Mercado

Sylvio de Barros, uma lição de empreendedorismo e espírito livre

Ricardo Natale

Na semana passada, perdemos um grande empreendedor, um empresário que fez muito pelo Brasil. Sylvio de Barros, que nos deixou prematuramente, aos 57 anos, num acidente numa trilha, vai fazer muita falta.

Sylvio era um visionário. Um tipo único.

Quem teve contato com ele ficou marcado pela ousadia, coragem de empreender, sempre com ideias novas, mesmo num país com tantas amarras, com sistema jurídico e burocrático tão complexo, que estimula a não fazer nada. Ele ia lá e fazia.

Foi um pioneiro da internet e chegou a criar o mesmo negócio duas vezes e depois vendeu para dois grandes bancos. Depois de uma carreira na General Motors, montou em 1995 a Webmotors, primeiro site de anúncios de veículos, numa época em que a internet ainda estava dando seus primeiros passos. No começo dos anos 2000, vendeu o negócio para o ABN Amro, banco que depois foi comprado pelo Santander. Em 2007, Sylvio fundou o iCarros, também de classificados de veículos, aí já num outro momento do mercado, com a internet já consolidada. O negócio emplacou e dez anos depois foi vendido para o Itaú.

Mas esses foram apenas dois dos inúmeros negócios que ele criou. Apaixonado por corridas, participou diversas vezes de moto do Rally dos Sertões. Competiu no Rally Dakar e no South American Rally Race. Era tão ligado a velocidade que outro de seus empreendimentos é um condomínio de casas com clube de corrida de carro, o Raceville, no interior de São Paulo, com um autódromo, cujo diretor técnico e cofundador é o experiente piloto Cacá Clauset. Antenado com a inovação e as mudanças do mercado, criou também a ZMatch, uma plataforma de assinatura de veículos elétricos e híbridos.

Sylvio também faz parte da nossa história, no Experience Club. Essa foto aí em cima é da palestra dele no Fórum CEO Brasil de 2021, naquele momento em que ainda tínhamos muitas incertezas com os eventos presenciais. Ele subiu ao palco de bermuda, chinelos e meia verde e mostrou que o jeito informal não era incompatível, mas parte da sua genialidade. Contou sua história, falou das empresas que criou e contagiou o público, formado por 500 participantes, com sua energia inesgotável.

Nos encontramos muitas outras vezes, antes e depois daquele evento.

Nos últimos anos sempre nos víamos em Austin, no SXSW, compartilhando o interesse pela inovação, pelas novidades. Neste ano, nos encontramos na fila para entrar na concorrida palestra da futurista Amy Webb. Em pé, no corredor, enquanto esperávamos a abertura da sala, conversamos uma hora sobre a aposta dele em carros híbridos.

Sylvio de Barros deixou um grande legado a todos os empreendedores brasileiros. Lutava incansavelmente por seus sonhos, nada o parava quando tinha uma boa ideia e o que valia mesmo a pena era criar algo que ainda ninguém tinha feito. E claro, dançava como se o DJ estivesse tocando somente pra ele.

R.I.P. Sylvio de Barros. Nós, empreendedores, estaremos aqui honrando a sua história.

Carta do CEO
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