Telha que gera energia solar dispara ações da Eternit na B3
Na noite de ontem (26), a Eternit, da artigos para a construção civil, gerou barulho inesperado no mercado com o anúncio do lançamento de uma linha de produtos voltados para o segmento de energia solar. A novidade provocou uma verdadeira disparada nas ações da companhia durante todo o dia na B3. Em recuperação judicial, a empresa fechou o pregão com o papel cotado a R$ 3,60, uma alta de 72,20%.
A primeira aposta da empresa, que é líder de mercado no segmento de coberturas, será em telhas de concreto fotovoltaicas, feitas com silício monocristalino (o desenvolvimento teve início há um ano) e homologada pelo Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia).
Por hora, as telhas fotovoltaicas da nova área Eternit Solar, fabricadas na unidade da empresa em Atibaia-SP, serão disponibilizadas para instalação de projetos-piloto com clientes selecionados. Posteriormente, a escala de produção será ampliada para que o produto seja comercializado em todo o país.
A expectativa é que a produção comercial das telhas fotovoltaicas comece no prazo de 12 a 18 meses.
Cada telha da Eternit Solar produz 9,16 watts e tem dimensão de 365 x 475 mm. A capacidade de produção média mensal de uma única telha é de 1,15 Kilowatt hora por mês (kwh/mês). O abastecimento energético de uma residência pode demandar de 150 a mais de 300 telhas, de acordo com o tamanho da construção.
Segundo o diretor Comercial do Grupo Eternit, Rodrigo Inácio, a estimativa é que essa tecnologia seja vantajosa para o consumidor ao permitir entre 10% e 20% de economia no valor total da compra e da instalação das telhas fotovoltaicas, em relação aos painéis solares montados em cima de telhados comuns. O retorno sobre o investimento ocorre dentro de um período relativamente curto, de três a cinco anos, dependendo do sistema.
Uma analista que acompanha as ações da Eternit comenta ao Experience Club que a ampliação do portfólio é um movimento positivo, mas a euforia do mercado de ações deve ser vista com cautela. Ela lembra que já há algum tempo, a empresa vem investindo em sua reestruturação, substituindo o uso do amianto, o que é um caminho sem volta, em sua opinião.
“Eles não abriram a representatividade deste novo produto em relação às vendas totais, nem mesmo o montante investido. Então, não há como saber, por enquanto, se a rentabilidade será boa ou não”. [autor]Sandra Peres, analista da Coinvalores.[/autor]
No segundo trimestre deste ano, a Eternit reduziu seu prejuízo líquido em 15%, na comparação anual, para R$ 29,5 milhões.
Um movimento semelhante ocorreu em novembro de 2017, quando a empresa anunciou que iria deixar usar amianto na produção de telhas de fibrocimento. Na ocasião, as ações chegaram a subir 20%. Foi nesta época que o STF julgou o uso de amianto no país. A corte declarou inconstitucional o artigo 2º da Lei federal nº 9.0 55, de 1995, que permitia a extração, industrialização, comercialização e distribuição do amianto crisotila no país.
Recuperação
Em fevereiro deste ano, após algumas disputas judiciais, a empresa comunicou, finalmente, a suspensão das atividades de sua controlada SAMA, mineradora que produz amianto. Para Sandra, os resultados do 3º trimestre deverão ser prejudicados ainda pela rescisão, por conta do fim das operações da mineradora. Procurada pelo Experience Club, a empresa, no entanto, afirma que isso não deverá ocorrer, pois o valor total das rescisões já foi contabilizado no resultado do segundo trimestre. Questionada pela reportagem sobre os planos para a Eternit Solar, a empresa declarou que “ainda não está divulgando os dados financeiros de vendas e investimentos”.
Por fim, a especialista da Coinvalores chama a atenção para o desafio da empresa em conquistar o público AB. “A Eternit, com as telhas fotovoltaicas, está entrando num novo segmento. Historicamente, a companhia, ao menos quando olhamos para as telhas, sempre vendeu para as classes C e D”.
Texto: Luana Dalmolin
Imagem: Divulgação
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