Lições do Butão para aumentar a felicidade e o bem-estar nas empresas

Monica Miglio Pedrosa
O que um país asiático, com cerca de 700 mil habitantes, localizado no extremo leste do Himalaia, tem a ensinar às empresas brasileiras sobre felicidade e bem-estar no ambiente de trabalho? Para um grupo de cerca de 100 gestores de RH, acadêmicos e especialistas que compareceram ao evento inaugural da Semana Mundial da Felicidade, que aconteceu na manhã desta segunda-feira no auditório da FIA Business School, em São Paulo, há muito a aprender com Thakur Powdyel, ex-ministro da Educação do Reino do Butão. Palestrante principal do evento organizado pela FairJob e pela World Happiness Foundation, Powdyel trouxe reflexões sobre o conceito de Felicidade Interna Bruta (FIB), criado nos anos 1970 pelo rei do Butão Jigme Singye Wangchuck HM, e como ele pode ser aplicado nas empresas.
“Enquanto o PIB mede apenas o crescimento econômico e material de um país, o FIB tem uma abordagem mais holística e sustentável, considerando também a preservação do meio ambiente e o bem-estar social e psicológico das pessoas como variáveis importantes do desenvolvimento de uma nação”, explicou Powdyel. Em 2009, o ex-ministro da Educação do Butão foi o responsável pela criação das “green schools” no país, integrando consciência ambiental e social, ética, estética e espiritualidade à formação dos jovens.
São quatro os pilares do FIB: a promoção de um desenvolvimento socioeconômico sustentável e igualitário; a preservação e a promoção de valores culturais; a conservação do meio ambiente; e o estabelecimento de uma boa governança. “Nosso país poderia ter ficado rico muito rapidamente, se não tivéssemos preocupação com os recursos naturais e com as pessoas. Mas decidimos preservar 60% da área de florestas, garantindo recursos para as futuras gerações. A integridade é a base de todas as relações”, defendeu Powydyel. Para ele, as empresas devem ter esta mesma integridade nas relações com seus colaboradores. “Sua organização está capacitando as pessoas a prosperar ou está diminuindo seu potencial? Elas se sentem pertencentes à empresa, ou estão à parte dela? Se cuidamos das pessoas, elas vão cuidar da organização”, acredita.
A ideia de que o desenvolvimento de uma organização deve ir além dos resultados financeiros e incluir o bem-estar e a segurança psicológica das pessoas no ambiente de trabalho, ganha ainda mais relevância diante da crescente crise global de saúde mental. Em 2024, o Brasil registrou mais de 470 mil afastamentos do trabalho por transtornos mentais – ansiedade e depressão estão no topo da lista dos motivos – segundo dados do Ministério da Previdência Social, um aumento de 68% em relação ao ano anterior.
Além disso, a partir de maio deste ano, entram em vigor as alterações da Norma Regulamentadora no 1 (NR-1), que exigirá das empresas a inclusão dos riscos psicossociais no Gerenciamento de Riscos Operacionais (GRO), no âmbito da gestão de Segurança e Saúde no Trabalho. Esse cenário irá aumentar a discussão do tema saúde mental dos colaboradores nas pautas estratégicas das organizações, bem como a preocupação com a segurança psicológica no ambiente de trabalho.
9 domínios do FIB para o bem-estar nas empresas
Fernando Brancaccio, CEO e fundador da FairJob, apresentou os nove domínios do FIB, que são usados para mensurar o grau de felicidade dos colaboradores em uma organização. São eles: bem-estar psicológico, uso do tempo, boa governança, vitalidade da comunidade, padrão de vida, saúde, educação e meio ambiente. “Empresas que estabelecem um ambiente de segurança psicológica e que mantêm um diálogo aberto com os colaboradores, têm maiores índices de engajamento e confiança. Eles contribuem mais, o que reverte em maior produtividade”, exemplificou, usando o item bem-estar psicológico como exemplo.
Especialista em neurociências, Brancaccio, que visitou o Butão para conhecer a aplicação da filosofia naquele país, é um defensor do princípio da suficiência. “No Butão não há luxo, mas também não há miséria. É o princípio da suficiência, ter o mínimo para todos. No trabalho que desenvolvemos com as empresas, medimos as relações de confiança e a percepção de bem-estar das pessoas no ambiente de trabalho. Qual é o mínimo para que todas as pessoas se sintam bem e produzam melhor? A cada ano, a empresa trabalha para melhorar seus indicadores internos”, disse. Além de usar os nove domínios do FIB para medir o grau de felicidade dos colaboradores, a plataforma FairJob relaciona esse indicador com o Net Promoter Score (NPS), o EBITDA e os indicadores ESG da empresa avaliada, obtendo um diagnóstico mais amplo do negócio.
Desde 2012, a Organização das Nações Unidas (ONU) promove estudos sobre a ciência da felicidade e proclamou o dia 20 de março como Dia Internacional da Felicidade.
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