Venture Capital

Venture Capital israelense vem ao Brasil visando expansão

O venture capital israelense OurCrowd chega a São Paulo, no dia 25 de setembro, com o OurCrowd Sync: São Paulo 2019. É o primeiro evento de grande porte, são esperadas 700 pessoas, fora de Israel. O tema ‘Conectando Startups, Capital e Pessoas’, diz muito sobre a missão do fundo, que segundo Jon Medved, CEO da OurCrowd, é “fornecer acesso às melhores oportunidades de investimento de risco e permitir que seu ecossistema global suporte o crescimento dessas empresas ”. O fundo acaba de superar US$ 1 bilhão arrecadados, divididos nas mais de 170 startups investidas e conta com investidores de 187 países. 

Conversamos com Rodrigo Monteiro, General Partner da OurCrowd, sobre as expectativas acerca do mercado brasileiro, os setores emergentes e as tendências de investimento no ecossistema de startups no país. Confira. 

Este é o primeiro evento do fundo, ao menos desta magnitude, fora de Israel. Por que a América Latina? 

Os investimentos em Venture Capital na América Latina dobraram pelo segundo ano consecutivo, chegando a pouco menos de US$ 2 bilhões em 2018 ante US$ 1,1 bilhão em 2017 e US$ 500 milhões em 2016. A região tem despertado a atenção de novos investidores de peso, como é o caso do fundo japonês SoftBank, que destinou um fundo de VC específico para a região no valor de US$ 5 bilhões. Somente o Brasil movimenta mais da metade do total de investimento realizado em inovação na região, com 55,9% dos deals fechados em 2018, num total de US$1,3 bilhões. Queremos entrar neste ecossistema. 

Qual é a expectativa de vocês com este evento? 

Queremos mostrar o nosso conteúdo, a qualidade dos projetos de inovação aos quais temos em nosso portfólio e a qualidade de nossos investimentos neste tipo de ativo. A nossa atuação na América Latina não é forte, mas esperamos que este seja o início de um ciclo de atuação. 

Como vocês veem este movimento de contínuos e crescentes investimentos, como o do SoftBank? Qual é o impacto disso? 

Há um grupo de investidores que vê valor na inovação incremental, que é o caso do mercado brasileiro. Não precisa ser completamente disruptivo para trazer resultados. As startups que mais se destacaram estão dentro deste cenário. Portanto, faz sentido entrar nesta geografia de investimentos. O movimento do SoftBank puxa o valuation das investidas para cima, vemos um efeito de valorização das empresas no mercado latino americano. 

Temos visto muitos investidores brasileiros colocando dinheiro em empresas israelenses. Qual é a perspectiva para os próximos anos? 

Observamos um fluxo de capital cada vez maior de investimentos não somente nas empresas do Silicon Valley, mas também nos mercados de Israel e da China. Estamos falando de três ecossistemas que chamam atenção por suas peculiaridades. O americano, muito focado em inovação para o desenvolvimento militar, com um pensamento liberal californiano de raiz, calcado em um modelo de negócios muito ágil, investimentos nas universidades e em pesquisa, com capital excedente e disponível.

Mercado de Venture Capital dobrou na América Latina pelo segundo ano consecutivo e está atraindo grandes fundos, como o Softbank

Vemos algumas similaridades com o ecossistema israelense, como o uso da tecnologia para o desenvolvimento militar, mas que é muito mais movido pelas necessidades geradas pelas complexidades e desafios geográficos. Por ser um território pequeno, acaba se obrigando a ter um pensamento global, estar sempre de olho na escalabilidade, dado que o mercado interno não tem condições de absorver.

Já na China, observamos altos investimentos na qualidade educacional, excedente de capital, demanda interna gigante e um governo que incentiva o empreendedorismo. Aquela velha China, de produção de bens de consumo e material eletrônico, avança exponencialmente para a inovação computacional. 

Quais são os mercados mais promissores em que as startups brasileiras estão atuando e que são de interesse da OurCrowd?

No Brasil, os setores financeiro, agrícola e de logística vêm se destacando. O volume do mercado brasileiro torna possível rupturas incrementais que tenham alcance e gerem valor para o cliente. No setor agrícola, por exemplo, vemos uma convergência de tecnologias que permitem leituras em real time e aceleram a tomada de decisões, o que resulta em maior produtividade. A agricultura preditiva, deve ser o próximo passo. Já no que se refere ao setor financeiro, nós vivemos em um contexto em que somos o segundo país mais concentrado do mundo, ficando apenas atrás da Hungria. Essas transformações protagonizadas por grupos de empreendedores estão trazendo novas soluções para os consumidores e novas formas de mover o fluxo de capitais no mercado, seja B2C ou B2B. 

Quais são os desafios do mercado brasileiro de startups para atrair mais investimentos?

O processo de consolidação de um ecossistema de inovação depende de capital, estabilidade econômica, investimentos em educação e pesquisa e de empreendedores bem qualificados. Já vemos um movimento sendo protagonizado nos centros econômicos, ou seja, em capitais como São Paulo, Belo Horizonte, Florianópolis, Recife e Rio de Janeiro. Entre os principais problemas, ao meu ver, estão hoje a distância entre o que se produz na academia e a aplicabilidade deste conhecimento no mercado. E a necessidade de termos uma legislação do ponto de vista trabalhista e tributário que seja mais favorável para alocação de investimentos privados no ecossistema de startups.

Texto: Luana Dalmolin

Imagem: Divulgação

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