Ian Beacraft: use o poder da IA para reinventar os negócios
Monica Miglio Pedrosa
O verdadeiro potencial da inteligência artificial não está em acelerar a entrega e melhorar a eficiência de processos existentes nas organizações, mas na completa reinvenção dos modelos de negócio. Esse foi o principal conselho de Ian Beacraft, CEO da Signal and Cipher, consultoria especializada em ajudar empresas a monetizar o impacto da IA no futuro do trabalho, durante sua palestra no Jantar do Ano, evento que reuniu 450 CEOs e líderes de grandes empresas nesta segunda, 9 de dezembro, no Parque Mirante Allianz Parque, em São Paulo. Ian, que é um dos mais aclamados speakers do South by Southwest (SXSW), principal evento de inovação e tecnologia que acontece anualmente em Austin, Texas (EUA), veio especialmente ao Brasil para celebrar o 600º evento do Experience Club.
No início de sua apresentação, Ian fez um paralelo entre a revolução da IA e inovações anteriores, como o automóvel, para explicar como a chegada de uma nova tecnologia é normalmente adotada de forma incremental, ao mesmo tempo que as pessoas superam seus medos e resistências a ela. “Fazendo uma analogia com a Revolução Industrial, quando as máquinas mecanizaram o trabalho físico, hoje estamos digitalizando habilidades”, comparou.
Assim como o primeiro carro era, essencialmente, uma réplica da carroça puxada por cavalos, mas com um motor, a IA hoje é usada prioritariamente para acelerar processos já existentes nas empresas. A diferença é que pela primeira vez estamos diante de uma tecnologia que pode imitar nossa capacidade de pensar e o potencial desse impacto é gigantesco e inimaginável nesse estágio inicial. As empresas que souberem usar a IA para reinventar seus negócios terão a grande vantagem de serem as criadoras de novos mercados, pavimentando as estradas que levarão ao futuro.
Um Chief of Staff de IA para chamar de seu
Se os líderes devem buscar a reinvenção dos seus negócios, como fazer isso na prática? Como a IA pode ampliar sua capacidade de pensar de forma diferente? Para responder a estas perguntas da plateia, Ian compartilhou uma atividade que conduziu com 15 executivos na semana passada, durante uma vivência na Experience House.
Os executivos passaram por duas avaliações, uma que entendia seu estilo instintivo de trabalho e outra sua adaptabilidade. O resultado desses dois testes de personalidade criou uma persona que passou a atuar como um “Chief of Staff de IA” personalizado para cada um. A partir desse momento, quando eles apresentavam um desafio e pediam à IA para construir uma ferramenta que os ajudasse a lidar com a questão, a resposta tinha como base seu estilo de trabalho e sua maneira de se relacionar com a tecnologia. A construção de novas ferramentas para resolver os desafios dos negócios é a grande aposta de Ian para redesenhar negócios usando o melhor potencial da IA.
“Uma das próximas fronteiras é criar uma representação de si mesmo com inteligência artificial. É pensar como nossos dados, como indivíduos, podem ser usados por nós mesmos ao interagir com a tecnologia. O currículo do futuro não terá apenas uma descrição do que você fez em cada emprego, mas apresentará as ‘ferramentas’ que carrega consigo, os dados que construiu e acumulou durante suas experiências de trabalho”, disse. Em sua visão, essa capacidade de codificar a experiência e o conhecimento específico de uma pessoa e potencializar seu uso por toda a organização, por meio de ferramentas de IA, criará o diferencial competitivo das equipes do futuro.
Confira, a seguir, outros insights da palestra de Ian Beacraft:
“Os executivos que precisam pensar sobre como será a próxima fronteira de seu negócio estão em um lugar completamente novo. Mas eles têm uma vantagem, ao contrário dos que pensam que a geração mais jovem está mais bem preparada para as novas tecnologias. A IA responde muito bem às habilidades de orquestração e delegação, à capacidade de entender como um processo se divide e é moldado. Essas são habilidades que somente pessoas com experiência e visão conseguem ter.”
“Um estudo da Harvard Business School analisou milhares de desenvolvedores que contribuíram para um projeto de código aberto. Eles verificaram se os profissionais usavam um copiloto de IA e como isso afetava o trabalho que estavam fazendo. E o que eles viram foi surpreendente em alguns casos. Os desenvolvedores criaram funcionalidades usando linguagens nas quais não tinham confiança antes. Eles deram esse passo com a ajuda de ferramentas de IA que ampliaram sua inteligência e capacidade, com base no conhecimento que já tinham antes. Eles se permitiram explorar mais.”
“Se estamos começando a ter algum tipo de relacionamento profissional com os bots de IA, isso pode ser desafiador para algumas pessoas. A maioria pensa em como usar a IA como uma ferramenta poderosa. Elas pensam em escala e velocidade. E tudo bem, porque ela pode mesmo nos ajudar a melhorar o desempenho no trabalho. Mas o verdadeiro desbloqueio acontece quando começamos a ver a IA como algo que pode construir ferramentas para nós. Quão mais produtivo você acha que poderia ser?”
“O generalista criativo é uma pessoa capaz de usar a IA para expandir suas habilidades em diferentes áreas. As empresas que codificarem a experiência e o conhecimento dos especialistas vão permitir que esse conhecimento seja usado por toda a organização. As equipes do futuro serão formadas por uma combinação do trabalho de especialistas e generalistas criativos.”
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