Yes, You Can Talk about Mental Health at Work: Here’s Why… and How to Do It Really Well
Autora: Melissa Doman
Ideias Centrais
1 – O tema saúde mental ainda é um tabu, sobretudo nas empresas, mesmo quando as estatísticas apontam aumento crescente de diagnósticos. Há setores que ainda interpretam sinais de estresse mental e emocional ou de doenças mentais como fraqueza ou inabilidade para o trabalho, e a ausência de diálogo sobre saúde mental nas empresas afeta negativamente o ambiente do trabalho e a produção.
2 – As empresas precisam incluir o tema em suas culturas organizacionais. Em posição que lhes permite criar impactos sistêmico, gestores precisam aprender a abordar o assunto com suas equipes, colegas de trabalho devem se sentir à vontade para serem ouvidos e inspirar uns aos outros e fundadores de empresas podem estabelecer o tom da organização de cima para baixo.
3 – Por meio da apresentação de casos reais e dicas, o objetivo da autora é que as pessoas se permitam e se sintam à vontade para falar sobre o tema, melhorar a conexão entre as pessoas e contribuir para um melhor ambiente de trabalho sem julgamentos, portanto, mais agradável e produtivo. O livro propõe exercícios para estimular a reflexão.
Sobre a autora
Melissa Doman é psicóloga organizacional, ex-terapeuta clínica de saúde mental e especialista em saúde mental no trabalho. Ela se dedica a promover palestras para conscientizar sobre a importância da saúde mental no trabalho, e já atuou como consultora para organizações internacionais, nacionais e locais para diversas empresas em todos os setores e em vários países.
Parte Um: O porquê
Saúde mental: o que é isso e por que importa
– Doença mental é um transtorno que afeta humor, pensamento e comportamento e pode ser classificada como de baixo ou de alto funcionamento. Dificilmente uma pessoa com uma doença mental de alto funcionamento estará em um local de trabalho.
– De acordo com a Organização Mudial de Saúde, uma em cada quatro pessoas terá uma experiência durante a vida. Há mais de 300 diagnósticos de transtornos mentais listados no DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), que estabele critérios e classifica as doenças mentais.
– Saúde mental é uma soma do nosso funcionamento social, emocional e cognitivo básico e o espectro básico de emoções.
– Há muita dicussão e confusão sobre o que seria ser “normal”. É necessário aceitar que a saúde mental inclui um espectro de emoções tanto positivas como negativas, e as negativas fornecem sinais de que é preciso resolver uma situação com uma pessoa, atividade ou situação.
– Qualquer pessoa pode desenvolver doenças mentais por diversas causas, o que pode acontecer mais de uma vez. Mesmo com diagnósticos comuns, as manifestações são próprias de cada pessoa. É muito importante separar a doença da pessoa e não estigmatizar.
– Pessoas que atravessam episódios de saúde mental são estigmatizadas como “estranhas”, mas ter uma doença mental não é uma escolha e, uma vez diagnosticada, não se trata de encontrar uma cura, mas de compreender e promover a autogestão da pessoa com relação aos sintomas.
– Estresse é normal e nao é doença mental, mas estresse crônico e prolongado não tratado pode desencadear o adoecimento mental.
– A doença mental geralmente se desenvolve a partir de uma predisposição genética, trauma, abuso, negligência ou estresse prolongado, mas também como consequência de situações de vulnerabilidade, como pobreza.
– O ambiente em que crescemos ou as pessoas e relacionamentos que encontramos nos nossos anos de formação também podem influenciar a forma como uma doença mental pode se desenvolver.
Porque saúde mental importa no trabalho – desafiando as percepções no espaço de trabalho
– Saúde mental é tema de ambiente de trabalho e é preciso parar de separar a vida das pessoas do trabalho das pessoas. Saúde mental não é um tema pessoal e as empresas têm obrigação moral de promover o bem-estar dos funcionários.
– Saúde e Doença Mental não podem ser compartimentados.
– Uma doença mental não torna alguém fraco, improdutivo, preguiçoso. Muitas vezes pode ser um ponto forte no trabalho, ao ser um local para canalizar criatividade, foco. Pense na resiliência, tenacidade e resistência mental necessárias para gerenciar alguns estados mentais. Ao canalizar seus sintomas no trabalho, algumas pessoas se tornam altamente produtivos.
– Problemas de saúde mental ou doenças mentais podem impactar negativamente o trabalho. Por isso, conversas e conexões são tão importantes. Ao reconhecer que a saúde mental é uma questão no local de trabalho, criamos oportunidades para ajudar as pessoas quando elas precisam.
– Empresas, líderes e indivíduos devem entender que discutir saúde mental no trabalho é inegociável e obrigatório. Embora ainda seja um tabu, atualmente há cada vez mais espaço para este diálogo, principalmente depois da Covid-19.
– Setores que trabalham com criação, aqueles com alto nível de educação ou de serviços para clientes, como o automotivo e o varejo, estão mais abertos ao tema. Tecnologia, finanças e direito têm feito movimentos nesta direção, mas ainda com hesitação devido à grande pressão para performar alto e rápido, já que se espera que saibam trabalhar sob pressão. Alguns setores ainda associam sinais de estresse mental e emocional ou de doenças mentais com fraqueza ou inabilidade para o trabalho, como, por exemplo, medicina, governo, política e direito.
De onde viemos e onde estamos
– Convivemos com doenças mentais há milênios, com registro que datam de 6.500 a.C. No passado, as doenças mentais eram associadas a algo demoníaco ou defeituoso, as pessoas eram marginalizadas, o que levou a tratamento extremos e ao isolamento. Somente nos séculos 18 e 19 o tema começou a ser tratado com mais dignidade e apenas nos anos 1950 foi desenvolvido o conceito de terapia da fala e medicamentos foram regulamentados. As práticas de higiene mental se tornaram populares e atualmente se fala em prevenção.
– Atualmente há informação, mas não consciência. Para mudar, as pessoas precisam se informar e aprender a conversar sobre o tema, além de desenvolver habilidades e linguagem adequada.
– Assim como há a ciência e a arte de diagnosticar, falar sobre saúde mental é uma arte que vem com aprendizado, prática e tempo.
– Hoje a indústria do bem-estar ajuda a incentivar e a alavancar o tema no ambiente de trabalho e muitas empresas já aderiram. Mas o movimento de saúde mental tem um lado contraprodutivo: uma pressão para manter uma mente positiva e saudável, que ficou conhecida como “positividade tóxica”, que encoraja as pessoas a parecerem bem e felizes mesmo quando não estão, principalmente no ambiente de trabalho.
– Atualmente ficou popular usar o termo gatilho como uma forma sucinta de identificar uma reação emocional. O vasto uso da palavra é um exemplo do avanço na narrativa e de permissão social para falar sobre condições mentais de forma aberta.
Os obstáculos para o progresso no trabalho fora do trabalho
– Muitos fatores influenciam o conforto ou desconforto ao discutir saúde mental e doença mental, como gênero, cultura, etnia, religião, família de origem, meios de comunicação, conceitos, sistemas de crenças e experiências. É importante reconhecer e compreender essas diferenças.
– Historicamente as mulheres têm sido identificadas como o gênero mais emotivo, um dos maiores estereótipos de gênero que ainda perdura, talvez porque as mulheres são mais propensas a procurar ajuda.
– Desde que saúde mental se tornou um tema, as mulheres têm sido apontadas como mais predispostas a desenvolverem transtornos mentais e mais propensas a serem dramáticas e reativas. Foi desenvolvido até um termo médico para isso: histeria. Hoje se sabe que algumas doenças são mais predominantes em homens e outras, em mulheres. A discriminação só expõe as mulheres a uma carga ainda maior de estresse.
– Historicamente, espera-se que os homens sejam durões em todos os momentos e usem essa dureza como uma medalha de honra, o que também é motivo de etresse emocional e mental, por encorajá-los a esconder ainda mais suas emoções.
– Ser emocional, empático e estar em contato com os próprios sentimentos e bem-estar mental é um grande ponto forte, especialmente na liderança.
– Países com suas variadas culturas e etnias estão em diferentes estágios com relação ao tema saúde mental. O Brasil abriu caminho na América Latina para uma abordagem mais moderna ao reformar o Sistema de Saúde Mental nos anos 1990, descentralizando os serviços e estimulando comunidades terapêuticas, o que reduziu em 58% o número de hospitalização.
– Segundo o Jornal Brasileiro de Psiquiatria, embora a religião tenha benefícios positivos, como aumentar a resiliência, a paz pessoal e o propósito, pode ter impacto negativo na saúde mental devido aos níveis de culpa, dúvida, ansiedade, depressão e maior autocrítica.
– A mídia tem seu papel na estigmatização. Historicamente, doenças mentais geralmente são mencionadas apenas em contexto de crimes violentos.
Os desafios para o progresso no trabalho
– Relações de trabalho distantes, diferenças geracionais, compartimentalização, culturas de trabalho psicologicamente inseguras e vergonha influenciam o nível de conforto das pessoas para falar sobre saúde mental no ambiente de trabalho.
– A tendência de um estoicismo das lideranças é perigosa e inútil no esforço para criar culturas abertas no local de trabalho. É sim uma força para os líderes mostrarem suas vulnerabilidades e ter coragem de ser modelo na discussão da saúde mental.
– Uma boa liderança pode vir de qualquer lugar, e a liderança conduz a conversa. Onde quer que você esteja na hierarquia de sua empresa, você pode ser um líder quando se trata de defender a saúde mental no trabalho.
– Ser um líder neste espaço é uma oportunidade de criar ou redirecionar uma cultura no trabalho para valorizar a saúde mental. Não importa qual seja a sua função, lembre-se disto: o que você diz, como diz e o que faz é importante.
– É importante dividir sobre a própria saúde mental no trabalho e oferecer apoio para conversar com colegas.
– Às vezes faltam recursos para investir na mudança cultural.
– Todos são obstáculos solucionáveis, desde que haja disposição, empatia e boas intenções.
Parte 2 – O Como
Como falar sobre a sua saúde mental no ambiente de trabalho
– Seja honesto consigo mesmo sobre se você está pronto e, quando estiver, escolha como, com quem e por que compartilhar. Destaque seu objetivo e seu porquê: fale claramente sobre o que você precisa, o que deseja e como as pessoas podem apoiá-lo.
– Explique suas preocupações ao abordar o tema. A responsabilidade pessoal é importante, portanto, faça seu contrato de confidencialidade. Você tem influência sobre como esta conversa vai se desenrolar.
– Aborde a conversa com compaixão, empatia e sem julgamento. Não há problema em se emocionar.
– Não presuma que alguém saberá exatamente o que você quer dizer.
– Observe sua linguagem corporal.
– Não use a saúde mental como “desculpa” por deixar cair a bola em algo não relacionado.
– Se alguém te procurar, agradeça. Se você não estiver confortável, defina o limite. Se a conversa não correr bem, tudo bem. Faça um plano para seguir em frente. Aprenda a confiar novamente.
– Aja como age com qualquer pessoa quando estiver falando com alguém sobre sua saúde mental, mas se a reação da pessoa for inesperada, não esqueça de perguntar se está tudo ok.
– Linguagem é importante. O uso banal dos sintomas e diagnósticos podem ser destrutivo e contribuir para que as pessoas que têm problemas de saúde mental, ou mesmo estresse crônico, tenha ainda mais medo de falar.
– As novas gerações são mais propensas a falar sobre o tema. Estudo de Harvard (2019) revelou que os jovens se sentem frustrados porque saúde mental ainda é um tema tabu, e que 60% dos entrevistados nunca falaram sobre sua codição mental no trabalho. Menos da metade disseram que saúde mental era uma agenda de suas companhias e um número ainda menor disse que seus gestores abordavam o tema. A pesquisa também revelou que 86% deveriam investir nesta cultura nas empresas e que os mais jovens estão dispostos a procurar outro emprego se sentirem que não podem falar sobre o assunto.
– Metade dos millennials e 75% dos Gen Z já deixaram alguma função/cargo por questões de condição mental em comparação com 34% do restante dos entrevistados.
Como conversar sobre saúde mental e apoiar colegas
– Defina suas expectativas antes da conversa: você pode causar um impacto, você não é o terapeuta e não presuma que seu colega tem uma doença mental.
– Comece a conversa criando espaço, estando atento ao tempo e ao lugar, concordando com o não, explique o porquê e comece com perguntas simples.
– Ouça ativamente, preste atenção, pergunte que tipo de apoio você pode oferecer, não julgue, faça perguntas reflexivas e esclarecedoras, normalize.
– Seja empático. Ofereça incentivo, apoio, pensamentos ou histórias alternativas de outras pessoas somente se seu colega disser que isso será útil.
– Não preencha o silêncio com coisas inúteis e não use linguagem exagerada. Não dê conselhos. Procure entender.
– Entenda o que fazer se seu colega compartilhar pensamentos suicidas, envolva recursos e protocolos de emergência imediatamente.
– Elogie o colega pela coragem de trazer o assunto. Seja disponível.
– Se o colega estiver tendo um episódio, ele pode perder a conexão com seu centro. Portanto, não adianta pedir calma ou dizer anime-se para uma situação de depressão. Isso não só não ajuda como não valida a experiência da pessoa. Eles fariam isso, se pudessem.
Líderes e gerentes: como estabelecer o tom e discutir saúde mental com sua equipe
– Antes de falar sobre saúde mental no trabalho com sua equipe, verifique sua condição mental e reflita sobre suas próprias percepções ou preocupações sobre a discussão do tema no trabalho.
– Esclareça que é seguro falar sobre saúde mental. Construa confiança compartilhando sua história de saúde mental no trabalho.
– Procure reduzir o medo da equipe de falar sobre o tema, sendo explícito sobre seus objetivos e examinando o que pode estar atrapalhando sua equipe.
– Ofereça apoio, mas mantenha os limites e lembre-se do seu papel.
– Não assuma que devido a uma doença mental ou estresse as pessoas não podem fazer seu trabalho.
– Veja o momento certo de falar. Não mencione a saúde mental pela primeira vez em uma revisão anual, por exemplo.
– Seja claro sobre por que você está abordando a questão com um membro da equipe, para que suas intenções não sejam mal interpretadas.
– Fique bem se as pessoas não quiserem discutir saúde mental tendo você como gerente. Respeite a privacidade delas, pois você ocupa uma posição de influência. Seja claro sobre possíveis próximos passos e se isso incluirá outras áreas.
– Trate doença mental como trataria qualquer outra doença.
– É obrigação moral da empresa zelar pelo bem-estar dos funcionários.
– Bilhões são perdidos anualmente em consequência de adoecimentos, ausências, baixa produtividade. São estimadas 200 milhões de ausências por ano, com um impacto econômico enorme.
Parte 3 – Saúde mental no ambiente de trabalho em tempos difíceis
– O estresse prolongado, a pandemia da Covid-19 e a contínua desigualdade racial são fatores de estresse significativos que impactaram o mundo em escala global.
– Esses estressores estão sendo trazidos para o local de trabalho e devem ser abordados. Você pode causar impacto por meio da conscientização e da criação de espaço de trocas.
O Impacto da Covid-19
– Durante o Covid-19, fomos organismos em estado de angústia. O impacto foi físico, psicológico, comportamental, financeiro, social e profissional.
– O impacto psicológico foi claro em muitos níveis: perda de contato físico, desenvolvimento de ansiedade e aumento da Síndrome do Impostor.
– Lembre as pessoas sobre os fatores positivos, reconheça as coisas ruins e permaneça conectado em um ambiente virtual.
– Mantenha-se atualizado, aumente o seu conhecimento sobre saúde mental.
O impacto contínuo da desigualdade racial na saúde mental
– A comunidade negra passou por seu próprio conjunto de emoções emocionais de base racial que foram levados ao trabalho. Conscientize-se desses estressores e da dor e da frustração no ambiente de trabalho.
– Os fatores de estresse incluem, mas não estão limitados a: sentir-se silenciado e abandonado, pressão para “manter a calma no trabalho”, ser minoria. Esteja consciente dos tipos de racismo: sistêmico, interpessoal e internalizado.
– Se você tem uma história para compartilhar, considere compartilhar com eus colegas para que eles possam aprender.
– Procure compreender e normalizar as conversas sobre racismo. Crie espaço para aprendizagem e discussão no trabalho, porque faz parte da conversa sobre saúde mental no trabalho.
– Liste os recursos e a rede de apoio disponível e se esforce para se educar plenamente.
Nota Final: Qual será o seu impacto?
– Você não é um grão de areia no oceano, mas uma pedra sendo jogada em um lago, que fará ondulações.
– Mesmo que você seja apenas uma pessoa, o que você faz afeta as pessoas ao seu redor. Mais do que você imagina. O tamanho do impacto que você causa depende de você, mas você precisa desempenhar seu papel no movimento de saúde mental no trabalho em direção à mudança.
– Quanto mais pessoas fizerem isso no local de trabalho, mais rápido a mudança virá. As gerações atuais e futuras se beneficiarão da forma como trabalhamos juntos para mudar agora as narrativas no mundo profissional.
– Discussões sobre saúde mental e doenças mentais se tornarão tão comuns no ambiente profissional quanto falar sobre saúde física, eventos atuais ou família.
– Está tudo bem não estar tudo bem.
– Saúde mental é a próxima evolução em diversidade e inclusão.
Ficha Técnica
Título: Yes, you can talk about mental health at work – here’s why and how to do it really well
Autora: Melissa Doman
Editora: Trigger
Primeira edição: 2021 (Welbeck Balance)
Resumo: Claudia Dianni
Edição: Denize Bacoccina
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