Inovação

Fintech Pomelo prevê dobrar faturamento em 2025, com foco em crédito

Rafael Goulart, country manager da Pomelo

Monica Miglio Pedrosa

Inspirada em marcas de empresas de tecnologia que usam nomes de frutas, como Apple e Naranja X (fintech argentina), a fintech Pomelo, batizada com o nome de uma fruta cítrica, vem conquistando espaço como uma das startups promissoras da América Latina. Fundada em 2021 por três executivos argentinos com experiência no mercado digital e de tecnologia, a empresa oferece infraestrutura tecnológica para a emissão, processamento e gestão de pagamentos com cartões de crédito, débito e pré-pagos. Em 2025, ela foi apontada pela Distrito como uma das 12 startups latino-americanas com maior potencial de atingir US$ 1 bilhão de valor de mercado [leia a reportagem nesse link].

O trio fundador é formado por Gastón Irigoyen, ex-Google e atual CEO da Pomelo; Juan Fantoni, Chief Communications Officer e ex-Diretor de Fintechs da Mastercard; e Hernán Corral, Chief Product Officer, e ex-Head de Cartões & Contas Digitais do Mercado Pago. Desde sua criação, a Pomelo já captou US$ 103 milhões em quatro rodadas de investimento, sendo a mais recente uma série B de US$ 40 milhões liderada pela Kaszek, em janeiro de 2024.

No Brasil, a fintech é liderada por Rafael Goulart, que assumiu como country manager em agosto de 2023. Atualmente, 35 dos 130 clientes globais da empresa estão no Brasil, incluindo nomes como Hotmart, Nomad, Rappi, Robbin e Paysafe.

Em entrevista à [EXP], Rafael revelou que a expectativa é dobrar o faturamento da operação em 2025, com foco prioritário nos projetos com cartão de crédito. Para ele, o avanço do Open Finance e a descentralização de crédito devem abrir novas oportunidades para fintechs e também para empresas de outros setores que desejam ampliar a oferta de produtos financeiros.

[EXP] Rafael, qual é a dor de mercado que a Pomelo transformou em oportunidade?

Rafael Goulart – Os fundadores da Pomelo perceberam uma dor comum entre empresas de tecnologia e soluções de pagamento: a dificuldade de integrar, lançar e escalar produtos na América Latina, considerando que cada parceiro regional usa uma tecnologia diferente. Para resolver esse desafio, criamos uma plataforma única, capaz de emitir cartões em múltiplos países, eliminando a complexidade técnica e reduzindo drasticamente a fricção nos processos de integração. A Pomelo foi lançada em 2021, com um roadmap que definia a expansão para cinco países, em seis meses.

[EXP] Além da facilidade de integração, que outros diferenciais a destacam dos demais players de mercado?

Rafael Goulart – Nossa plataforma tecnológica está 100% na nuvem e utiliza os recursos mais atuais de mercado. Somos parceiros da Visa e da Mastercard, emitimos cartões destas bandeiras nos seis países onde atuamos. Isso nos permite acelerar o time to market de lançamento de produtos dos nossos clientes. Uma empresa que decide emitir um cartão leva pelo menos oito meses para colocá-lo no mercado: ela precisa atender vários requisitos regulatórios, exigências da bandeira, homologar e validar o produto. No caso de multinacionais, esse processo pode ser ainda mais lento, devido à complexidade interna. Nossa solução BIM Sponsor, uma licença as a service de bandeira, acelera a entrada dos produtos no mercado, por já ser homologada e pronta para parametrização.

[EXP] Em quanto tempo a Pomelo reduz esse processo de emissão de cartões para empresas?

Rafael Goulart – Nosso recorde de lançamento foi de um cartão pré-pago, que implantamos em apenas 12 dias. Claro que o tempo vai depender da capacidade tecnológica do cliente, pois atendemos diversos segmentos, como agro, educação, marketplaces, cripto, bancos. Um produto de crédito, em média, pode levar de três a quatro meses para entrar em produção.

[EXP] Como funciona essa construção de produtos com os clientes? Pode nos contar um case que desenvolveram aqui no Brasil?

Rafael Goulart – Um interessante é o da Hotmart, plataforma de criação e venda de conteúdos digitais. Os criadores de conteúdo da plataforma costumam investir muito em mídia digital para aumentar as vendas de seus produtos, porém, quando eles utilizam um cartão tradicional de banco, ficam muitas vezes bloqueados ao investir dias seguidos, devido às regras de prevenção de fraude do cartão.

Desenvolvemos, em parceria com a Hotmart, um cartão para que ele possa não só receber suas vendas como crédito, como para que ele possa usar esse dinheiro em qualquer lugar, sem restrições, sem cair em regras de prevenção à fraude. A parametrização do cartão é feita pelo Hotmart para cada grupo de clientes. Desta forma, a plataforma consegue resolver essa dor do cliente e ao mesmo tempo gerar uma receita financeira com as transações do cartão, dobrando seu fluxo de caixa e ainda trazendo benefícios financeiros para a jornada de personalização de cada cliente. Isso gera maior fidelidade.

[EXP] O que vocês têm desenvolvido com bancos ou outras fintechs?

Rafael Goulart – A Nomad, que é uma fintech que permite comprar em dólar no exterior sem o pagamento de IOF, já que o cartão é emitido por um banco americano parceiro da fintech, nos procurou para entender mais sobre as preferências do usuário, sua jornada. Lançaram, então, um cartão doméstico aqui no Brasil, com vantagens para reserva de carro, criação de uma sala especial para o cliente no consulado, enquanto ele espera para tirar o visto, entre outros. Um produto que apoia todas as etapas que antecedem a viagem, trazendo mais valor para o cliente.

Temos também um produto com um grande banco brasileiro, cujo nome não podemos revelar ainda, para o desenvolvimento de um cartão B2B2C que será oferecido para os clientes dessas grandes empresas, que são clientes do banco.

[EXP] O cartão de crédito é o foco principal da Pomelo no Brasil?

Rafael Goulart – Nossa estratégia para o país é prioritariamente cartão de crédito, já que gera benefícios para o usuário portador do cartão, mas também para o emissor do crédito, nosso cliente. Acreditamos muito nesse produto, que vem crescendo dois dígitos em volume de negócio, ano contra ano. É onde apostamos que virá o crescimento da empresa pelo menos para os próximos dois anos. Em relação a segmentos, temos clientes de vários setores e estamos avançando no setor bancário. Além do projeto que comentei anteriormente, estamos com outros dois projetos bem encaminhados em outros dois bancos.

[EXP] Que oportunidades têm visto no setor bancário?

Rafael Goulart Nas instituições financeiras, as áreas de tecnologia costumam estar focadas prioritariamente na sustentação dos serviços já existentes. Isso abre espaço para que possamos atuar no desenvolvimento de novos produtos, sem competir com a disputada esteira de projetos internos. Temos sido cada vez mais vistos como uma espécie de incubadora, capaz de atender às áreas de produtos com agilidade e foco nas demandas de mercado.

Além de oferecermos a plataforma tecnológica e a licença de emissão, trabalhamos em parceria com outras empresas para entregar uma solução completa, de ponta a ponta. Isso permite que as equipes de negócios e produto validem teses e testem conceitos com o apoio da Pomelo. Quando o projeto ganha corpo, o banco pode optar por internalizar a operação de emissão, mantendo a Pomelo como provedora da tecnologia.

[EXP] De que forma o Open Finance vai impulsionar a proposta da Pomelo?

Rafael Goulart – Imagine poder acessar, em um único ambiente, todo o histórico financeiro de uma pessoa nos últimos 15 ou 20 anos, uma informação que, até pouco tempo atrás, estava restrita muitas vezes a um único banco. Com o avanço do Open Finance, é possível conceder crédito a um cliente com o qual você ainda não tem relacionamento, desde que ele aceite compartilhar seus dados financeiros. Isso permite construir um score muito mais preciso e personalizado.

Acreditamos fortemente no potencial da descentralização do crédito. Um grande varejista, por exemplo, com milhares de fornecedores, pode começar a oferecer crédito diretamente à sua rede, sem contar com o apoio de um banco. Com isso, ganha mais eficiência na cadeia, fortalecendo a rede de parceiros.

[EXP] Quais são os planos de crescimento da companhia?

Rafael Goulart – Somos uma empresa extremamente eficiente, considerando o número de clientes e funcionários. São 130 clientes a nível global, 35 no Brasil. Vamos dobrar o faturamento em 2025, em relação ao ano passado, somos o segundo país em termos de representatividade global na Pomelo, perdendo apenas para o México.

[EXP] A Pomelo tem planos para fazer IPO? Para quando preveem se tornar unicórnio?

Rafael Goulart – Não temos necessidade, nem previsão, de fazer novas rodadas de captação no curto prazo. A empresa nasceu para se expandir de forma rápida, mas o IPO deve vir em até 5 anos. A Pomelo tem apenas quatro anos, no Brasil os dois primeiros foram voltados a tropicalizar a solução para a realidade brasileira. Em dois anos conquistamos um dos maiores bancos brasileiros e continuamos a expansão. O fato de estarmos na lista de unicórnios da Distrito reflete nosso potencial de expansão, sem grande necessidade de contratação de pessoas e investimento em infraestrutura, o que gera muito valor para os investidores.

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