face a esta crise, temos que nos unir em torno de uma linguagem comum que nos conecte.”
11- “Temos que medir o propósito. As pessoas falam muito sobre isso, mas não praticam de um ponto de vista corporativo.”
Bedy Yang
1-“Os investidores miram os unicórnios e não veem as enormes oportunidades de crescimento dos centauros, as startups que faturam entre US$ 100 milhões e US$ 900 milhões.”
2-“Quando montamos o nosso fundo, há 10 anos, 70% dos unicórnios ficavam no Vale do Silício, mas agora mais 50% das empresas estão espalhadas pelo mundo. Não existe mais um monopólio da inovação.”
3-“Não tem mais essa história de ideias novas e bilionárias. As staturps de sucesso têm a visão em comum dos seus fundadores sobre o que será o futuro”.
4-“O desafio do venture capital era antecipar em dez anos as tendências de mercado. A questão agora é que esses dez anos estão comprimidos em dois.”
5-“Indústrias inteiras precisam se reinventar, como a Amazon fez com livros e a Netflix com o streaming. É aí que estão as grandes oportunidades.”
6-“Existe agora uma discussão muito forte sobre o ‘future of work’. Várias startups novas aqui no Vale do Silício nasceram e querem continuar sendo descentralizadas. É o conceito de ‘remote first’.”
7-“Uma tendência importante do mercado é a entrada de Venture Capital cada vez mais cedo nas startups. Os investidores estão apostando cada vez mais em seed money para diversificar o portfólio e não perder oportunidades.”
8-“A presença do Corporate Venture Capital também é cada vez maior nas startups mais jovens. Isso acontece porque as empresas estão dando conta de como é difícil fazer inovação disruptiva dentro de casa. O CVC, que antes era muito pequeno, já responde a mais de 25% dos clientes que nos procuram.”
9-“Antes as empresas acreditavam que, ao criar uma ferramenta, o processo de inovação estavam resolvido, mas agora elas precisam trabalhar com várias ferramentas ao mesmo tempo, além de processos de open innovation. Daí também o CVC como mais uma opção.”
10-“O ‘future as a service’ é uma tendência inexorável. O cloud veio para democratizar o acesso à tecnologia entre as pessoas e as pequenas empresas. É um caminho sem volta.”
Mariano Faria
1-“O mundo deu uma cambalhota, um salto triplo mortal sem rede, e não foi pela Covid-19. Isso já tem 3 ou 5 anos. Então não é possível que as estruturas usadas pelas empresas nos últimos 100 anos sejam capazes de gerenciar o que vem pela frente.”
2-”Os líderes têm que aprender a discutir abertamente sobre os próprios defeito e os da equipe. Quem não erra não evolui. É o poder da vulnerabilidade.”
3-“As grandes empresas que não tiverem a coragem para mudar a sua estrutura dificilmente vão fazer com que o talento permeia você fazer com que o talento permeie a organização.”
4-“Na estrutura atual das empresas, você é pago para subir na hierarquia sem aprender nada sobre as outras áreas. As companhias que conseguem quebrar os silos têm uma explosão de produtividade, o ganho é muito grande.”
5-“Programação é o novo inglês, mas as empresas continuam contratando as pessoas pelo seu título acadêmico. Cada vez mais, a demanda será por talentos digitais.”
6-“Digitalização é cortar na carne as pessoas incapazes de se adaptar ao novo. As companhias precisam comprar, embedar e se embebedar na cultura digital.”
7-“O CEO que não dedica 30% do seu tempo em busca de talentos para a organização não entendeu que o mundo mudou.”
8-“Há cinco anos seria impensável que uma desenvolvedora brasileira de software superasse os americanos. O meu sonho é transformar o país da soja no país do código. Aos poucos, estamos avançando.”
9-“Nos anos 60, todas as empresas tinham um departamento de datilografia que prestava serviço para todas as áreas. É o que o pool de TI faz hoje, porque tem um conhecimento específico. A questão é que no futuro todos terão que dominar esse conhecimento específico.”
10-“O que mais vemos nas organizações é uma disputa de poder entre as áreas de TI e de negócios. Quem quer se transformar de verdade precisa de muita força para acabar com esses conflitos internos.”
Texto: Luana Dalmolina e Arnaldo Comin
Imagens: Reprodução | Experience Club
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