ESG

Learn to Fly ajuda empresas a desenvolver competências socioemocionais de suas equipes

Por Monica Miglio Pedrosa

Ela foi vice-presidente global de Pesquisas e Inovação da Inbev, CMO global da Burger King e CEO da BRF Brasil antes de sair do mercado corporativo e dar uma guinada na carreira, iniciando uma jornada empreendedora. Desde 2017, Flavia Faugeres fundou, em parceria com Cecília Oliveira, a Learn to Fly, plataforma de desenvolvimento pessoal e profissional. Hoje com foco B2B, a Learn to Fly atende empresas como Ambev, Kraft Heinz, Raízen e PetLove, além de organizações como Fundação Estudar, Fundação Lemann e Cogna Educação.

O objetivo principal é desenvolver as competências socioemocionais das pessoas, por meio de trilhas de autoconhecimento, mentorias e comunidades de prática. Depois da pandemia da covid-19, em que palavras como burn out, quiet quitting, depressão e ansiedade estão finalmente sendo discutidas às claras no mercado corporativo, a preocupação das empresas com a saúde mental de seus colaboradores tem se tornado cada vez maior. Além disso, são essas mesmas competências socioemocionais as bases para efetivar uma política bem-sucedida de longo prazo de diversidade e inclusão nas organizações.

Entre as principais demandas corporativas estão o conflito de gerações entre jovens e seniores, o apoio ao desenvolvimento de competências das lideranças e a redução do turn over dos jovens talentos. Confira a entrevista que Flavia Faugeres deu ao [EXP] logo após sua participação no Experience Lab, evento do Experience Club que reuniu cerca de 120 CEOs e VPs de grandes empresas, no dia 11 de novembro.

Como a Learn to Fly pode apoiar empresas no desenvolvimento das competências socioemocionais de seus colaboradores?

A Learn to Fly disponibiliza uma plataforma digital para as empresas, com uma série de trilhas focadas no desenvolvimento de habilidades socioemocionais como liderança, comunicação, empatia e resiliência. Em cada habilidade você irá entender o conceito, aprofundar os pilares que sustentam esse conceito e acessar um plano de ação com práticas para trabalhar a mudança dessa habilidade. Iniciamos ainda uma parceria com o EASEL Lab (Ecological Approaches to Social Emotional Learning Lab) de Harvard para trazer algumas de suas práticas para nossa plataforma no Brasil.

Pode dar um exemplo mais concreto de como isso funciona na prática?

Muitas pessoas têm dificuldade de interagir socialmente. Uma pessoa pode ter um potencial de crescimento enorme em uma organização, mas fica exausto emocionalmente quando interage com outros. Isso acaba limitando seu desenvolvimento.

Como fazer para ensinar seu cérebro a desenvolver uma nova habilidade? Nosso cérebro precisa de treino, mas ele também foi condicionado a economizar energia. Por isso ele prefere seguir os mesmos hábitos e caminhos neurais já aprendidos. Então não adianta eu propor uma prática muito extenuante para treinar uma nova habilidade, com uma frequência de 5 vezes por semana, por exemplo. O cérebro vai gastar muita energia nesse esforço e vai fazer um shut down.

A proposta então é que o treino inicie uma vez por semana, promovendo a interação social com três pessoas simultaneamente. Com o tempo a pessoa vai aumentar a prática para uma interação com cinco pessoas. Depois duas vezes por semana. Tem que ser um processo contínuo, cujo avanço vai sendo mensurado pela ferramenta.

O mesmo acontece com a regulação emocional. Muitas pessoas parecem ter um problema de comunicação quando na verdade elas têm que regular sua emoção. Ou seja, no fundo elas ficam tão tomadas pela emoção que não conseguem se comunicar direito. Para treinar essa habilidade eu tenho que estabelecer práticas que trabalhem esse controle emocional. A mudança só acontecerá com o exercício prático.

Flavia Faugeres em sua apresentação no Experience Lab, evento do Experience Club

Que outros programas a Learn to Fly oferece para empresas?

Temos três produtos principais: os programas de mentoria, em que você vai aprendendo e passando esse conhecimento para as pessoas da própria empresa ou para empresas coligadas por meio de mentorias individuais; as comunidades de trocas e debates, que acontecem na plataforma; e as trilhas de conhecimento que eu comentei anteriormente, que trabalham os aspectos individuais de cada colaborador, em diversas habilidades.

Na jornada de desenvolvimento socioemocional, a pessoa mapeia suas competências socioemocionais e por meio desse diagnóstico ela pode traçar um plano de desenvolvimento pessoal para o ano, elegendo os hábitos que quer desenvolver e as trilhas autoguiadas de conhecimento que irá seguir, como mentalidade de crescimento, comunicação assertiva, entre outras.

Vamos pegar o exemplo da trilha de mentalidade de crescimento. Se você quiser entender hoje sobre growth mindset, você vai ter que comprar o livro de mesmo nome da Carol Dweck, aí você vai ler o livro, deixá-lo no seu criado-mudo e fazer o quê com isso? Nada. Porque não adianta só consumir o conteúdo, tem que colocar o aprendizado em prática. Então na nossa trilha nós indicamos 20 atividades de três minutos cada uma. Temos vídeos, quizzes, práticas. Explicamos cada um dos seis pilares de mentalidade de crescimento e dizemos concretamente como colocar cada um deles em ação. A pessoa vai medindo essa habilidade para ver se está se desenvolvendo, evoluindo.

“A Learn to Fly é sobre saúde mental

e desenvolvimento pessoal,

para fazer a pessoa brilhar e

chegar à sua melhor versão.”

Como a plataforma pode apoiar as empresas no mapeamento do bem-estar dos funcionários?

Esse é um aspecto muito importante. Todos os dados da nossa plataforma são confidenciais, nada do que você escreve de forma individual pode ser lido pela empresa. A nossa missão é que cada um se desenvolva para chegar à sua melhor versão.

Quando uma empresa nos procura para que possamos auxiliar no desenvolvimento de seus colaboradores, oferecemos também uma ferramenta que pergunta diariamente a cada um como eles estão se sentindo naquele dia. A empresa só terá acesso ao seu índice de bem-estar geral, do grupo de colaboradores como um todo, nunca de forma individual.

Isso permite que as lideranças e a área de Recursos Humanos possam mensurar o retorno do investimento em programas de incentivo e de motivação, por exemplo. Se sua empresa organiza uma convenção de vendas, ou um café da manhã com o presidente, isso está de fato repercutindo positivamente no seu quadro de colaboradores? Os resultados são tangíveis? Pela plataforma é possível medir esse índice de satisfação por faixa de idade, por cargo, por região.

Como vocês podem auxiliar as empresas que estão iniciando o processo de diversidade nas organizações? É possível ensinar empatia?

É sim. E aqui há algo bem importante de se destacar. Muitas empresas têm metas de diversidade, mas isso por si só não é suficiente. Uma coisa é contratar pessoas diversas para a organização. Mas se em dois anos essas pessoas não tiverem amigos lá dentro, não se sentirem incluídas, envolvidas nas atividades, elas vão embora. Então a meta não deveria ser de diversidade, mas de inclusão. E para eu fazer isso preciso criar uma rede de apoio para essas pessoas. Nada melhor do que um mentor ou mentora para apoiar quem está chegando, alguém que estenda a mão e ajude na integração efetiva na organização.

Quais são as principais demandas das empresas em relação às habilidades socioemocionais de seus colaboradores?

Hoje temos mais de 40 clientes, desde grandes empresas como Ambev, Kraft, Raízen e Petlove até startups, as quais fico muito orgulhosa de poder ajudar também. Posso dizer que depois da covid-19, uma das principais demandas é o desenvolvimento dos jovens talentos. Como treinar essa nova geração para que ela se mantenha saudável e não entre na doença mental, na ansiedade, no burnout. Também temos lidado com o conflito entre gerações, trabalhando a empatia para que líderes seniores possam entender os desafios dos mais jovens e vice-versa.

Outro grande desafio tem sido a redução do turn over, das pessoas estarem desengajadas e ficarem em média apenas um ano em uma empresa. Quando falamos de comprometimento, que tem a ver com engajamento, há uma questão importante para trabalhar com essa liderança jovem, que quer viver só no flow, na paixão. Eles têm que entender que engajamento é uma mistura de paixão, disciplina e responsabilidade. Isso tudo são competências emocionais que nós podemos contribuir por meio da Learn to Fly.

Para finalizar, qual é sua visão para o futuro da Learn to Fly?

Meu sonho é que a nossa plataforma possa ser usada por todos os brasileiros. Quero que um dia todos os jovens possam ter acesso a nossas ferramentas e possam usá-la para se desenvolverem e se tornarem a melhor versão de si mesmos.

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