Alex Allard, o megaempresário francês que quer transformar o Brasil
Por Françoise Terzian
Um francês que nasceu nos Estados Unidos, cresceu na África, ressuscitou símbolos do luxo de Paris e é um completo apaixonado pelo Brasil. Essa é uma das muitas definições que podem ser dadas ao genial Alexandre Allard, criador da Cidade Matarazzo, cenário que hospeda o Rosewood São Paulo, eleito o melhor hotel da América do Sul e o 27º do mundo na recém-divulgada lista do The World´s 50 Best Hotels. Em uma apresentação de 70 minutos que arrancou aplausos entusiasmados de uma plateia de CEOs durante o Fórum CEO Brasil 2023, no Guarujá (SP), realizado pelo Experience Club, Allard demonstrou ser mais do que um apaixonado pelo país.
O megaempresário pode ser definido como um ativista com causa. Anos atrás, quando admitiu não saber o que fazer com sua fortuna e foi ao encontro de Muhammad Yunus, o pai do microcrédito, saiu de lá com planos de ajudar a combater a pobreza. Em viagens pelo mundo, percebeu que também deveria abraçar o Brasil. “Era início dos anos 2000. O Brasil vivia o ápice do poder extrativista, com abuso da natureza e da floresta. Pensei como farei com que esse país vire o superpoderoso da proteção da natureza?”.
Engajado em transformar o país, com reuniões constantes com empresários e membros do governo daqui e de fora, ele desembarcou em solo nacional há onze anos para fazer do Brasil o grande poder verde do planeta. Recentemente, propôs ao governo criar uma força-tarefa para aproveitar esse momento único no qual a liderança do G20, por exemplo, chega em algumas semanas. “O Brasil tem o poder de virar o grande líder da mudança verde.”
Em conversa com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ouviu do próprio que ele fará as coisas acontecerem para escrever o plano de transição ecológica do Brasil. “Acabei de chegar de Nova York e apresentamos o plano apoiado por toda comunidade financeira do planeta, organizei muitas palestras para o ministro Haddad com o Michael Bloomberg. Jamais saí tão feliz pelo Brasil. Vi os grandes investidores do momento falando daqui”, contou.
Para Allard, “o Brasil não é mais o país do futuro, o futuro é agora.” Ele está trabalhando para organizar US$ 300 bilhões de investimentos.
Cidade Matarazzo
Uma vez no Brasil, Allard pensou em criar um lugar poderoso, para elevar a autoestima dos brasileiros. Assim nasceu a ideia do projeto Matarazzo. Mas ele demorou três anos para encontrar o lugar, um terreno praticamente abandonado, onde havia sido o hospital fundado pelas Indústrias Matarazzo.
Alguns anos de trabalho e muitos milhões de dólares depois, ele tem ali um hotel de luxo e vários restaurantes. No próximo ano, diz que terá oito dos dez melhores restaurantes do Brasil. “O meu ponto é preservar e ensinar aos brasileiros que o caminho da preservação é o caminho de geração de valor”, ensina.
O lugar seguiu seu objetivo. “É onde os brasileiros verão a riqueza que esse país tem a oferecer. Eu fiz uma pequena cidade onde você pode comer, se vestir, aprender, cuidar de você. Estou fazendo a nova medicina, um lugar para cuidar de você e da longevidade.”
Cerca de 11 mil pessoas trabalharam neste projeto, sendo 57 artistas brasileiros. Mais de 10 mil árvores foram plantadas, inclusive em varandas do edifício. “Eu queria fazer uma floresta vertical. Como 93% da Mata Atlântica desapareceu, quis criar um símbolo para lembrar a todo mundo o que é a Mata Atlântica”, afirmou.
Allard convidou os melhores arquitetos e designers do planeta para trabalhar ao seu lado. Nouvel, Stark, Ricciotti, Rhada, Benech, Triptyque, Campana, Malherbe, Ateliers de France, Kurdahl. “O Phillipe Starck fez 32 viagens comigo para São Paulo para mergulhar na cultura brasileira”, contou.
Fazer o bem, observa Allard, é a única forma de uma empresa sobreviver nos próximos 10 anos. Quem não faz isso cria dívida. Seguindo essa linha de raciocínio, ele criou dentro da Cidade Matarazzo “o maior ecossistema dedicado a fazer do Brasil a mudança verde desse planeta”. O nome? AYA Earth Partners, um hub que oferece mentoria e serviços para empresas de R$ 10 milhões a R$ 100 bilhões que querem entrar no caminho da regeneração da natureza. “A nova economia é uma obrigação para cada empreendedor. Ajudo eles trazendo a melhor tecnologia, melhores consultorias, financiamento e certificação”, explica. Hoje, ele orienta 70 empresas.
Allard comenta ainda que apoia pequenos produtores agrícolas, inclusive o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) “porque eles são pobres e os ajudamos a ter dignidade”.
Sorte ou determinação?
Allard costuma dizer que é um homem de sorte. Tudo que sempre criou deu certo. Mas pela sua história é visível que o sucesso veio após muita determinação. O maior exemplo é a Cidade Matarazzo, no qual ele conta ter enfrentado muita burocracia e negativas para erguer o complexo de luxo que vai muito além de um hotel.
Dos negócios mais bem-sucedidos do empresário, destaque para o fato de Allard ter cunhado o conceito de Customer Relationship Management (CRM).
Antes, em 1993, criou a Consodata, com um banco de dados compartilhado para as empresas. Foi um momento de enorme sucesso para um jovem de 30 anos e ele ganhou o prêmio de melhor engenheiro da Oracle do mundo pelas mãos de Larry Elisson, co-fundador da gigante americana da tecnologia.
Destaque ainda para a grife parisiense Balmain, comprada por Allard por US$ 500 mil e vendida 10 anos depois por US$ 500 milhões. Foi dele a ideia de uma profunda revitalização da marca fundada em 1946 pelo estilista Pierre Balmain.
Em Paris ainda, Allard comprou e deu vida nova ao clássico hotel Le Royal Monceau. O luxo, explica, é uma forma muito boa de resolver problemas. “A regra do luxo é a qualidade. As pessoas entendem que luxo é para os ricos. Isso é um grande erro. Luxo é sonho, é educação, é desejo de melhorar, desejo de gostar da criatividade, caminho de vida. É a pesquisa permanente da perfeição.”
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