Gestão

O que ninguém te contou sobre Burnout

O que ninguém te contou sobre Burnout

Autor: Marcos Mendanha

Ideias centrais:

1 – Governos, empregadores e trabalhadores reconhecem que sistemas de gestão e promoção de Segurança e Saúde no Trabalho (SST) numa instituição têm impacto positivo tanto na redução de acidentes, doenças e outros acidentes ocupacionais, incluindo a Síndrome de Burnout, como no aumento da produtividade.

2 – O conceito Síndrome de Burnout foi formulado pelo psicanalista Freudenberger. Mas síndrome não foi a única definição feita por ele. Refere-se ao Burnout ora como conceito, ora como sentimento, ora como risco ocupacional, ora como doença, ora como síndrome.

3 – Já a psicóloga social Cristina Maslach foca o Burnout nas relações de trabalho, ou seja, é uma síndrome fundamentalmente ocupacional.

4 – Na CID-11 (Classificação Internacional de Doenças), o Burnout é conceituado como resultante do estresse crônico no local de trabalho. Ele possui três dimensões; 1) sentimento de esgotamento ou exaustão de energia; 2) aumento de distância mental do trabalho; e 3) sensação de ineficácia e falta de realização.

5 – Pela diretriz usada pelos peritos médicos federais (“peritos do INSS”), o tempo sugerido para afastamento devido à Síndrome de Burnout, quando necessário, é de 30 a 60 dias. No entanto, em caso de pior evolução, esse tempo pode ser indeterminado.

Sobre o autor:

Marcos Mendanha é diretor e professor da Faculdade Cendrap, onde realiza cursos e eventos sobre Psiquiatria e saúde mental do trabalhador. Ele é especialista em Medicina do Trabalho e Medicina Legal e Perícia Médica. Também é professor convidado de pós-graduação em Medicina do Trabalho (FM-USP). Além do presente livro, publicou: Medicina do Trabalho e Perícias Médicas e Limbo Previdenciário Trabalhista.

Capítulo 1 – Burnout: que música é essa?

Apresento desde já uma despretensiosa legenda sobre quatro músicas que, repito, representam as quatro principais ideias e conceitos sobre o Burnout na atualidade:

  • BF: “Burnout de Freudenberger”. Trata-se do Burnout que, pela primeira vez, foi caracterizado como uma síndrome clínica, em 1974, pelo psicanalista Herbert Freudenberger.
  • BMMBI: “Burnout de Maslach/MBI”. Refere-se à Síndrome caracterizada por Christina Maslach e seus colaboradores. É medida pelo MBI (Maslach Burnout Inventory). O BMMBI é diferente do BF.
  • BCID11: “Burnout da CID-11”. Trata-se da Síndrome de Burnout descrita na décima primeira e última revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-11) feita pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O BCID11 é diferente do BMMBI (embora com alguma semelhança) que, por sua vez, é diferente do BF.
  • BSC: “Burnout do senso comum”. Refere-se ao Burnout que não é o BF, o BMMBI ou o BCDI11, e que normalmente está impresso na linguagem popular, nos almoços de família, nas conversas de boteco, em várias obras literárias, em alguns artigos acadêmicos e, muitas vezes, na grande mídia, como sinônimo de estados extremos, seja de cansaço (algo muitas vezes expresso como “estou no meu limite, não aguento mais”), seja de falta de paciência e alto grau de intolerância (nesse último caso, expresso como “estou de saco cheio”).

Adianto que, como opção pessoal, escolhi a CID-11 (WHO, 2018) como a principal, menos iatrogênica e mais confiável fonte sobre Burnout na atualidade. Apesar de a CID-11 também seja alvo de inúmeras e consistentes críticas, por ter a assinatura da OMS, pela sua confecção acadêmica colegiada e representativa, pela importância e reconhecimento mundial desse documento, estou convicto de que fiz a melhor opção.

Uma dica prática e preciosa: quando ouvir falar sobre o Burnout, não deixe de questionar: de qual Burnout se está falando? Do BF, do BMMBI, do BCID11 ou do BSC?” A resposta a essa simples pergunta é assombrosamente esclarecedora para o entendimento do complexo tema Burnout.

Capítulo 2 – Sofrimento mental é coisa séria

Eu me assumo como crítico à noção do Burnout (aqui englobando BF, BMMBI, BCID11 e BSC) enquanto uma entidade clínica equivalente aos transtornos mentais já conhecidos e devidamente catalogados. Ao longo desta obra, serão vários os fundamentados argumentos nesse sentido. No entanto, tal posicionamento não pode ser confundido, sob qualquer pretexto, com insensibilidade de minha parte em relação ao sofrimento mental alheio, em especial, dos trabalhadores acometidos por esse tipo de dor.

Para o psiquiatra Christophe Dejours (1992), o trabalho é neutro em relação à saúde e favorece, seja a doença, seja a saúde. Portanto, sim, o trabalho pode gerar ou estar relacionado com o adoecimento mental de um trabalhador.

Atualmente, governos, empregadores e trabalhadores reconhecem que a introdução de sistemas de gestão e promoção de Segurança e Saúde no Trabalho (SST) em uma instituição tem impacto positivo tanto na redução de acidentes, doenças e outros acidentes ocupacionais, como no aumento da produtividade (ILO-OSH, 2001).

Na mesma linha, os acadêmicos De Neve, Kaats e Ward (2023) observaram que níveis mais altos de bem-estar entre os trabalhadores geralmente preveem maiores avaliações das empresas, maiores retornos sobre os ativos, maiores lucros brutos e melhor desempenho no mercado de ações.

Capítulo 3 – O estresse e suas consequências (boas e ruins)

Nem todos os trabalhadores expostos ao estresse crônico adoecem. Nessa análise, a vulnerabilidade individual importa.

Todos os pais que possuem filhos acamados por longos anos adoecem? Todos que padecem de agruras financeiras por períodos “intermináveis” adoecem? Todos os maridos e esposas integrantes de casamentos longos e conflituosos adoecem? Todos os trabalhadores de um mesmo setor acometidos por intenso assédio moral de seus gestores adoecem? Para todas essas perguntas a resposta é não. Isso porque mesmo diante de situações cronicamente estressantes, cada indivíduo elaborará, dentro de um repertório que possui, a sua própria resposta, a sua própria reação, de forma individualizada e única.

Estudaremos com profundidade, ao longo deste livro, o Burnout, que é conceituado pela CID-11 (WHO, 2018) como “resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso”.

Para Dejours (1992), o trabalho nunca é neutro em relação à saúde e favorece, seja a doença, seja a saúde.

Sim, é verdade que existem trabalhos insalubres e adoecedores sob todos os aspectos. Mas é inegável que, para muitos, o trabalho continua sendo fonte, não só de sustento, mas de alegria, de novas amizades e redes de apoio, e até de sentido de vida.

Assim, afirmar genericamente que o trabalho está relacionado com o suicídio não corresponde à verdade. Prova maior disso é que o desemprego (e não o trabalho) é considerado um importante fator de risco para o suicídio (BJORKLUND, 1985).

Capítulo 4 – Conceitos de síndrome, transtorno e doença

Tecnicamente, uma síndrome é um conjunto reconhecível, constante e estável de sinais e sintomas que indicam uma condição específica e para a qual uma causa direta (etiologia) não foi totalmente compreendida ou é desconhecida (DALGALARRONDO, 2019). Uma vez que a ciência identifica um agente ou processo causador (etiologia) com um alto grau de certeza, já se pode então referir ao processo como uma doença e não mais como síndrome (CALVO et al., 2003).

A Síndrome de Burnout (SB) não atende ao critério técnico de uma síndrome [conquanto esteja qualificada como síndrome na CID-11 (WHO, 2018), por exemplo) por vários motivos. Cito como primeiro motivo o fato de o termo síndrome requerer uma estabilidade de sinais e sintomas que não é encontrada no Burnout. Veremos, ao longo desta obra, que os mais renomados autores sobre o tema, em especial Freudenberger e Christina Maslach, divergem na caracterização e na maneira de descrever o quadro clínico do fenômeno Burnout.

O segundo motivo pelo qual entendo que a SB não atende ao critério sindrômico envolve o número exagerado de sintomas previstos para o Burnout, o que foge da razoabilidade conceitual de uma síndrome.

Para Freudenberger, Burnout ora é referido como conceito, ora como sentimento, ora como risco ocupacional, ora como síndrome (LIMA, 2021) e ora como doença (FREUDENBERGER, 1981).

Já no Manual do MBI (Maslach Burnout Inventory), a ideia do Burnout como doença é refutada, e a ideia do fenômeno como uma síndrome psicológica é reforçada (MASLACH; JACKSON; LEITER, 2018).

Fato é que Freudenberger, Maslach e tantos outros autores e pesquisadores nunca abandonaram a noção de Burnout enquanto algum tipo de síndrome (seja clínica ou psicológica), fomentando a perpetuação desta qualificação, tanto no uso comum, quanto no uso acadêmico. A própria CID-11 apropria-se disso e descreve Burnout como uma síndrome.

Capítulo 5 – O Burnout, das referências bíblicas ao início da década de 1970

Para Schaufeli e Maslach, o Burnout descrito em O Peregrino Apaixonado, publicado  em 1599 por William Jaggard (com textos atribuídos a Shakespeare) atravessa o tempo e integra todos os tipos de Burnout que descrevi em minha classificação: BF, BMMDI, BCID11 e BSC. Essa noção de um só “Burnout atemporal” não se sustenta, pois é confuso e difícil de ser explicado e compreendido, de tão amplo, abstrato e genérico que é.

De volta ao ambiente acadêmico, em 1969, Bradley utilizou a expressão Staff Burn Out (tradução livre: Pessoal Esgotado) em um de seus artigos. Nele, abordou a necessidade de períodos de descanso para agentes de uma unidade correcional de jovens delinquentes, como forma de evitar o fenômeno “burn out” com a equipe. Não faz parte do objetivo de Bradley fornecer uma definição para o termo, que aparece no estudo entre aspas (“burn out”), aparentemente como um reconhecimento de que é uma utilização metafórica da gíria popular (FONTES, 2016).

Em 1973, em texto publicado na American Psycologist com título The burnt-out chairman, Sommer descreve o sofrimento de um profissional universitário que se torna chefe de um departamento e se frustra com o cargo. O autor deixa transparecer que se trata de um sofrimento ligado ao trabalho, mas o termo burnt-out não é definido e nem sequer utilizado no corpo do texto, apenas no título (FONTES, 2016).

Capítulo 6 – O “Burnout de Freudenberger” (BF)

O termo Burnout foi usado pela primeira vez em um sentido clínico na primeira metade da década de 1970 (SCHAUFELI, 2017). Em 1974, Herbert Freudenberger (1926-1999) escreve o artigo Staff Burnout, no qual descreve os sinais e sintomas dos acometidos pelo fenômeno. Por isso, Freudenberger é considerado como “pai fundador” do conceito da Síndrome de Burnout (SCHAUFELI), BUUNK, 2003).

Interessante observar que a palavra não aparece em Staff Burnout (1974), embora ela estivesse presente em um artigo do mesmo autor datado do ano anterior (1973). De qualquer maneira, a riqueza com a qual o quadro clínico foi descrito mostra que o raciocínio de Freudenberger seguiu a lógica conceitual de uma síndrome (FONTES, 2016).

A Síndrome de Burnout proposta por Freudenberger, o que chamo nesta obra de “Burnout de Freudenberger” (BF), é vasta, confusa e imprecisa. Ora o psicólogo refere-se ao Burnout como conceito, ora como sentimento, ora como risco ocupacional, ora como síndrome (LIMA, 201) e ora como doença (FREUDENBERGER, 1981). Para ele, então, o BF é também uma doença, mas não só isso.

Cultivar prazeres, divertir. O psicólogo sugere uma lista de atividades prazerosas: Faça longas caminhadas, esquie, nade, jogue tênis, vôlei, vá dançar. O importante é fazer alguma coisa. Isso dará mais alegria à sua vida, fará com que esqueça a rotina e eliminará sua tensão.

Capítulo 7 – O “Burnout de Maslach/MBI” (BMMBI)

Diferentemente de Freudenbeger, no entanto, Maslach opta por focar seu objeto de estudo nas relações de trabalho, não ampliando a noção de Burnout para outras áreas da vida como fez o psicólogo. Essa opção de Maslach contribui fundamentalmente com a história da Síndrome de Burnout tão propagada ainda hoje, a de uma síndrome ocupacional. Se Maslach tivesse delimitado seus estudos em qualquer outro campo, por exemplo, nas relações conjugais, a história do fenômeno Burnout talvez tivesse sido outra, completamente diferente.

Embora com toda sorte de críticas, as pesquisas de Maslach sobre Burnout avançam, passam a ser muito mais festejadas pela academia e pela mídia do que os estudos de Freudenberger. Assim, as publicações de Maslach tornam-se fundamentais para difundir a noção criada por ela sobre o Burnout, noção essa que, embora considere a existência de fatores individuais (ex.: a personalidade), do ponto de vista prático, defende o trabalho como fator único e suficiente para causar o fenômeno.

Em 1981, Maslach e seus colaboradores publicam o famoso MBI (Maslach Burnout Inventory), um instrumento similar a um questionário, que é usado até os dias atuais como o principal “medidor de Burnout”.

Já em 2001, em proposta que vigora até os dias atuais, Maslach e colaboradores definem a BMMBI [Burnout de Maslach/MBI] como uma síndrome causada por uma crise no relacionamento entre o trabalhador e o trabalho, que pode acometer todos os profissionais (independentemente da profissão e atuação) e que possui três dimensões, agora chamadas: exaustão emocional (ou simplesmente exaustão), a mais importante dimensão da síndrome e da qual as outras decorrem; despersonalização ou cinismo; e baixa eficácia ou realização profissional (MASLAH; JACKSON; LEITER, 2018).

Capítulo 8 – O “Burnout da CID-11” (BCID11)

Na prática, para solucionar os muitos problemas do dia a dia e também para que me fizesse compreendido sobre o tema, precisei escolher entre um desses quatro “tipos” de Burnout. De forma pragmática, então, fiz a opção pessoal pelo CID-11 (WHO, 2018) como a principal e mais confiável fonte sobre Burnout na atualidade. Os motivos são vários:

  • Conquanto a CID-11 seja alvo de inúmeras e consistentes críticas, o documento está em vigor, foi confeccionado e assinado pela OMS (Organização Mundial de Saúde);
  • A CID-11 foi desenvolvida ao longo de mais de dez anos de trabalho colegiado;
  • A CID-11 é reconhecida mundialmente por vários países.

Vale frisar de novo: o MBI é um teste voltado exclusivamente para o BMMBI que, em 1º de janeiro de 2022, com o início da vigência da CID-11, deixou de ser o conceito dominante do fenômeno Burnout. Não dá para comparar a força conceitual e referencial de um grupo restrito de pesquisadores (no caso, Maslach e colaboradores) com o poder muito maior de um documento tradicional, usado mundialmente e assinado pela OMS. E, repito: embora com alguma semelhança, o BCID11 é diferente do BMMDI.

O Burnout está na CID-11 (Classificação Internacional de doenças, 11ª Revisão) (WHO, 2018, com o código QD85, e se mantém como sinônimo de “esgotamento”. No entanto, conforme ainda veremos, a classificação que entrou em vigor em janeiro de 2022 trouxe uma definição mais complexa e completa para o Burnout.

Diferentemente da CID-10, na CID-11 não consta o subgrupo “problemas relacionados com a organização de seu modo de vida” que parece dar lugar a “problemas associados ao ambiente social ou cultural” na nova classificação. No entanto, o Burnout não integra esse novo subgrupo, e é deslocado para “problemas relacionados ao emprego ou desemprego”, um subgrupo que já existia na CID-10. (Quadro 1)

Na CID-11, as situações (e seus códigos) consideradas como “problemas relacionados ao emprego ou desemprego” são [entre outros]:

  • QD80: Problema associado ao desemprego [somente essa situação está relacionada ao desemprego].
  • QD81: Problema associado à mudança de emprego.
  • QD82: Problema associado à ameaça de perda de emprego.
  • QD84: Exposição ocupacional a fatores de risco.
  • 4: Exposição ocupacional ao risco ergonômico.
  • QD85: Burnout (esgotamento).
  • 2: Problema associado ao relacionamento com as pessoas no trabalho.
  • QD8Y: Outros problemas específicos associados ao emprego e desemprego, não especificados.

Como exposto, na CID-11, o Burnout está dentro do subgrupo dos “problemas de emprego e desemprego”. Essa classificação, portanto, circunscreve o Burnout ao contexto ocupacional, o que não acontece com a CID-10.

Na CID-11 (Classificação Internacional de Doenças, 11ª Revisão) (WHO, 2018), o Burnout se mantém como sinônimo de “esgotamento” e está definido da seguinte forma:

Burnout é uma síndrome conceituada como resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso. Caracteriza-se por três dimensões: 1) sentimentos de esgotamento ou exaustão de energia; 2) aumento da distância mental do trabalho, ou sentimentos de negativismo ou cinismo em relação ao trabalho; e 3) uma sensação de ineficácia e falta de realização. Burnout refere-se especificamente a fenômenos no contexto ocupacional e não deve ser aplicado para descrever experiências em outras áreas da vida.

A Síndrome de Burnout proposta pela CID-11 (WHO, 2018), o que chamo nesta obra de Burnout da CID-11 (BCID11), pode ser considerada uma doença ocupacional do ponto de vista previdenciário. Isso porque o fenômeno foi literalmente classificado como “doença” na Lista B do Decreto n. 3048/1999.

Pela diretriz usada pelos peritos médicos federais (“peritos do INSS”), o tempo sugerido para afastamento devido à Síndrome de Burnout, quando necessário, é de 30 a 60 dias. No entanto, em caso de pior evolução, esse tempo pode ser indeterminado.

No sentido de dar mais segurança aos profissionais peritos e uniformizar suas decisões, o INSS disponibiliza para esses profissionais as vigentes Diretrizes de Apoio às suas condutas. Entre elas, existem as vigentes Diretrizes de Apoio à Decisão Médico-Pericial em Psiquiatria (Diretoria de Saúde do Trabalhador – DIRSAT, 2010).

Capítulo 9 – O futuro do Burnout

Muitos culpam o modo de vida atual pelo hipotético aumento de prevalência da Síndrome de Burnout (SB) entre nós. No entanto, responsabilizar “os novos tempos” por aquilo que nos aflige física e mentalmente não é bem uma novidade. Apresento agora um pouco da história da neurastenia. Qualquer semelhança com a SB talvez não seja uma mera coincidência.

Para Beard (1880), a neurastenia era um transtorno funcional crônico, cujo diagnóstico era exclusivamente clínico (sem auxílio de exames complementares). O quadro sintomatológico apoiava-se na exaustão física e mental. Diversos e inespecíficos sinais e sintomas complementavam o quadro clínico, tais como: perturbações gástricas, sexuais, dores generalizadas e cefaleias (“dores de cabeça”), zumbidos no ouvido, dificuldade de concentração.

Quais eram as causas da neurastenia? Os mais importantes médicos da época viam no excesso de trabalho a razão pela qual o sistema nervoso ficava exausto. Para muitos estudiosos, entre eles George Beard, a neurastenia era o sinal mais visível da vida contemporânea (PORTER, 2001).

Em síntese, a neurastenia tinha como núcleo sintomatológico o quadro da exaustão. Sua causa maior era atribuída às demandas dos novos tempos, incluindo o excesso de trabalho. Acometia principalmente aqueles que trabalhavam com a mente, com o cérebro (brain-workers). Ganhou importância, primeiramente, nas classes mais abastadas da sociedade e altos escalões das instituições. Tornou-se uma “doença da moda” e foi perdendo sua importância diagnóstica ao mesmo tempo em que aumentou sua prevalência nas classes sociais mais baixas.

Se a SB “desaparecer”, será que outra(s) entidade(s), com outra(s) nomenclatura(s), será(ão) criada(s) para acomodar os mesmos e inespecíficos sintomas do fenômeno? O futuro responderá a todas essas indagações.

Ficha Técnica Ficha Técnica O que ninguém te perguntou sobre Burnout

Ficha técnica:

Título: O que ninguém te contou sobre Burnout – Prevenção (organizacional e individual), sintomas, diagnóstico, tratamento, além de todas as repercussões previdenciárias e legais

Autor: Marcos Mendanha

Primeira edição: Editora Mizuno

Resumo: Rogério H. Jönck

Edição: Monica Miglio Pedrosa

 

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