Inovação

Muito além da tecnologia: saúde social, solidão e IA dominam as discussões do SXSW 2025

Flavio Pripas Direto do SXSW

Flavio Pripas

Participo do SXSW desde 2014. Esta edição de 2025 é a minha 11ª participação (não estive presente apenas em 2020, quando o evento foi cancelado devido à pandemia). O SXSW tornou-se obrigatório na minha agenda anual. Uso esses dias intensos para refletir sobre acontecimentos mundiais, identificar novas tendências, estabelecer conexões importantes e traçar perspectivas claras sobre quais tecnologias, modelos de negócio e empresas têm maiores chances de sucesso no futuro – insights essenciais para minha atuação como investidor em Venture Capital.

O que mais me encanta no SXSW é que o evento não aborda a tecnologia pela tecnologia. Pelo contrário, ele explora profundamente o impacto da tecnologia na sociedade, as relações humanas e grandes questões e preocupações com nosso planeta e além (adoro as sessões da NASA, sempre inspiradoras).

Este ano, chegamos em Austin com a Missão Experience Club + PROS no SXSW 2025, reunindo mais de 100 executivos de grandes corporações, empreendedores e empresários renomados. Logo no primeiro happy hour de integração, ainda antes do início do evento oficial, fui provocado por Flavio Jansen (fundador do Submarino e membro da missão), que me perguntou qual seria o grande tema desta edição. Admiti, honestamente, que ainda não sabia. Pedi três dias para descobrir e trazer uma resposta precisa.

De fato, o SXSW tradicionalmente tem um tema central que permeia diversas palestras e conversas durante o evento. Nos anos anteriores, já vimos temas como manipulação genética, redes sociais emergentes, IA Generativa, metaverso e criptomoedas dominando as discussões. Neste ano, porém, não estava tão evidente logo de cara qual seria essa linha condutora.

No entanto, já na palestra de abertura tivemos uma pista importante. Kasley Killam, especialista renomada em saúde social e autora premiada do livro The Art and Science of Connection, junto com a especialista em ambiente de trabalho Amy Gallo, trouxe à tona o conceito de “saúde social” (social health). Segundo Killam, estamos diante de uma epidemia que poderá superar em gravidade até mesmo as questões relacionadas à saúde mental, tão discutidas nos últimos anos pós-pandemia. Para Killam, a qualidade das relações interpessoais está diretamente ligada à qualidade de vida, alertando especificamente para o aumento preocupante da “epidemia de solidão”. Ela destacou como cada vez mais pessoas vivem isoladas, escondidas atrás de telas ou em reuniões via Zoom, evitando relacionamentos reais e até buscando refúgio emocional em agentes de inteligência artificial – uma realidade chocante em que indivíduos já chegam a “namorar” a IA.

Esse tema da solidão emergiu em diversas palestras subsequentes. Amy Webb, durante o lançamento do esperado relatório anual do Future Today Institute, mencionou repetidamente o quanto as pessoas estão terceirizando suas vidas para inteligências artificiais, apontando para consequências negativas inevitáveis. Webb enfatizou que, apesar da IA ser uma grande facilitadora, precisamos evitar a dependência excessiva e garantir que a tecnologia potencialize a capacidade humana ao invés de substituí-la.

Scott Galloway, em sua tradicional palestra sobre tendências de mercado, também enfatizou a questão da solidão. Ele comentou como a polarização política extrema entre direita e esquerda tem afastado cada vez mais as pessoas, fazendo com que optem por se “cancelar” ao invés de dialogar. Galloway mencionou ainda que a redução no consumo de álcool entre os jovens, algo positivo do ponto de vista da saúde física, pode inadvertidamente estar contribuindo para o isolamento social, uma vez que o álcool historicamente desempenhou um papel de catalisador social.

Outro destaque foi a palestra do Dr. Peter Attia sobre longevidade. Além dos aspectos tradicionais da manutenção da saúde (nutrição, exercícios e suplementos), Attia enfatizou fortemente a importância das conexões sociais como um fator crítico para viver melhor e por mais tempo. Estudos apresentados por ele mostraram claramente que idosos com círculos sociais ativos têm melhor qualidade de vida e menos incidência de doenças.

Em praticamente todas as sessões relacionadas à Inteligência Artificial e à colaboração entre humanos e máquinas, especialistas destacaram repetidamente que a IA deve ampliar o potencial humano e não substituí-lo. Essa mensagem foi reforçada constantemente, ecoando as preocupações iniciais apresentadas por Webb.

Apesar do tom, por vezes alarmista, saio desta edição do SXSW com um olhar otimista para o futuro. É fundamental abordarmos imediatamente a epidemia da solidão e encontrarmos formas efetivas de promover conexões reais. Estamos diante de um momento histórico de oportunidades tecnológicas únicas. Acredito firmemente que antes do fim desta década teremos acesso a tecnologias revolucionárias, como a Inteligência Artificial Geral (AGI), capaz de liberar ainda mais nossa criatividade; a computação quântica, que permitirá simulações complexas e inéditas, acelerando a descoberta de tratamentos médicos revolucionários; e fontes de energia limpa inovadoras (solar, nuclear), que garantirão abundância energética para um mundo cada vez mais necessitado.

Além disso, estamos testemunhando avanços incríveis nas explorações interplanetárias, o que poderá abrir novos caminhos para o crescimento da humanidade como um todo.

De fato, é um privilégio viver e atuar ativamente neste período excepcional da história humana.

Flavio Pripas é sócio da Staged Ventures, partner do Experience Club US, investidor, empreendedor e inovador-serial. Em 2012 foi selecionado como uma das 100 pessoas mais criativas nos negócios pela Revista FastCompany. Projetou, liderou e foi membro do conselho do Cubo, um dos principais hubs de inovação da América Latina criado para fomentar o empreendedorismo brasileiro. Com mais de 25 anos de experiência em tecnologia, negócios e empreendedorismo, Flavio usa sua experiência para catalisar a transformação digital e a inovação em startups e grandes empresas.

 

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